O Gato Mijão

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Um saco! Minha manhã e começo de tarde se resumiam nisso!
Não que eu não gostasse de trabalhar com minha melhor amiga e minha tia... Não era isso... Mas os clientes eram muito argh!
-Senhora, os recheios são de pizza e chocolate, não tem de queijo - expliquei, pacientemente, pela milésima vez.
-Onde já se viu um lugar que vende croissant não ter croissant de queijo?! - Resmungou a mulher.
Respirei fundo e expirei, tentando manter a calma.
-Quer provar nosso pão de batata? Ele é recheado com catupiry, que é quase um queijo - sugeri, prestes a desistir.
A mulher levantou o olhar do cardápio e sorriu, assentindo. Ela parecia uma ave... Daquelas bem espalhafatosas!
Anotei seu pedido, dando um pequeno sorriso e voltei para o balcão, onde minha tia e Teresa trabalhavam.
-Um pão de batata, pra ave da mesa 4 - rolei os olhos, fazendo-as rir.
-Ok, dona especialista em aves! - Riu Teresa, tocando a ponta do meu nariz com o indicador.
Sorri e fui atender o senhor da mesa da janela, que observava o movimento da estrada.
-Boa tarde, senhor - sorri, estendendo um cardápio pra ele - Pronto para fazer seu pedido?
O homem virou a cabeça para mim e abriu o cardápio, com a expressão indecifrável, chegava a dar medo!
-Um expresso e um pão de queijo, por enquanto - falou ele, me devolvendo o cardápio.
Anotei, com a pior caligrafia que eu poderia fazer, e voltei ao balcão.
-Pão de queijo e expresso, tia Maggie, mesa da janela - falei, agradecendo mentalmente por Josh estar chegando e meu turno estar acabando.
Josh e Allyson eram do turno da noite, ficavam até as seis da manhã no café. Minha tia ficava fora de manhã, e eu e Teresa dávamos conta... Eu trabalhava bem ao lado daquela ruiva!
-Ash, um gato mijou lá fora, você pode limpar? - a ruiva sorriu pra mim, enchendo uma xícara com café e colocando numa bandeja.
Rolei os olhos, passando pelas portas da que davam pra pequena cozinha.
Não era pequena do tipo ovo, era pequena do tipo aqui só cabem umas seis pessoas se acotovelando!
Peguei um balde de plástico em baixo da pia e o coloquei debaixo da torneira.
-Ashley, o gato mijou lá faz umas duas horas, o negócio já deve ter fermentado! - Teresa berrou, enfiando só a cabeça na cozinha.
-Tá bom, Teresa! Já ouvi que o gato mijou aqui fora! - Gritei, esperando o balde encher - Manda a torneira ir mais rápido aqui!
Comecei a bater meu pé direito, como se fosse uma bomba pra a torneira ir mais rápido, mas nem por decreto ela ia!
Finalmente o balde encheu, eu desliguei a torneira e marchei lá pra fora, onde tava um cheiro insuportável! A ruiva invocada tava certa!
Por que as tarefas nojentas ficavam sempre comigo? Num dia aí tinha sido uma barata, já teve até aranha que eu matei, agora o mijo do gato... Qual seria a próxima?
Joguei a água no asfalto dos fundos do café.
Quase todo dia eu vinha aqui fora, observar o movimento dos carros, o canto dos pássaros e... As buzinas?!
Buzinas não eram comuns, não naquela estrada.
-Céus... - larguei o balde no chão e corri para o meio da estrada.
Se tratava de uma criança, uma criança bem machucada, que atravessava a estrada sem nem olhar pros lados.
A cada buzina, o serzinho dava um pulo, estava visivelmente assustado, certeza!
Peguei a mão dele, ou dela, não dava pra saber pelo cabelo raspado, mas ele arrancou na hora.
-Escuta, ficar no meio da estrada não é uma boa idéia, a não ser que seja uma espécie de suicídio - falei, andando rapidamente para o acostamento.
A criança me seguiu e o som das buzinas cessou, me forçando a ouvir meus batimentos acelerados.
O que raios essa criança tava pensando ao atravessar uma estrada?! Será que tinha se perdido dos pais? Fugido de casa? Será que tinham machucado ela?
A última pergunta era bem óbvia, já que ela tinha sangue escorrendo do nariz e das pernas.
