Os sete dias seguintes foram infernais.
Não podia sequer pregar os olhos.
O medo não deixava.
― Você não precisa fazer isso. ― A voz era abafada pelo som do chuveiro.
― Preciso. ― Foi a resposta seca. Os olhos azuis olhavam diretamente para o azulejo rachado na parede a sua frente, tentando ignorar que faltavam apenas três dias para tudo aquilo acabar como um sonho e que Awa tomava banho logo ao lado. Próximo o suficiente para ver seu corpo pela visão periférica.
― Não precisa.
― Você não tinha que ter tentado enfiar uma faca no pescoço.
Ali, Awa ficou em silêncio. O choro baixo se misturava com a água caindo pelos cabelos dourados.
Ela respirou profundamente. As mãos trêmulas passavam pelos cabelos encharcados. Não conseguia acreditar que tinha sido tão rápido. Que tudo estava desaparecendo.
Se desfragmentando como uma ilusão em pleno dia.
― Eu só queria mais tempo. ― Deixou escapar, o coração na mão.
― Awa... ― Foi um pedido silencioso para que o assunto parasse ali.
― Mais tempo, todo o tempo possível. ― Mas ela o ignorou, e a porta do box foi aberta para que pisasse no tapete branco. ― Eu quero mais tempo Alex... ― Awa estava chorando e agora o quadril molhado e delineado da loira estava em frente ao ladrilho quebrado que vinha encarando fixamente.
A garganta do homem secou e seus olhos começaram a arder. Parecia até pimenta e precisou piscar repetidas vezes, abaixando a cabeça para que a loira não visse.
Não visse a verdade escorrendo em gotas grossas pelo rosto másculo.
Awa caiu de joelhos e os braços circundaram o quadril de Alexsander.
― Por favor... ― Implorou. Nunca pensou que iria implorar tão desesperadamente por algo assim na vida. Nada parecia padronizado diante de tal única e inegável verdade.
As coisas nunca mudariam apesar de suas enormes e avassaladoras vontades. Apesar de seus esforços, suas lágrimas, os dias que os levaram até ali.
As decisões.
Sim, elas tinham grande importância dentro do universo onde Awa e Alexsander viviam.
A loira sentiu as mãos grandes lhe apossarem os cabelos molhados e ele a puxou para cima. De pé, o observou encostar o rosto em seu peito. A testa do ruivo colada entre o vale de seus seios e ela era perfeitamente capaz de sentir a respiração quente batendo contra a pele.
Como as teclas de um lôbrego piano soando, a sinfonia da morte tocava na alma de Alex.
― Me desculpe... Por ter perdido você...
― Você não me perdeu Alex... Ouviu? ― Awa abraçou a cabeça masculina. A voz do ruivo lhe torturava intensamente.
― Eu perdi no instante em que sequestrei você... Quero que saiba... Que eu..., me arrependo amarg-
― Para com isso... ― O cortou, exasperada. Os pequenos e delicados braços o apertaram contra o peito. ― Para com isso e fique aqui... ― O toque dos dedos masculinos em sua pele era como o próprio fogo se derramando, escaldante, e junto daquele sentimento esmagador vinha o peso de saber que em três dias...
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Sentimento Solúvel - (COMPLETO)
ParanormalNos tempos atuais, em um castelo isolado nos Alpes Franceses, se esconde um incubus. Seu nome é Alexsander Mordoren, e ele é mais antigo que as pedras que constroem o castelo onde habita. Alimentando-se de jovens virgens por todos os séculos de vida...