Capítulo 2

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         ― Pronto?

― Pronto. ― Martha assentiu. Kilah Touskoy morreria em pelo menos dois dias e o veneno invisível já havia sido plantado na xícara de chá que ele bebeu antes de sair dali.

Awa já se alimentava e conseguia ficar em pé sozinha, ela estava bem e o médico sequer teria tempo de abrir a boca. Provavelmente teria um infarto fulminante durante o jantar com a família.

― Awa estava perguntando de você. ― Martha não queria ver as sobrancelhas de seu mestre franzidas, mas viu, e viu também o homem abaixar o rosto e encarar fixamente a madeira da enorme mesa sobre a qual se debruçava. Ela quase não pôde respirar. Nunca, desde que nutria suas primeiras memórias, se lembrava de vê-lo daquela maneira. ― Senhor...

― Nada mudou. ― Ele anunciou roucamente, como se lesse seus pensamentos. Levantando o rosto e encarando-a friamente, continuou: ― E nada vai mudar.

Assim, andou para fora da sala e pelos corredores e escadarias até atingir a suíte de Awa, da qual entrou sabendo que a menina repousava. O silêncio dizia que ela não tinha ânimo sequer para contradizer o que Woby provavelmente estaria dizendo.

Viu o montinho feito de cobertas e em passadas lentas atravessou o quarto até sentar na beirada da cama.

― É melhor levantar. ― Foi o que disse, o estômago revirava.

― Não quero. ― A voz saiu abafada de dentro do bolinho de cobertores.

― Você é uma criança teimosa. Precisa de sol e comida.

― Eu não sou uma criança. ― De repente, a pequena e fina mão surgiu dentre as cobertas e os olhos azuis se arregalaram no súbito silêncio.

Awa deixou a mão ali e Alexsander sabia o que ela queria.

Ela queria que, como uma semana antes, ele entrelaçasse seus dedos aos dela com alguma firmeza. Talvez tenha sido aquela a primeira vez que tocou na mão da menina propositalmente, já que em todas as outras vezes ele apenas a carregava, adormecida, de volta para a cama.

― Como eu, você é uma cápsula de energia. Se não se alimentar vai parar de funcionar. ― Ele ponderou, controlando a vontade de abraçar a mão pequena e confortá-la.

Muito tempo passara e diferente de todas as outras, havia sido tempo o bastante para fazer Awa se infiltrar em suas entranhas.

― Eu vou melhorar. ― A loira declarou, deixando os fios dourados e rosto angelical ficarem visíveis entre os cobertores. ― Prometo.

Com aquele "prometo", Alexsander só se deu conta do que havia feito quando sentiu os dedos de Awa abraçarem calorosamente os seus.

― É a última vez que farei isso, Awa. ― Foi um aviso para ela e uma ordem para si mesmo.

Diante do sorriso da garota, a alma de Alexsander morria.

Não queria que ela se apegasse ainda mais do que já se apegara. Não queria que ela o amasse, nem precisasse de um aperto na mão para se convencer de que iria melhorar.

Viu-se perturbado, desejando que como as outras, Awa simplesmente o odiasse.

Mas em duas semanas, ela realmente estava melhor. Logo corria forte de novo, se alimentava bem e como naquele momento, lixava uma espada com paciência enquanto o som do corpo masculino se movendo soava baixo pelo cômodo.

Sentimento Solúvel - (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora