Cavando um buraco dentro de si mesmo, Alexsander se enfiou na oficina e começou a produzir unicamente para o próprio desgaste. Queria a exaustão, a doença, a morte, mais do que qualquer outra coisa. Não suportava vê-la feliz sabendo que aquela felicidade era uma ilusão tão tórrida.
Ele era o mestre daquele jogo de fantoches e não queria que Awa fosse mais uma peça... Quanto mais tempo passava ao lado dela, mais via que não havia um modo de obter paz que não fosse fazendo o certo.
Devolvendo Awa para a vida da qual ela nunca deveria ter saído.
Era dia de Ano Novo e cada vez que chegava à porta do quarto dela perdia completamente a coragem de bater, por mais que soubesse que a porta não estava trancada. Mal podia respirar.
Com medo de perdê-la, tinha medo de perder a si mesmo no caminho arriscado cujo nunca havia percorrido antes... Era completamente assustador encarar que a escolhida para ser morta agora era a única coisa que não queria que morresse.
Com o coração na mão, Alexsander desceu aquelas marretadas até o braço parar de obedecê-lo e o obrigar a largar a marreta. O peito já estava encharcado de suor e já fazia pelo menos uma hora que se livrara da camisa. Ele enfiou a espada dentro do galão de água e quando pegou novamente no cabo da marreta, a porta se abriu.
Foi como um dejávu. Awa deixando a cabeleira loira aparecer por entre o vão, timidamente o observando. Como há onze anos.
A diferença é que agora a amava em níveis imensuráveis. Houve certo atraso para se dar conta daquilo, mas não conseguia medir o que sentia pela menina. Não conseguia colocar um fim ao sentimento.
Ele parecia ser infinito.
― Saia das sombras. ― Pediu, exatamente como há onze anos.
E ela o fez, andando para dentro do cômodo quente em silêncio.
Ambos se encararam por alguns segundos antes de Alexsander voltar os olhos para a espada, puxando-a para fora da água gelada e tornando a descer a marreta sobre o aço.
Por minutos, o ruivo sentiu o peso dos olhos verdes sobre suas costas, mas permaneceu daquela forma unicamente porque não conseguia encarar Awa por muito tempo sem que suas palavras ressoassem num looping agonizante dentro de sua cabeça.
― Nunca vai parar?
Então ele parou, tentando omitir a respiração ofegante, deixando que o braseiro se refletisse e soprasse um bafo quente contra o rosto.
― Largue isso. ― Foi o pedido sussurrado e para o próprio completo pavor, o corpo masculino obedeceu e Alexsander não entendia o que ele mesmo estava fazendo, com dificuldade para sequer respirar, ele olhou para o teto como se fosse um céu estrelado, como se o simples fato de olhar lhe concedesse milagres.
Ela o observou, sem conseguir puxar o ar para dentro dos pulmões, e os passos femininos foram rápidos em alcançá-lo. Alexsander se deixou ser abraçado dentro do completo silêncio.
― Não se remoa Alex... ― A bochecha estava colada no peito suado do homem e ela escutava claramente o coração masculino batendo num ritmo desesperado. ― Pare de se torturar...
― Eu não estou... ― A voz rouca saiu baixa quando sentiu as mãos doces penetrarem entre seus cabelos e começarem a puxarem-no para baixo.
― Você está... Apenas pare...
― Desculpe, Awa... ― Então a abraçou de volta, levantando a menina no ar para alcançar os lábios rosados.
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Sentimento Solúvel - (COMPLETO)
ParanormalNos tempos atuais, em um castelo isolado nos Alpes Franceses, se esconde um incubus. Seu nome é Alexsander Mordoren, e ele é mais antigo que as pedras que constroem o castelo onde habita. Alimentando-se de jovens virgens por todos os séculos de vida...