Os passos curtos de Hayley percorreram o corredor até a sala de estar. Ela olhou ao redor, vendo o cômodo mal iluminado pela lareira acesa, e a família reunida ali. Todos com cara de funeral.
Ela cruzou os braços, entrando na sala.
"Onde a Hope está?" Klaus foi o primeiro a quebrar o silêncio.
"Finalmente consegui fazer ela dormir." ela olhou para cada face franzida, arqueando a sobrancelha esquerda. "O que aconteceu?"
Os irmãos se entreolharam, hesitando. Decidiram entre olhares que não diriam o que estava acontecendo.
"Ela merece saber o que está acontecendo." Freya disse, cabisbaixa. "Afinal, ela também está na zona de perigo."
"Isso é patético!" Klaus esbravejou, gesticulando nervosamente. "Nós não podemos ficar aqui de braços cruzados enquanto ele declara guerra contra a nossa família!"
"O que há de errado?" Hayley perguntou novamente, preocupada.
Klaus trincou o maxilar, recusando-se a falar.
"É o Marcel." Rebekah revelou, em um suspiro pesado.
Hayley engoliu em seco, esperando a continuação.
"Acontece que, aparentemente, aquele maldito não se conteve com o que fez cinco anos atrás. Ele teve que voltar para esfaquear todos nós nas costas, novamente!" Rebekah exclamou, alterada.
Klaus permanecia no canto da sala. Olhos fixados no fogo da lareira.
"Me pergunto porquê não estou surpreso." Kol retornou, sarcástico, com as mãos enfiadas no bolso da calça.
"Talvez seja porque você é um dos motivos pelo qual o Marcel quer cada um de nós morto!"
"Como é, Nik?" Kol perguntou, incrédulo.
"É isso mesmo! Se você não tivesse matado a preciosa bruxinha dele, isto não estaria acontecendo!" Klaus retrucou.
"Você matou metade da cidade, incluindo os amigos dele, e a culpa é minha?!" eles se enfrentaram, bem próximos. "Se você quer alguém para culpar, esse alguém é você!"
Elijah apartou os irmãos, ajeitando a gravata borboleta.
"Digamos que não é um momento propício para nos virarmos um contra os outros." Elijah anunciou cordialmente, separando os dois.
"Tanto faz, eu estou fora. Se o Marcel me quer, que venha me pegar. Eu não tenho medo." Kol ironizou, saindo da casa.
"Ótimo, quem é o próximo?!" Rebekah reclamou, com sarcasmo.
"Ninguém vai sair daqui. Pelo menos não sozinho." Freya ordenou.
"Eu vou atrás dele." Rebekah disse, virando-se para sair.
"Rebekah, você não pode.." Elijah quis contradizê-la.
"O que eu não posso é deixar nosso irmão esquentadinho tomar decisões estupídas." Ela interrompeu-o. "Montem um plano, eu vou ficar bem." ela saiu, fechando a grande porta de madeira.
"O que vamos fazer?" Hayley finalmente se pronunciou.
"Uma coisa é verdade. Precisamos revidar." Freya levantou-se do sofá. "Elijah, vá no Bayou." Hayley pediu. "Os lobos podem ajudar."
"Claro." ele assentiu, lançando um olhar significativo para Klaus. "Você e Freya ficam aqui com Hope e Hayley." Elijah retornou para o irmão.
Klaus permaneceu em silêncio.
"Ficaremos bem." Freya respondeu por ele, entrando no meio dos irmãos. "Vá."
Elijah desapareceu da sala com sua velocidade vampírica.
"Isso é inútil, de verdade." Klaus retrucou, ainda irritado. "Ele não quer vocês, por enquanto. Isso é pessoal. O problema dele é comigo."
"Por quê você diz isso?" Freya quis saber.
"O coração da Camille." ele começou, com fúria na voz. "Estava em uma caixa na porta da frente, hoje de manhã."
Hayley arregalou levemente os olhos, horrorizada.
"Por quê ele faria isso?" ela perguntou, chocada.
"Porque ele quer me atingir." Klaus respondeu, franzindo o cenho.
Um silêncio curto preencheu o cômodo.
"Marcel foi longe demais. Vocês ficam aqui, eu cuido dele." Klaus anunciou, decidido.
"Mamãe, eu não consigo dormir." Hope murmurou, no fim da escada, coçando os olhos.
Os olhares de Klaus e Hayley se encontraram. Os olhos assustados dela mediram o híbrido. Ambos fitaram a filha, observando-os confusa.
"Vou colocar você para dormir, amor. Um minuto, tudo bem?" Hayley disse, e Hope assentiu.
"Eu já volto." Hayley disse, olhando para Freya e Klaus, como se dissesse para eles não saírem dali até ela voltar.
Klaus sentou-se na poltrona bege na beirada na lareira, enquanto Freya andava de um lado para o outro, impaciente."Está tudo bem?" Hope perguntou, enquanto Hayley cobria-a com os dois cobertores. "O papai parece bravo."
"Seu pai está bravo o tempo todo." Hope gargalhou, recebendo um beijo na testa. "Não há nada para se preocupar, vai ficar tudo bem, ok?" Hayley sorriu, acariciando o rosto da filha.
Hope assentiu, aconchegando-se na cama.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, querida." Hayley acendeu o abajur antes de fechar a porta do quarto.Viu relâmpagos através da grande janela de vidro. O céu estava nublado e a temperatura caía cada vez mais.
