EPÍLOGO

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         Não havia lua naquela terça-feira. Apenas um vento gélido soprando forte entre as árvores.

Desaparecer.

Em alguns segundos, seria exatamente o ocorrido.

Alexsander olhou para o céu da noite, estrelado, límpido. O vento era uma brisa fria que lhe embarcava dentro de um aspecto mórbido, ali, escorregando os dedos pelos entalhos que faziam o nome de Awa acima do seu.

A enorme sequoia tremulava quando sentou-se, sendo tragado pela sensação lôbrega de não conseguir mais se manter em pé.

Um sorriso ameno tomou-lhe os lábios.

Era como se pudesse ver perfeitamente os olhos verdes ali em cima, reluzindo.

― "Fale Anjo..." ― Ele sussurrou; no peito um coração que batia cada vez mais devagar. ― "outra vez... pois você brilha... Na glória desta noite... Sobre minha cabeça..." ― A voz desapareceu entre as centenas de partículas úmidas que permeavam a floresta.

Com um arrepio atravessando-lhe por completo, Alexsander fechou os olhos.

A figura de Awa era a única coisa dançando em sua mente, dentro da escuridão o abraçando pouco a pouco, a voz doce parecia sussurrar ao pé de seu ouvido.

Por todas as feridas, por todo o mau, toda a inocência sutilmente arrancada. Por todas as coisas ruins que causou com o passar dos longos anos... O último respirar foi amargo, como as ondas, violentas, chocando-se contra as pedras, em um mar revolto que no segundo seguinte, jazia calmo... Mas cheio de culpa.

Quando a vida se esvaiu de Alexsander, o grito de Awa ainda ecoava pelo hospital.

Ele morreu desejando que de alguma maneira, seu último pensamento fosse carregado com o vento.

Que chegasse ao coração de Awa docemente.

Que o sussurro fosse ouvido.

"Eu amo você".

E naquele momento, Apolion surgiu.

Com um vasto manto negro cobrindo a face, encarou o corpo de Alexsander e respirou profundamente. Os observara de perto por muito tempo. Os havia visto gritar e chorar e rir.

Alexsander era um demônio mestiço que jamais pertenceria ao céu. Mas também não pertenceria ao inferno. Ou à terra. Ele era a própria personificação de uma criatura que simplesmente, pertencia ao nada.

E mesmo assim... Quando a fração de alma do ruivo estava prestes a ser engolida por Apolion...

A morte fechou a boca e não se permitiu devorar o espírito repleto de dor e lamúria que levitava bem ao seu lado.

Naquele momento...

Apolion brincou de ser seu pai.

Deus.

"Onde a lua azul brilha
Onde as lágrimas derretem o gelo
No oceano de culpa
Sob as estrelas caídas
Sinos solitários, cantar de dor
Há uma tempestade...,

Somente o amor permanece"

Lykke Li ― I Never Learn


Trecho do Livro Romeo e Julieta de Willian Shakespeare.

Sentimento Solúvel - (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora