Três.

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Falar pra tu? A noite foi maciça. Ficou mó quebrada lá, fumei 12345 com eles, pedimos um mc e cai madrugada a dentro, só percebi quando o dia amanheceu. O som da caixinha estralando e nos só marolando na loja.

Após um banho longo me deitei na cama de barriga pra cima e fechei os olhos. Não conseguia dormir. Comecei a pensar na favela, um flash começa a passar na minha mente.

Que brisa é essa?! Pô Skank...

Me vejo criança, sorrindo pelas ruas e becos, correndo, pulando muro e em cima do telhado pegando pipa. Cresci, sou adolescente e começo a entrar no mundo do tráfico e do vício.

Minha mãe chora, eu tento acalma-lá dizendo ser passageiro e que é apenas para nós não sofrermos mais.

Cresci dentro do tráfico. Me torno chefe pelo Comando. Dinheiro, mulher e poder. O principal que recebi? Inimigos. Minha mente voa até os moradores atuais da comunidade. Um por um. Conheço uma grande parte, conheço todos de vista. E sempre vou lembrar. Aprendi a marcar morador da quebrada. Seja pelo jeito, por alguma característica ou modo. É preciso.

Mulheres, passou-se através dos meus olhos a maioria. Nas que eu desejei quando moleque e nunca me deram bola, me zoavam e hoje em dia? Ah, hoje em dia elas comem na minha mão. Passou as sonhos de consumo que eu consegui arrastar. Passou-se uma por uma até chegar na que eu não imaginei que veria.

Ruiva.

Aquele jeito todo meigo da fala, toda certinha me irrita. Lembrei-me do dia em que ela chegou na boca com uma piranha minha, ela havia arremessado uma mesa na garota e a espancado. Foi hilário. Com todo aquele jeito meigo dela.

Abri um sorriso. Fechei. Balancei a cabeça. Respirei fundo.

Fabi: Não consegue dormir, neguinho? — Me interrompeu chegando perto e se deitando ao meu lado.
Otávio: Tá foda pretinha! Mente tá a milhão. — Suspirei.
Fabi: Coração?
Otávio: Antes fosse, lombradão pensando várias fita que a gente passou.
Fabi: Eu entendo, sinto muita falta da nossa mãe, preto. - Se deitou com a cabeça apoiada em meu peito. Comecei a fazer carinho.
Otávio: Ela tá guardada com Deus lá em cima.
Fabi: Otávio, você me ama?
Otávio: Te fuder Fabiana! Sou teu irmão. Lógico que amo.
Fabi: Você é tão malvadinho comigo. - Gargalhei.
Otávio: Sou homem. Amo você. Mas tenho ciúmes. Você é a única pessoa que tenho nesse mundo.
Fabi: Por que não me deixa namorar, Otávio?
Otávio: Por que não existe homem que preste. Se eu souber que tu tá com algum lagarto desde moro, eu te arrebento. - Puxei o cabelo dela de leve.
Fabi: Vou virar lésbica desse jeito.
Otávio: - Ri. - Ah suave, tem bom gosto igual o irmão.
Fabi: Ridículo! Viu cochilar aqui contigo, tá?

Concordei com a cabeça. Eu amo a campainha dela. Eu sei que ela não me entende, mas aqui não existe homem que preste. E eu não sou nem um otário, sei que ela pega meu amigo. Por isso eu digo, homem não presta.

Foda-se meu ciúmes.

Se fosse macho ia vir falar pra mim que come minha irmã, independente do meu ciúmes e do que eu falasse, se gostasse dela ia querer passar até por cima de mim. Sem contar que, eu sou homem. Homem conhece homem. Né.

Fabi: Otávio... Otávio? - Ouvi sua voz enquanto ela me balançava.
Otávio: O que foi? Me deixa dormir. - Virei-me.
Fabi: Ó, a Ruiva tá aqui, ok? Não vamos para a escola. Pelo amor de Deus, trata ela bem, é a única coisa que eu te peço!
Otávio: Vai ficar enfiando essas minas aqui em casa agora? Sabe que eu não gosto de gente aqui Fabiana.
Fabi: Ué, mas você trás vários machos. Tá, enfim, é só ela. A gente conversou, lembra?
Otávio: Tá, pede alguma coisa pra nós comer aí.
Fabi: Amo você. - Me beijou e saiu correndo do quarto, louca mesmo.

Tadinha né?! Eu boto pra correr todas as amizades que a mina faz, vai que dessa vez ela sossega o cu e vira crente também? Pelo menos ela na igreja acho que eu tenho mais proteção, vai saber...

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