21. Mentiras Necessárias

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::ANA::

Pérsia — 479 a.C.

Por dias fiquei descansando e impossibilitada de sair da cama, o príncipe Dastan mantinha ordens severas para que eu recebesse toda a assistência necessária à recuperação, em poucos dias eu seria apresentada como a princesa de Asura. Ele era muito atencioso comigo, visitava-me todos os dias e passava horas a fio conversando sobre histórias de pessoas e mundos que eu não imaginava serem possíveis, mas que, ainda assim, me pareciam estranhamente familiares. Quando me senti melhor e já pude sair do quarto começaram os preparativos para apresentação oficial como uma das princesas persas, mal conseguia conter o terror em ficar frente a frente com o rei novamente, não podia sequer imaginar que seria a última vez que o veria.

— Nervosa? — Inquiriu Dastan, três dias antes da cerimônia, enquanto passeávamos pelo jardim do castelo.

Não respondi imediatamente. O chão coberto por uma grama macia ora marcada por passagens de pedra era ladeado por cercas vivas e árvores altas, flores de várias espécies cresciam naturalmente além da vista, um pequeno lago cortava um círculo irregular no meio do jardim, era como um oásis em meio ao deserto árido e desolador que se estendia no horizonte fora dos portões do palácio até Susã.

— Um pouco. — Admiti finalmente.

— Não fique. — Pediu ele e podia ouvir o sorriso em sua voz. — Sei que está preocupada com o que aconteceu antes e nunca vou descansar até compensar as coisas horríveis que meu pai lhe fez.

— Tudo bem, príncipe, não é como se eu esperasse algo diferente...

— Ayla — ele parou de frente para mim e segurou meus braços com delicadeza, os olhos castanhos direcionados aos meus com ternura e expectativa —, realmente não lembra nada sobre mim?

— O que deveria lembrar, meu senhor? — Questionei confusa. — Não é a primeira vez que me pergunta isso.

— Tem alguma coisa acontecendo conosco — Tentou explicar — nós já nos conhecíamos, nós... isso aqui não é real, não é a nossa vida.

— Está se referindo às vidas passadas? — Arrisquei lembrando-me das crenças persas.

— Não... não é isso. — Ele parecia frustrado. — Tudo bem, esqueça isso. Depois falaremos a respeito.

Não insisti. Quanto mais pensava nas coisas que ele dizia sempre que voltava a tocar naquele assunto mais confusa me sentia, não conseguia entender como ele podia pensar que nossa vida não era real, desde que o vira pela primeira vez, o príncipe era sempre inconstante, como se vivesse assombrado por alguma coisa, inquieto, inserido em um mundo ao qual não pertencia.

Continuamos o passeio em silêncio por um longo tempo, mas não me importei, estava completamente absorvida por aquele pedaço de paraíso, o som suave das pequenas ondas formadas pelo vento no lago, o farfalhar das folhas enquanto os galhos dançavam em um ritmo suave ao balanço do mesmo vento, a calmaria do céu azul com nuvens espalhadas, o cheiro delicado das flores que rodeavam o jardim de uma beleza difícil de se pôr em palavras. Mais a frente, a alguns metros do lago, sob a sombra de uma frondosa árvore, havia um grande pano de seda estendido sobre a grama, no centro vários tipos de frutas em tigelas de prata. Sorri e percebi que as nuvens que cobriam o rosto de Dastan haviam desaparecido por um instante quando ele estendeu a mão para mim com um convite silencioso de que o seguisse.

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