Desceu as escadas, encontrando-se com Freya na sala. Olhou ao redor, procurando pelo híbrido.
"Onde o Klaus está?" ela perguntou, automaticamente.
"Hayley, ele.. –" Freya apontou com o queixo para a porta, que se fechava.
"Oh, não." Hayley sussurrou, apressando-se até a porta.
Alcançou-o na varanda.
"Você honestamente vai ir lá?" ela exclamou, incrédula.
Ele parou de andar com seus passos largos.
Hayley sentiu a brisa fria bater contra seu rosto. Ela cruzou os braços, tentando se aquecer.
"Hayley, estamos em guerra, de novo. Estou fazendo isso pela família." ele justificou.
"Você está se ouvindo, Klaus?!" ela exclamou novamente, parando em sua frente, bloqueando a passagem. "Você não vai ir atrás dele! É o que ele quer que você faça!" ela retornou, de forma desesperada. "Preciso te lembrar que ele ainda é o monstro que pode te matar?"
Klaus trincou o maxilar, suspirando. Sabia que ela tinha lá sua pontinha de razão.
"Hayley, eu não tenho medo de morrer. Pelo menos não pela minha família." ele argumentou, encarando-a profundamente.
Trovões ecoaram.
Hayley chacoalhou a cabeça em negação, sem quebrar o contato visual. Klaus fez a menção de desviar-se dela, mas ela impediu-o, segurando ele com uma mão em seu peitoral.
"Hayley, eu tenho que ir. Não há outra escolha." ele soltou o ar preso em seus pulmões.
"Você tem uma opção!" ela lançou um olhar significante para ele, ainda com a mão em seu peito. "Você pode ficar aqui." ela sussurrou, ouvindo gotas de chuva caírem do céu. "Com a sua família, longe de todos esses inimigos. Por favor." ela suplicou, sentindo seus olhos arderem.
Klaus respirou fundo, sentindo algo dentro de si retorcer-se ao ver ela vulnerável daquela forma em sua frente. Ele se aproximou permitindo-se a segurar o pulso dela. "Se eu não fizer isso, eventualmente, ele vai vir atrás de você e da Hope, e eu não posso permitir isso."
Um silêncio pesou no ar. A chuva fortaleceu-se.
"Eu vou com você, então." ela anunciou, determinada.
Deu as costas, saindo para fora da área protegida da varanda, andando na direção do carro. Sentiu as incontáveis gotas de água fria molharem-a por inteiro.
Sentiu uma mão firme em seu antebraço, forçando-lhe a virar.
"Você fica. Elas precisam de você aqui." Klaus encarou o rosto molhado dela em sua frente. Viu os olhos claros de Hayley marejarem.
"Adivinha só, elas precisam de você também!" ela retornou, em desespero. "Então eu não vou deixar você ir nessa missão suicida sozinho!" ela levou a mão para abrir o carro, mas ele segurou a porta, encarando-a novamente.
Seus olhos suplicaram para que aquilo acabasse.
Klaus ainda tocava o antebraço dela, gentilmente. Ele grunhiu com a teimosia costumeira.
"Hayley, isso é da minha conta, você tem que ficar fora disso, por favor!" ele pediu, adicionando um pouco de pressão em seus dedos que tocavam o braço dela.
"Isso se tornou da minha conta quando você teve que nos deixar, cinco anos atrás!" ela libertou as lágrimas.
Ali estavam os dois, parados frente à frente, ao lado do carro, encharcados. O tempo só piorava á cada segundo, e a discussão parecia longe de acabar.
"Nós ficamos esse tempo todo sem você.." ela continuou, com a voz trêmula. Aproximou-se dele, ofegante. "e nós acabamos de te conseguir de volta." lágrimas rolavam pela sua face.
Klaus observou cada milímetro do rosto de Hayley. Sua respiração estava entrecortada.
"Eu não vou te perder de novo, Klaus."
Sem hesitar, Klaus impulsionou-se para frente, quebrando a distância entre os seus lábios. Puxou Hayley pela nuca, aprofundando o intenso beijo.
Ela sentiu seu corpo inteiro congelar-se por instantes. Pousou uma das mãos no rosto de Klaus, acariciando sua bochecha.
Ele quebrou o resto da distância entre seus corpos quando envolveu-a pela cintura.
E por um longo momento, tudo ao redor tinha desaparecido. Todos os medos, preocupações, problemas. Era como se tudo tivesse parado para ambos enquanto eles se beijavam apaixonadamente em baixo da insistente chuva.
Hayley enlaçou os dedos entre os fios de cabelo molhados de Klaus, sentindo seu coração bater aceleradamente.
Eles quebraram o beijo quando a chuva ficou ainda mais forte.
Klaus abriu os olhos, observando Hayley atenciosamente. Ela demorou dois segundos para conseguir abrir os olhos. Encarou-o, ainda com os olhos marejados.
Ele sorriu para ela, como se estivesse aliviado. Hayley mordeu o lábio inferior, não contendo um sorriso genuíno.
"Vamos para dentro, lobinha."
Ele passou o braço ao redor dela, na tentativa de aquecê-la enquanto acompanhava-a para a varanda.
E apesar de serem disfuncionais, naquele momento, tudo parecia certo. Eles estavam um com o outro, onde pertenciam.
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