Descoberta

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      Olho para o horizonte, dentro do túnel de folhas, e vejo uma luminosidade avermelhada, parece que o sol está se pondo. Não consigo ver mais nada além da forte luz que vem ao nosso encontro. Percebo que chegamos. Percebo o limite das árvores, já que consigo ver o sol a minha frente, algo que antes era impossível por causa da barreira de folhas. Sinto uma brisa fresca e suave enquanto me aproximo dessa luz no fim do túnel. O frescor da brisa circula ao meu redor e os galhos das árvores curvam-se ainda mais por causa do vento, mesmo que pareça fraco. Sou dominado por uma alegria inenarrável, pois mesmo com toda dificuldade, eu consegui. Eu consegui! Corro para chegar mais rápido, para ver que isso é real e não apenas imaginação. Corro porque quero ver com meus próprios olhos. Corro porque cheguei. Cheguei na tal praia.


MESES ANTES....

    Não gosto muito de geografia, mas a aula de hoje me chamou a atenção. Júnior, o professor, disse que não preparou nada pra nossa turma e por isso iria nos passar algo que havia feito para o ensino fundamental. Soa engraçado uma turma de terceiro ano do ensino médio ter uma aula do ensino fundamental, pois é como se estivéssemos retrocedendo.

    Júnior mostra algumas imagens no projetor. Imagens de alguns lugares de nossa cidade - que modéstia parte não é muito pequena! - que antes eram visitados frequentemente, porém atualmente foram esquecidos parcial ou completamente.

    Ele começa mostrando um pequeno museu de arte que fechou após alguns problemas estruturais;
Em seguida, mostra duas boates que fecharam as portas após incidentes;
Uma praça abandonada pelo tempo;
E, por último, fala sobre uma praia.

— Uma praia! — dispara uma aluna do fundo da sala, soltando uma risada um tanto quanto sarcástica.

    Júnior ignora, pois sabe que todos, assim como a aluna que fez o comentário, estão surpresos.

— Era conhecida como a Praia da Floresta por estar localizada no meio da mata. Era um lugar realmente belo! — o professor fala enquanto coloca uma foto na projeção.

    Pela imagem, mesmo que seja antiga, realmente parece um local muito agradável. Melhor do que as praias das cidades vizinhas.

— Mas... O que aconteceu com a praia? — A pergunta surge do meio da sala.
— As estradas que cortavam a mata e levavam até lá foram interditadas após um acidente em uma usina nuclear, próxima ao local — o professor responde.

    Toda a turma está prestando atenção nessa aula, algo que é raro.

— Tentar entrar na água, como fizeram após o acidente, é suicídio. Apenas o contato com a areia pode trazer graves problemas a saúde. Radiação é algo extremamente perigoso — ele continua.
— Meu avô já falou sobre essa praia comigo. Ele gostava de ir — comenta um aluno que vive isolado de toda a turma, na verdade nunca conseguimos lembrar o nome dele.
— Os avós de vocês provavelmente visitaram essa praia, porém seus pais não tiveram essa oportunidade. Esse acidente ocorreu há uns cinquenta anos atrás, mesmo assim, a radiação pode ficar no ambiente por mais de sessenta anos — Júnior comenta.

    Minha curiosidade como sempre me domina, por isso questiono:

— Professor, você sabe dizer se alguém tentou ir até lá recentemente?
— Mesmo sendo difícil, pois pra isso é requerido uns dois ou três dias de caminhada na mata, há um tempo atrás um amigo meu foi até lá. Foi na intenção de colher amostras, pra fazer umas pesquisas — ele me responde.

    A necessidade de aventura me domina. Desde pequeno gosto de explorações, devido a isso deixava meus pais malucos com meus sumiços repentinos em todos os lugares em que íamos.

    Fiquei inquieto durante as outras aulas do dia. Formei um plano em minha mente e, feito isso, o passei para meus amigos. Os alertei e disse que nas férias de meados do ano iremos dar um passeio. Explico a eles que até lá devemos conseguir todos os materiais necessários para essa expedição. Devemos planejar tudo minuciosamente.

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