-O que você tava fazendo sozinha? Cadê seus pais? - Perguntei, atônita - Vem, vou levar você lá pra dentro.
Era uma garota. Tinha traços delicados demais para ser um garoto...
Abri a porta dos fundos, fazendo sinal para ela entrar.
Ela hesitou e, trêmula, entrou na cozinha.
Respirei fundo e me abaixei, para ficar do tamanho dela.
-Eu sou a Ashley - falei, sorrindo fraco - Como você chama?
A menina me mostrou o pulso dela, onde estavam gravados os números 122.
-Cento e vinte e dois? O que é isso?
Ela tocou no número e em seguida nela mesma.
-Ah, esse é seu nome! - franzi as sobrancelhas e me levantei, pegando um sorvete no congelador - Tá com fome, né?
Dei o pote pra garota e uma colher.
-Eu já venho, tá? - Falei, entrando no café - Teresa! Preciso de você!
Teresa me olhou e eu a puxei pra dentro da cozinha, voltando para a frente da garota.
-Meu Deus... Ashley, você tá dando sorvete pra ela?! Ela tá em fase de crescimento, besteira faz mal!
Enquanto Teresa brigava comigo, 122 se encolhia, tinha se sentado no chão, e agora observava as duas doidas brigando.
-Ela tá machucada, Teri! - Retruquei - E com medo!
Teresa passou as mãos no cabelo, tirando a touquinha preta.
-Precisamos de uma solução... Ash, faz um chá pra esquentar ela, vou preparar uma omelete - Teri falou, abrindo a geladeira.
Assenti, botando água pra ferver.
-Ela falou que chama cento e vinte e dois - sussurrei para Teresa, que franziu o cenho.
-E eu sou o Quatro do divergente! - Riu ela fraco, ligando a outra boca do fogão.
Rolei os olhos para Teresa e me sentei na frente da garota, sorrindo fraco.
-Olha, eu entendo que você tá assustada e... Com fome, mas nós só queremos ajudar você e pra isso precisamos da sua ajuda... - Mordi os lábios - Você entende o que eu quero dizer?
-Sim - ela sussurrou, com uma voz bem fininha.
Sorri largo e me lembrei da água fervendo.
-Vou pegar um chá pra você e a gente conversa! - Falei, me levantando num pulo.
Então ela sabia falar! Que ótimo! Já era um progresso!
Teresa estava terminando o omelete quando eu enfiava um sache de chá na caneca.
-Será que ela vai falar alguma coisa? - Indagou a ruiva, mordendo os lábios.
Dei de ombros, esperando a água pegar o gosto das ervinhas de chá.
-Tomara que fale - falei, jogando o sache no lixo e indo até ela, junto com Teri.
Me sentei no mesmo lugar e estendi a caneca pra ela.
-Tá quente, toma cuidado - falei, assim que ela o pegou.
Teresa se sentou ao meu lado e segurou na bainha do meu avental, que eu nem lembrava da existência.
122 pegou a caneca e virou na boca, provavelmente queimou a língua, porque o rosto dela ficou vermelho.
Ri fraco e peguei a caneca.
-Tem que esfriar - Teresa falou - Assoprando.
Assoprei o chá, pra mostrar como era e reparei na perna ensanguentada da garotinha.
Passei de leve os dedos, mas ela se encolheu mais.
- Sabe, você não precisa ter medo de nós, não gostamos muito de sangue de garotinhas... A não ser que tenha gosto de chocolate, aí é outra história! - Teresa estendeu o prato com omelete pra ela.
-E isso precisa ser limpo logo, antes que infeccione - falei, tentando manter a calma - Precisa confiar em nós.
É, realmente minha tarde ficou mais interessante, e mais desafiadora também.
O nariz da menina tinha sangue seco escorrido, as orelhas também. E eu me perguntava o que diabos tinha acontecido com aquela criança pra ter tanto sangue!
-De onde você veio, querida? - Teresa perguntou, com voz terna e carinhosa.
Nem parecia a mesma pessoa que tava gritando por causa do mijo do gato...
Ela não respondeu, só se encolheu mais.
-Teri, vamos levar ela pra casa - falei para minha amiga - Nosso turno tá acabando e se o Josh ver ela aqui, vai chamar a polícia. Lembra como ele era fifi na escola! Vou avisar a tia Maggie, e nós saímos.
