Panquecas VS. Calda de Chocolate

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Doce ou Salgado? / Capítulo 2 - Panquecas VS. Calda de Chocolate

Sebastian não sabia o que o havia levado até ali, costumava tomar café da manhã em casa - quando tomava café da manhã - e aproveitava a última hora que tinha antes de sair para o trabalho.

A questão era que ele não iria trabalhar, era sábado, e não tinha nada para fazer.

No entanto lá estava ele, quase debruçado sobre o balcão, esperando as panquecas chegarem junto com meia dúzia de casais de senhores espalhados em algumas mesas. Com certeza lembraria-se de se repreender por ter ido até ali gastar dinheiro à toa. Foi quando a figura estranhamente alegre de Sthella surgiu pela porta da frente, dando bom dia pelas pessoas pelas quais passava a caminho do balcão.

Ela usava um shorts de moletom cinza, daqueles que as mulheres adoravam usar pra correr. Uma camisa azul marinho com alguma estampa qualquer. Os cabelos presos em um rabo de cavalo, Sebastian quis imediatamente solta-los.

Como se pudesse sentir o olhar sobre si, Sthella logo o viu, que desviou o olhar com rapidez em direção a alguma coisa a sua frente. Sentiu seu rosto queimar, o tempo que passara caminhando antes de chegar ali a fez ficar divagando se ele estaria ali ou não. Não sabia que interesse era esse que possuía no desconhecido, apenas, possuía.

Como se nada tivesse acontecido, ela se pos ao mesmo lugar que anteriormente, incerta sobre qual poderia ser a reação dele.

- Bom dia!

- Dia - Respondeu por fim, voltando aquele sombroso mundo de isolação.

Sthella quis perguntar se estava tudo bem outra vez, mas dessa vez se conteve, cometera o erro da primeira vez, não faria duas vezes. E pediu waffles, acompanhados de quanta calda de chocolate fosse possível colocar.

Sebastian sentiu-se enjoado só com o pensamento, aquilo era a maior bomba calórica que já escutara alguém pedir pra comer no café da manhã.

- Você quer morrer? - O pensamento soou alto, fazendo-a franzir o cenho.

- Como assim? - A expressão dela era tão singela que tentou ser o mais educado possível.

- Chocolate? Não deu nem nove da manhã ainda.

Ela permaneceu calada, e quando Sebastian não disse mais nada resolveu se pronunciar.

- E daí?

O chão pareceu ter se aberto aos pés do homem a sua frente, parecia completamente ofendido.

- Não está um pouco cedo para... - Ele pareceu ponderar antes de falar - Chocolate?

- Existe hora pra se comer chocolate?

- Não, mas... - Ele respirou fundo - Você entende não é?

Sthella sorriu abertamente.

- O que te traz aqui sábado de manhã?

- Você vem sempre aqui esse horário? - A pergunta lhe escapou mais rápido do que foi capaz de pensar, a ideia de que poderia vê-la mais vezes fez sua cabeça girar.

Houve um brilho curioso no olhar dela.

- Quase sempre, eu passeio com cães sábado de manhã. E você?

- De fim de semana eu estou de folga - As panquecas foram postas a frente dele, e ele não pareceu perceber. Sthella apoiou o rosto sobre as mãos, os cotovelos na bancada. - E durante a semana eu trabalho em um escritório de advocacia.

Sthella fechou os olhos, podia facilmente imagina-lo como advogado, de roupas sociais, defendendo alguém importe. Sua voz ecoando pelo tribunal do júri, se impondo a outras pessoas.

O pensamento lhe provocou arrepios, trazendo a de volta a realidade. Onde estava coma cabeça? Ela não o conhecia.

- Eu sou modelo, tem uma agencia de moda a sete quadras daqui, eu ajudo com a seleção de novas garotas, e desfilo de vez em quando, por aqui, por ali...

Sebastian quis torcer o nariz, por algum motivo desconhecido tinha certo preconceito com modelos e todo o lance "moda", afinal, se matara de estudar e trabalhar para chegar aonde estava agora quando garotas com um rostinho bonito podiam por alguma roupa bizarra e andar de lá pra em uma passarela.

De alguma forma lhe parecia até injusto.

- É a sua vez de falar agora. - Sthella voltou a falar quando ele nada disse, pareceu notar o prato a sua frente e começou a se servir, provavelmente para ter uma desculpa para não dar continuidade à conversa.

Ele ficou em silêncio.

O prato de Sthella chegou e ela jogou sua atenção sobre ele, tentou pensar se dissera algo de errado, não encontrou nada, talvez ele fosse só um chatonildo que hora estava bem, hora estava de mal. Suspirou, não havia nada que pudesse fazer.

- Com que frequência você como doces? - Foi surpreendida pela pergunta. O prato de ambos já estava pela metade.

- Sempre que posso.

- E você... - Ele engoliu duro - Gosta? Digo, não enjoa?

Sthella deu de ombros, o que ele com aquilo afinal.

- Não. - Ele parecia indignado - E você, com que frequência come salgados?

Ele ponderou antes de responder.

- Quase sempre.

- E não cansa?

- Não.

O s dois pareceram entre em um acordo mutuo, eram gostos, gostos diferentes, mas gostos, não podiam mudar isso um no outro. Sebastian quis dizer mais alguma coisa, mas as palavras pareciam sumir sempre que resolvia abrir a boca. Queria vê-la outra vez, mas era reservado demais, orgulhoso demais para sugeri qualquer possível 'encontro'.

A voz de Cesar, o amigo de trabalho, berrou em sua cabeça. Quantas vezes já não o escutara reclamar que não poderia sempre esperar a iniciativa do sexo feminino, querendo ou não, se ela não se manifestasse ele teria que agir.

Olhou de rabo de olho o prato da bonequinha de porcelana que Sthella era, ela já terminara e se contentava em raspar o que restara da calda de chocolate do prato.

"Ela está enrolando" Estaria ela pensando o mesmo que ele? Estaria pensando em vê-lo outra vez? Estaria o odiando por ser tão covarde?

- O que vai fazer hoje à tarde? - A iniciativa partiu dela, os olhos azuis brilhando em expectativa.

- Nada, é meu dia de folga.

Ela sorriu.

- Aceitaria o convite de almoçar comigo hoje? Se não te for incomodo é claro.

Sebastian achou que estava sonhando.

- Porque não - Não soube se sua felicidade estava sendo vista por ela, as vezes ficava tão sério que nada parecia o abalar. Teve medo que ela achasse que estava aceitando o convite mais por educação do que por vontade de ir.

Ela não pareceu notar, estava contente o suficiente pelos dois.

- Ótimo! - Se colocou de pé em um salto - Eu te encontro aqui na frente então, vou te levar pra um paraíso particular.

Sebastian sorriu, talvez pela primeira vez naquela semana enquanto também ficava de pé. A diferença de altura e tamanho entre os dois era facilmente visível, Sebastian tinha ombros largos, costas largas, os olhos e cabelos castanhos junto a leve barba por fazer. Ele parecia gigante na frente dela.

Novamente, Sthella não pareceu perceber.

- Muito bem então.

- A gente se vê - Acenou, o sorriso grande lhe ocupando metade do rosto enquanto caminhava em direção ao caixa.

Sebastian permaneceu onde estava, apenas acompanhando-a com o olhar, afinal, o que estava acontecendo?

Doce ou Salgado?Onde histórias criam vida. Descubra agora