Chegada

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    Catarine está sendo uma boa companhia. A presença dela me ajuda, me traz motivação e ânimo. Acho que, meus amigos e eu, calculamos mal a distância a ser percorrida porque parece que já estou andando à semanas. Não imaginava que me cansaria tanto.

    Ela me pergunta como nos conhecemos e como é nossa rotina no colégio... Respondo de uma forma minimalista.

— Mas... E você, como conheceu sua amiga? — pergunto.
— Lindsay se mudou pra minha rua há uns dois anos — ela responde com um olhar distante, como se estivesse lembrando como tudo aconteceu.
— Como soube da praia?
— Em uma reunião de família. Não é curioso como os adultos são sem graça! — Balanço a cabeça em concordância. — Meus tios estavam conversando sobre essa praia e disseram que desde pequenos ouviam meus avós contarem sobre quando iam até lá. Como nunca tiveram curiosidade de conferir? — ela questiona franzindo as sobrancelhas.
— Também já pensei sobre isso, não consigo entender! — ironizo.

    Catarine tem uma bússola, nos ajudando assim a não nos perdermos.

— Espera! — Catarine diz colocando a mão à minha frente para que eu pare.
— O que foi? — Levo um certo susto.
— Olha. — Ouço sua voz enquanto sigo com o olhar à direção de seu dedo indicador apontado para uma árvore.
— Para onde exatamente eu devo olhar? — questiono por não ver nada de diferente.

    Ela não responde, apenas anda em direção ao que ela viu. Segundos antes de Catarine se aproximar do objeto, vejo oque é. Um pequeno laço de fita vermelho.

— Era dela? De Lindsay?— questiono.
— Era. Pelo menos assim, sei que ela passou por aqui. Sei que está no caminho certo. — Catarine diz pegando o laço.
— Vocês deveriam ter combinado, como combinei com meus amigos no caso de alguém se perder.
— Nunca imaginamos que aconteceria isso. Foi tudo tão rápido — Seu tom de voz demonstra tristeza.
— Fica assim não. — Coloco meus braços sobre os ombros dela. — Estamos no mesmo caminho que sua amiga. A encontraremos, mesmo que seja na praia.

    Catarine sorri.

— Como vocês se perderam? — ela pergunta.
— Depois de acordarmos e vermos que Brendon havia desaparecido, nos separamos para procurá-lo e deu no que deu — respondo.

    Ela abstrai minhas palavras por uns segundos.

— Quando deitei ele estava lá e quando acordei...— Havia sumido — ela me interrompe e eu somente concordo.


    Horas se passaram. Desde o momento em que achamos o primeiro laço de fita, achamos outros dois. Quando vimos o primeiro, vermelho, achamos que Lindsay havia simplesmente perdido, porém, depois que encontramos outros dois, percebemos que é tudo uma pista. Ela provavelmente está marcando uma trilha para que, caso Catarine esteja na direção certa, verá os laços e saberá que a dona dos mesmos está seguindo até a praia. Catarine me disse que sua amiga trouxe vários laços como esses que encontramos. Ela nunca sai sem levar seus inúmeros laços de fita, não imaginou que usaria até esse momento.

    Mais duas horas se passam e coletamos outro laço de fita. Visto que anoiteceu, caminhamos mais devagar e, daqui a pouco pararemos para descansar um pouco.

    Andamos por quase toda madrugada para adiantar e agora que amanheceu voltamos a acelerar os passos. Nessa parte da floresta as árvores são entortadas, formando alguns túneis. Lindsay demonstra muito cansaço, já que paramos poucas vezes. Deixo que ela apoie em mim para caminhar, mesmo estando cansado também. E, quando não aguentamos mais, paramos e dormimos um pouco.

    Olho para o horizonte, dentro do túnel de folhas, e vejo uma luminosidade avermelhada, parece que o sol está se pondo. Não consigo ver mais nada além da forte luz que vem ao nosso encontro. Percebo que chegamos. Percebo o limite das árvores, já que consigo ver o sol a minha frente, algo que antes era impossível por causa da barreira de folhas. Sinto uma brisa fresca e suave enquanto me aproximo dessa luz no fim do túnel. O frescor da brisa circula ao meu redor e os galhos das árvores curvam-se ainda mais por causa do vento, mesmo que pareça fraco.Sou dominado por uma alegria inenarrável, pois mesmo com toda dificuldade, eu consegui. Eu consegui! Corro para chegar mais rápido, para ver que isso é real e não apenas imaginação. Corro porque quero ver com meus próprios olhos. Corro porque cheguei. Cheguei na tal praia.


Praia RadioativaOnde histórias criam vida. Descubra agora