Me levantei arrumando o avental e a saia preta. Como previsto, o carro de Josh estava estacionando bem nessa hora.
-Tia, eu e Teresa vamos pra casa - arregalei os olhos, em sinal de alerta - Me liga assim que possível pra eu te explicar, tá?
Dei um beijo na testa da minha tia e voltei pra cozinha.
Teresa levantou e eu estendi a mão para a menina.
-Vem com a gente, lá tem comida...
A menina ignorou minha mão e se levantou sozinha.
Coloquei a caneca e o prato na pia e peguei o pote de sorvete pra levar pra casa, peguei um novo também, estávamos precisando fazer compras!
Nossa casa não era muito longe do café, mas como era perigoso, tínhamos que ir de carro.
-Você dirige e eu vou com ela atrás? - Perguntei à Teresa.
Teri abanou a cabeça para os dois lados, entrando no banco de trás do carro.
-122, a Teresa vai com você atrás, tudo bem? - Falei para a garota, que encolheu os ombros - Ela tem essa cara de maluca, mas é um amor, ela não vai fazer mal pra você...
Ela entrou no carro e eu fechei a porta, entrando na frente.
-Meu, Teresa, arruma o banco quando você dirige o carro! - Falei, pela milésima vez - Eu sou mais alta que você, fica um pouco apertado o seu jeito de deixar o banco pra minha pessoa.
Teresa rolou os olhos, e eu a fitava pelo espelho retrovisor.
-Tá bom, sra pernas longas - Retrucou, escondendo um sorriso.
Puxei o freio de mão e comecei a conduzir o carro pelo caminho que eu sabia de cor e salteado.
No banco de trás, 122 estava com a cabeça encostada no vidro da janela, olhando para a estrada, e abraçada com seus joelhos.
Apertei meus lábios, pensando no que íamos fazer com essa criança... Se fosse eu, eu não gostaria que me entregassem pra polícia, se tivesse fugido.
Virei a direita, na rua da casa da minha tia, minha também, há muito tempo.
-Chegamos - sorri fraco, pegando o sorvete, minha bolsa e a de Teresa no banco do passageiro, onde deixávamos durante o expediente.
O carro era meu, comprado com uns meses de salário e uma parte da herança dos meus pais.
Bom, a história é a seguinte: Eu tinha três anos e meus pais foram viajar, só que, na volta, o carro deles bateu num caminhão e... Vocês já sabem o fim da história... Eu fui morar com minha tia, estou lá até agora!
Abri a porta de 122, que hesitou em sair do carro.
-Sério, não vamos te machucar... - falei, baixinho, sentindo a mão de Teresa em meus ombros.
-É exatamente o contrário, vamos cuidar de você. - afirmou ela, apoiando a cabeça nos meu ombro.
Concordei com minha amiga, dando espaço para a garota sair do carro.
122 dobrou os lábios, antes de esticar as pernas e sair do carro.
Dei um sorriso amigo pra ela e fechei a porta do carro, travando-o.
-Lar doce lar - Teresa sorriu, abrindo a porta da casa.
Morávamos num lugar afastado da cidade, isso era bom... Não tinha tanto barulho, nem vizinhos fofoqueiros e nem a agitação!
-Bem vinda - falei, entrando por último e fechando a porta.
Depois de um instante de silêncio, em que 122 observava a casa, larguei minha bolsa no sofá da sala.
Teresa estava na cozinha, pegando o kit de primeiros socorros, que ficava no armário do alto, aquele que ela não alcançava.
-Ash! - Ela berrou - Pega a caixinha pra mim?
Ri fraco, indo até ela e pegando a caixa sem nenhum esforço.
-Baixinha - provoquei, levando um beliscão - Aí, chatonilda!
Levei a caixa para a sala e fiquei apoiada na parede, observando a menina que examinava os porta-retratos com curiosidade.
Sorri, vendo de longe a foto de minha mãe e minhas tias. Minha avó teve quatro filhas, mamãe era a mais velha, Margareth vinha depois, tia Maggie e Marie. Tia Margareth e Marie moravam longe, raramente faziam visitas, nem nos feriados... Só minha avó, que vinha vez Oi outra, mas a velhinha gostava mesmo era de viajar pelo mundo! Acho que ela já fez mais viagens que eu na minha vida toda!
