Hayley virava mais uma página do livro em suas mãos. Cruzou as pernas em cima da cama, lendo atenciosamente cada palavra do papel.
"Hayley!" a voz de Klaus ecoou pelo corredor principal da casa.
Antes que ela pudesse dizer algo, viu o híbrido aparecer na porta, meio ofegante.
"Hey." ela desviou os olhos do livro por segundos para olhá-lo.
"O que você está fazendo?" ele perguntou, cruzando os braços ainda no batente da porta.
"Keelin me deu alguns grimórios. Você sabia que as bruxas têm tipo toneladas desses livros cheios de feitiços de magia negra e poções esquisitas?" ela virou mais uma página do grimório, curiosa. "Bizarro!" ela suspirou, rolando os olhos. "Sabe o que é ainda mais estranho? Eu. Lendo todos eles. Procurando por... você sabe.. uma cura." ela completou, sem desgrudar os olhos do papel.
Percebeu então que ainda estava em silêncio. Ergueu os olhos e virou a cabeça para encara-lo.
"O que foi?" ela perguntou, observando-o.
"Eles não vão nos ajudar." Klaus disse.
Com "eles", Klaus se referia á matilha. Durante o passar dos anos, Hayley tinha conseguido fazer contato com as sete matilhas -ou o que tinha restante delas- para procurar por uma cura para o veneno da mordida.
E agora, por algum motivo, uma das matilhas tinha desistido de ajudá-la.
"O quê?" ela endireitou a sua postura, arqueando uma de suas sobrancelhas. "Isso não faz sentido nenhum. Eu falei com um deles hoje de manhã, estava tudo bem. Porque eles desistiriam agora?" ela questionou, confusa.
"Eu posso ter ido lá e dito algumas coisas." ele admitiu.
"Oh, Klaus." ela suspirou pesadamente, levantando-se. "O quê você fez?"
Klaus encarou-a, lembrando-se do evento.
"Eu gostaria de falar com um certo George. Assumo que ele é o líder." Klaus disse para um dos homens que fazia a guarda fora da cabana.
O homem olhou-o pelo canto do olho.
Klaus franziu o cenho. Trincou o maxilar, como de costume. O rapaz entrou na cabana. Após alguns segundos, saiu acompanhado de outro, alto e forte. Uma marca de nascença no pulso, que Klaus tinha percebido em todos os outros lobos em seu redor.
"Presumo que você seja o alfa." Klaus cruzou os braços.
"Presumo que você não seja quem eu deveria encontrar. Onde está a Hayley?"
Klaus encarou-o, surpreso com a sua audácia.
"Bem, como pode ver, Hayley teve não pôde vir. Acho que somos só nós dois, companheiro."
"Quem é você, afinal?" ele questionou, em tom rude.
"Tenho certeza que ela já me mencionou antes." Klaus focou os olhos, fazendo-os mudar lentamente de cor. As finas veias surgiram abaixo de seu olhos por instantes.
Alguns deles arregalaram os olhos, em surpresa. Klaus sorriu com sarcasmo quando voltou ao normal.
"Você é o tal híbrido." George disse. "Klaus."
"Agora que já fomos apresentados, vamos negócios, certo?" Klaus deu um passo para frente, fazendo a menção de entrar.
Ambos os lobos que faziam a guarda da cabana fecharam a passagem, enfrentando Klaus.
"A questão é, 'companheiro'.." George ironizou, esfregando as mãos. "Eu não faço negócio com estranhos." Ele aproximou-se de Klaus. "Principalmente não com sanguessugas perdedores." ele completou, com tom de deboche.
Klaus sentiu seu sangue ferver, olhando ao redor. Em questão de milésimos, seu punho direito estava enfiado na face de George. O soco fez ele cair no chão e sangrar pelo canto da boca.
Klaus Mikaelson definitivamente não era conhecido por seu auto controle, mas o soco tinha sido totalmente impulsivo. Era como se ele não conseguisse mais controlar-se.
"Que diabos, cara?!" um dos lobos aproximou-se, tentando intimida-lo.
Klaus olhou ao redor novamente, agora vendo várias pessoas formarem um círculo ao redor deles.
"Não vale a briga, Jeff" George levantou-se, passando as costas da mão no canto dos lábios, molhando-a com sangue.
Klaus cerrou os punhos, enquanto George puxava Jeff para trás.
Um silêncio curto pairou no ar.
George deu passos na direção de Klaus.
"O que você vai fazer agora, huh?" perguntou, com sarcasmo. "Me matar? Na frente de todos eles?"
"Me dê o que eu preciso. Ninguém precisa se machucar." Klaus argumentou.
"Diga para a Hayley que o acordo já era. Nós não vamos cooperar nessa babaquice que vocês planejam. Agora caia fora do meu território." George deu a palavra final.
"Como você quiser." Klaus abriu os braços, em rendição.
