Prefácio

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Era um dia normal em Deadwood... Bom, quase normal pra falar a verdade.
Na cidadezinha da Dakota do Sul, estava tudo bem calmo, mas na sua estrada, bem lá no laboratório...
-122, hoje é um dia muito especial - começou Will, para a garotinha de doze anos que abraçava seus joelhos na cama - Sabe por quê? Hoje nós vamos além!
A menina se mexeu na cama, pra ser mais realista, na maca, e olhou para o cientista de cabelos grisalhos.
-A banheira?
O homem assentiu, se referindo ao tanque de água, que eles usavam para o transporte entre as dimensões.
A criança de número 122 foi levada para colocar uma roupa apropriada para isso e depois voltou para perto do cientista.
-Eles não vão te machucar, estão aqui só para observar - falou Will, colocando a mão no ombro da garota e a conduzindo para a "banheira".
A menina estava com medo, mas era corajosa o suficiente para fazer qualquer coisa.
Um capacete para respiração foi colocado em sua cabeça raspada, e ela foi para dentro do tanque minúsculo.
O cientista deu um último aceno para ela, antes de tudo ficar escuro dentro da água.
122 fechou os olhos e se concentrou, indo até a outra dimensão. Não era a primeira vez que havia ido lá, mas da última não tinha conseguido fazer o que queriam, tinha ficado fraca.
Nesse, ela estava convicta de que conseguiria. Mesmo com medo, ela queria deixar Will orgulhoso, achando que ele era seu pai. Mal sabia ela que esse sujeito tinha acabado com a vida dos pais dela!
Andando pra lá e pra cá no escuro, sem nenhuma luz naquela dimensão, ela ouviu algo se mexendo e continuou caminhando, por mais medo que tinha. E quanto mais a coisa se aproximava, mais seu coração pulsava forte. O barulho vinha de um Stroncher, criatura horrorenda, que devorava algo.
A missão era tocar o corpo do monstro, não me pergunte pra que, mas não ser comida por ele.
122 estendeu o braço para toca-lo, receosa, e tocou, a pele gosmenta e grudenta dele.
O bicho, que saboreava fortemente seu banquete, se virou pra trás, berrando como um sei lá o que, assustando a menina.
Era como brincar de pega-pega, só que quando te pegavam, você morria.
122 correu, correu muito pra conseguir se distanciar do monstro, mas não tinha escapatória, senão gritar, para tirarem logo ela dali.
Mas nossa menina não gritava como nós, ela podia ocasionar um terremoto com seu grito. E foi exatamente o que aconteceu.
As paredes do laboratório começaram a rachar, e os trabalhadores saíram correndo como covardes. Provavelmente tinham esquecido dela, só que ela não podia sair dali sozinha, precisava sair da água primeiro.
O tanque se moveu com os tremores, e acabou caindo (pra você ver a força da garota) e se estilhaçado no chão.
122 se livrou do capacete e saiu correndo dali, com sangue no rosto e nas pernas
A rachadura na parede havia se tornado um buraco, uma bela oportunidade para ela.
Sorte que suas roupas de hospital estavam bem perto, assim ela não teria que sair com a roupa de entrar no inferno, se bem que era quase a mesma coisa.
Com todos afobados com o acontecimento, ela saiu do laboratório sem nenhum impedimento, e conseguiu abrir um buraco na grade com a mente, por mais que estivesse fraca.
Ela andou um pouco pela floresta e acabou se sentando em um lugar, que nem ela sabia onde era, pra se recompor e chorar, já era rotina fazer isso, mas não fora da prisão.
Sim, é ilegal aprisionar crianças, mas eles tinham parceria com o governo, e ela era órfã, não tinha ninguém pra ficar do lado dela.
As lágrimas rolavam pelo rosto da frágil garota que, apesar de todo o poder, ainda era só uma criança, com medo.

***

Depois de algumas horas, 122 acordou, exatamente onde tinha dormido. Com sangue no corpo e dores também, feridas não só externas, mas internas com certeza!
Ela andou, seguindo o barulho dos carros.
Pé ante pé, esmagando as folhas barulhentas do outono. 122 tremia, olhava para os lados todo tempo, temendo que a estivessem perseguindo.
Mas não estavam. Com tantas crianças aprisionadas, nem dava pra lembrar de mais um número...
Ela chegou à beira da estrada, onde carros apressados passavam. Sem saber o que fazer, ela atravessou, ignorando os carros em alta velocidade.
Buzinas ecoavam em seu ouvido, assustando a pequenina, que nem se incomodava em andar mais rápido.

***

-Tá bom, Teresa! Já ouvi que o gato mijou aqui fora! - Gritou Ashley, enchendo um balde de água - Manda a torneira ir mais rápido aqui!
Ashley esperava o balde encher, sem paciência, batendo o pé, como se fosse apressar a torneira.
Contrariada, ela abriu a porta dos fundos do café e jogou a água no chão, sentindo o odor do qual sua amiga lhe falara cinco minutos mais cedo.
Ela gostava de ficar nos fundos por alguns minutos, apenas olhando os carros passarem e... Buzinarem?! Não, aquilo não era comum.
Era uma garota atravessando a estrada, com um aspecto terrível, como se tivesse perdida e não soubesse o que fazer.
-Céus... - Ashley largou o balde e correu para o meio da estrada, com a menina.
Ash pegou em sua mão, que a menina arrancou na hora.
-Escuta, ficar no meio da estrada não é uma boa idéia, a não ser que seja uma espécie de suicídio - ela falou, andando rápido até o acostamento.
A menina, com expressão assombrada e muito sangue, apenas a seguiu, observando a moça atentamente.
-O que você tava fazendo sozinha? Cadê seus pais? - as perguntas saiam dos lábios de Ashley, que estava atônita - Vem, vou levar você lá pra dentro.

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