-Bastante mulher, né? - Falei, me aproximando e pegando a foto na mão.
Ela deu um sorriso de lado, ainda olhando a foto.
-Olha, eu sei que deve dar medo estar com duas loucas numa casa... Mas você não pode ficar com esses machucados - comecei, me abaixando e olhando nos olhos dela - Eu prometo que não vou te machucar. Pink promisse!
Ela franziu as sobrancelhas.
-Promete? - Perguntou, baixinho.
-Prometo. Promessa é um acordo que nada pode quebrar... - falei, sem saber se tinha esclarecido.
Sentei no sofá e bati no acolchoado ao meu lado para ela se sentar.
122 se sentou, me olhando atentamente. Ela era boa em observar.
Peguei um algodão e o encharquei de soro, aproximando da pele dela.
Ela foi pra trás quando o algodão ia tocar a pele dela.
-Faz assim, segura essa almofada - falei, pegando a almofada com fronha de crochê ao meu lado e dando pra ela - Aperta ela bem forte, e se doer, pode dar ela na minha cabeça!
Ela segurou a almofada e assentiu, enquanto eu tentava limpar o rosto dela novamente.
Passei o algodão debaixo de seu nariz, onde o sangue já estava seco, quase formando rachaduras, tipo aquelas paredes craquelê.
Ela olhava em meus olhos, enquanto eu molhava outro algodão para passar em sua orelha.
-Sabe, eu não acharia ruim se um dia você me contasse como saiu sangue de tantos lugares hoje... - brinquei, sorrindo fraco.
Teresa tinha ido tomar banho, ela tinha encasquetado com o cheiro do mijo do gato, cruz credo!
A garotinha deu outro sorriso de lado, segurando firme na almofada em seu colo.
Coloquei a caixinha branca no chão e desci do sofá, sentando no tapete, para ver os ferimentos da perna dela.
-Você se machucou com vidro! - Falei, surpresa - Cara, isso deve estar doendo muito!
Molhei outro algodão com soro e segurei-o na minha mão.
-Pode ser que esse doa... Se arder, doer ou qualquer coisa assim, me avisa, ok? - Pedi, procurando seu olhar.
Ela assentiu, segurando mais forte na almofada.
Passei cuidadosamente o algodão na perna dela, esperando que uma almofada voasse na minha cabeça. Mas ela não voou, nenhuma vez. Eu limpei todo o sangue que tinha nela e ela não quis me bater nenhuma vez... Eu teria me batido!
Guardei as coisas na caixinha e sentei do lado dela no sofá.
-Você é corajosa sabia? - Sorri, segurando a caixa - Viu como eu não quero te machucar?
Ela sorriu torto e abraçou os joelhos no sofá.
-Eu vou pegar roupas limpas pra você, aí você coloca depois de tomar um banho - falei, indo guardar a caixa na cozinha - Você pode até dormir no meu quarto, se quiser!
Teresa desceu as escadas, com uma toalha enrolada na cabeça.
-E aí? Falou com sua tia?
Neguei com a cabeça, tirando o celular do bolso do avental. Céus! Eu não tinha tirado aquela treca ainda!
Larguei o avental no balcão da cozinha e teclei o número da minha tia, levando o aparelho ao ouvido.
"Alô?", a voz de Maggie Thompson soou do celular.
"Tia... Oi!" falei, observando Teri e 122 de longe.
"Ash! O que queria me falar mais cedo? Parecia bem urgente", falou ela.
"Er... É bem urgente mesmo... Lembra aquela hora que eu fui jogar água lá fora? "
"Aham", concordou ela.
"Tinha uma garotinha atravessando a estrada, sozinha" falei, dobrando os lábios "Eu levei ela pra dentro..."
"Será que ela tá machucada?! Aí meu Zeus, que vamos fazer?!".
Dava pra perceber que minha tia nem era afobada! Devia ser de família.
"Ela tá aqui em casa, eu já cuidei dos machucados", sorri fraco, sabendo que minha tia ficaria orgulhosa com o ato.
"Ótimo! E você tentou saber de onde ela veio e essas coisas?", indagou.
" Já tentei, tia! Ela não fala de jeito nenhum e tá com uma fome do cão!", brinquei "Na verdade ela falou o nome, mas não faz muito sentido, já que é um número, ao invés de nome... E se fala alguma coisa, é pra perguntar algo..."