Agarrou um dos lobos guardas e deu-lhe a mordida tóxica no pescoço. Jogou seu corpo contra o chão, atraindo a atenção das pessoas enquanto o lobo gritava em dor.
"Já que o acordo já era, eu não tenho que bancar o bonzinho." Klaus deu de ombros, antes de usar sua velocidade vampírica para sair do meio da floresta.
Hayley ainda esperava pela resposta, parada em sua frente.
"Nós tivemos um desentendimento." ele disse, simplesmente.
"Tudo bem." ela soltou o ar preso em seus pulmões. "Hope está com a Mary. Você fica aqui enquanto eu vou lá e falo com eles." ela fez a menção de sair, mas Klaus impediu-a, segurando-a pelo seu antebraço.
Ela encarou-o confusa.
"O que foi?" perguntou.
"Você..não pode ir lá." retornou, nervosamente.
"Porquê?" ela exclamou.
"Hayley, eu mordi um deles! O acordo já era!" Klaus exasperou.
A expressão da híbrida passou de nervosa para furiosa. Ela franziu o cenho.
"Você fez o quê?!" ela desvencilhou-se de seus braços, incrédula.
"O alfa testou minha paciência e eu perdi o controle. Hayley, eles não são pessoas boas, eu fiz isso de certa forma para proteger vocês!" Klaus alterou o tom de voz. "Você sabe que eu não me desculpo—"
"Pelos métodos usados?!" ela completou, subindo dois decibéis no tom de voz. "Sim, eu sei disso, porque essa é a única desculpa que você usa para fazer tudo o que faz!" Klaus trincou o maxilar, cerrando os olhos.
Ele sabia que ela estava certa.
"Você acabou de destruir a única chance concreta de uma possível cura para os seus irmãos, Klaus!" ela gesticulou nervosamente, passando as mãos pelo cabelo.
"Hayley—" ela o interrompeu.
"Sabe, cinco anos atrás eu vi você fazer a coisa mais altruísta que você já fez na vida pelos seus irmãos, e eu realmente achei que aquilo foi a redenção para você. Mas eu estava errada!" ela exclamou, a ponto de explosão. "Você voltou faz três dias e olha só o que aconteceu!" ela respirou fundo, vendo Klaus em silêncio. "Nós estávamos melhor sem você."
No calor do momento, Hayley cuspiu as palavras. Ela arregalou levemente os olhos, esperando por uma reação de Klaus. Em seguida, sentiu arrependimento e mexeu os lábios para dizer algo, mas em um piscar de olhos Klaus tinha desaparecido do quarto.
Hayley arfou, sentindo-se culpada. Resolveu por fim ir para a floresta atrás da matilha, para tentar arrumar a bagunça que Klaus.
(...)
Hayley entrou na casa, sentindo-se derrotada. Tinha procurado pela matilha o dia inteiro, mas eles não estavam em nenhum lugar para serem encontrados. Klaus ouviu a porta abrir. Logo os passos lentos de Hayley fizeram caminho até a sala onde ele estava. Tinha um copo de uísque nas mãos e os olhos fixados em algum ponto imaginário.
Hayley encostou o corpo no batente da porta, observando-o em silêncio. Ele percebeu a presença dela no cômodo, erguendo os olhos para olhá-la.
"Onde a Hope está?" ela perguntou em um murmúrio.
"Lá em cima." ele respondeu, voltando sua atenção para o fogo que estalava na lareira em sua frente.
Hayley hesitou um pouco antes de entrar no cômodo. Sentou-se do lado dele e permaneceu em silêncio.
Klaus esticou o copo de bebida para ela, lhe lançando um olhar significativo. Ela aceitou, bebendo um gole.
Depositou o copo na mesinha e fitou os pés.
"Me desculpe" Hayley disse, erguendo o rosto. Seus olhares se encontraram. "sobre o que eu disse mais cedo."
Klaus permaneceu em silêncio, assimilando as palavras que saiam de sua boca.
"Talvez vocês estivessem mesmo melhores sem mim." ele desviou o olhar novamente.
"Não é verdade." ela balançou a cabeça. "Se não fosse por você, nós nem estaríamos aqui, vivas."
"Isso não muda o fato de que eu estraguei a única chance de curar os meus irmãos." ambos se encararam por longos segundos.
"Hey, nós vamos dar um jeito. Descobrir outra maneira de conseguir essa cura. Nós sempre conseguimos" Hayley olhou para baixo. "Como uma família." ela sobrepôs uma de suas mãos sobre a dele, sorrindo.
Klaus abriu um sorriso singelo.
"Mãe, me lê uma história?" Hope gritou do topo da escada.
"Ela me fez ler o mesmo conto cinco vezes hoje" Klaus disse, com humor. "É a sua vez."
"Estou subindo, querida!" Hayley gritou de volta, rindo, enquanto andava para fora do cômodo.
E lentamente, esse lugar parecia cada vez mais como um lar.