"Hum", minha tia murmurou "Vou tentar sair mais cedo, tá?"
"Ok... Por enquanto eu e a Teri damos conta ", assegurei "Ela tá bem assustada... A gente ainda tá na fase de passar confiança."
"Aos poucos vocês conseguem, sei disso. Amor, vou desligar aqui, te amo e boa sorte!", foram as últimas palavras de minha tia.
Realmente, íamos precisar de sorte...
122 estava sentada no sofá, e Teri tentava uma comunicação com ela.
Prendi meu cabelo em um coque frouxo e abri o armário, me deparando com apenas algumas latas de molho de tomate e aveia.
-Teresa! - Berrei - Tá afim de ir no mercado hoje?! Ou vai querer pedir uma pizza de Bacon, daquelas bem gordurosas, pra a gente morrer aos poucos?
Eu sabia exatamente como chantagear minha amiga, já era infalível.
-Faz a lista, brucutu! - Ela gritou de volta, bufando.
Ri fraco, vitoriosa, e peguei o bloquinho de borboletas, começando a lista.
Enquanto escrevia, 122 voltou à minha mente. O que será que tinha acontecido com ela? O que fizeram pra ela, pra ela ter tanto medo das pessoas?
Não que não devesse ter medo... Devia sim, com tanta gente ruim no mundo... Mas nós nos dispusemos a ajudar, deixando bem claro que não a machucariamos.
Balancei a cabeça e voltei à lista de compras, finalizando-a.
Voltei para a sala, com o papelinho na mão, abanando-o no ar.
-Se lembrar de alguma coisa, pode comprar, e compra doce também - falei, entregando a lista para Teri.
Ela rolou os olhos e eu dei um beijo na bochecha dela.
-Já falei que te amo? - Sorri, abraçando a Baixinha por trás.
122 nos fitava, mexendo as mãos no sofá.
Teri deu um beijo na minha bochecha e saiu, rumo ao mercado.
Sentei no chão, com as costas contra o rack da sala, de frente para 122.
-Você gosta do seu nome? - Perguntei, bem aleatória.
Ela franziu as sobrancelhas, me olhando atentamente.
-Digo, 122 é um número legal... Mas você gosta? -Insisti, fazendo perninha de índio.
Ela olhou para baixo, dobrando os lábios.
-Que tal Lily? - Sorri fraco, levantando de leve as sobrancelhas.
Ela voltou o olhar para mim e sorriu, concordando.
-Lily - repetiu, com sua vozinha fina.
-Isso! Lily - assenti, sorrindo largo e me levantando - Quer ir lá em cima comigo? Eu vou procurar uma roupa limpa pra você, e preparar um banho quente.
Sorri pra ela, estendendo minha mão, que ela, pela primeira vez, segurou.
Subimos as escadas que davam para o andar dos quartos.
Abri a porta do meu quarto, ligando a luz. Eu não tinha nem arrumado a cama, tinha roupa até na janela... Mentira, não tinha não, mas tinham várias espalhadas pelo quarto.
-Meu Zeus, eu preciso arrumar esse quarto - ri fraco, pegando um vestido florido no chão e o cheirando - Pra lavar!
Ela sorriu e foi logo atraída pelas fotos coladas na parede. Na verdade não eram coladas, era como um varal de fotos, vários deles, nas duas paredes que não tinham nem janela e nem guarda-roupa.
Meu quarto era bem tumblr, com direito a pisca-pisca e mensagens na parede.
Ela tocou uma das lâmpadas do pisca-pisca, franzindo as sobrancelhas.
-Quer ver ligado? - Perguntei, me dirigindo para o interruptor das luzes que lembravam o natal, ligando-as.
Quando as luzes acenderam, ela arregalou os olhos, abrindo um sorriso.
-Bonito - sussurrou, virando para mim.
Assenti, sorrindo também.
-Agora vamos procurar uma roupa pra senhorita, antes que passe outro furacão Ash nesse quarto - brinquei, tocando a ponta de seu nariz.Lily, ou 122, chame como quiser, era uma garota legal... Bem expressiva! Podia até não falar muita coisa, mas eu já estava me apegando à ela, e realmente não sabia se isso era bom ou ruim...

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