O Vazio

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Meus companheiros pareciam tão aturdidos quanto eu. Somente podia imaginar que tipo de pesadelo eles haviam presenciado naquela travessia. O fel queimava dentro do meu peito em um desejo súbito de vingança. Por um momento, eu queria apenas me vingar do maldito que havia me feito passar por aquilo novamente.

-Vamos- Aleviendha bradou- Estamos quase.

Senti a energia agridoce da elfa percorrendo meu corpo, nutrindo minhas células amortecidas e me dando ânimo para prosseguir. Os outros se levantaram. Eu levantei em seguida, como se minha dor fosse maior que a deles, como se eu fosse digno de permanecer caído ali.

Chacoalhei minha cabeça na tentativa infantil de afastar aqueles pensamentos moribundos. Aticei a chama vil dentro da minha alma e invoquei um demônio, um Doom guard.

Houve um tempo em que eu precisei de cinco companheiros para perfazer o ritual necessário para invocar uma criatura como aquela e, ainda assim, meu domínio não durava mais que alguns instantes. Hoje, porém, eu podia fazê-lo sozinho e de tal forma que a criatura permanecia à minha mercê enquanto me fosse conveniente.

Deixei o fel fluir através do meu corpo, sentindo os estalos de mana do meu robe. Minhas bênçãos demoníacas se estenderam aos demais, aguçando sua percepção mortal. Nenhum deles fez objeção.

Corremos, atravessando a caverna obscura. Não estávamos mais em nosso mundo. Estávamos em outro lugar, um lugar desconhecido para mim. Pelo ele que me ligava ao demônio, senti sua insegurança e confusão. Nem mesmo ele fazia ideia de nossa localização.

O corredor de pedra se abriu revelando uma câmara imensa, no centro da qual, havia um altar. Nas paredes ao redor, eu vi crânios, centenas deles, cobertos por runas e com o topo aberto. Dentro deles, estavam os miolos ressecados de seus proprietários. Ao lado do altar, um renegado segurava um cajado e uma adaga. Sobre o altar, Eldred.

-Solte-a!- o goblin gritou, revelando nossa presença.

-Seus dias de loucura acabam hoje, Ariphos!- aproveitei a bravata.

O renegado gargalhou.

-Ariphos? Eu não sou Ariphos- ele falou e apontou com o cajado para uma parede sobre a entrada do túnel, onde estávamos parados.

Olhei e vi um corpo humanoide, pendurado a dez metros de altura aproximadamente. Estava coberto por roupas em farrapos.

-Quem é você?- perguntei.

-Meu nome é Marmluk.

Ouvi a voz de Aleviendha em minha mente. Eu acessei a mente do mago. Eu sei o que aconteceu: veja!

Neste instante, fui assaltado pela visão do mago e seus experimentos. Ele tentava acessar o mundo dos mortos e encontrar a alma de seu aprendiz ali dentro, por acreditar que os mortos vivos que não se tornavam renegados haviam se dividido entre corpo e alma. Para ele os corpos das criaturas erravam pelo mundo, enquanto suas almas permaneciam perdidas no plano cinzento, reservado a todos após a morte.

Usando o aprendiz como um canal, ele tentou abrir uma passagem para o mundo dos mortos, mas o que encontrou, foi um Senhor do Vazio.

Este lugar é um semiplano. Estamos entre o Mundo das Sombras e Azeroth. Aparentemente, ele deseja usar Eldred para abrigar outro Senhor do Vazio. Ele não tem poder suficiente para atravessar para Azeroth. Precisa de ajuda. Eles vão abrir um rasgo em nossa dimensão e utilizar este local como posto intermediário.

A voz dela continha uma nota de urgência difícil de ser ignorada. A ideia de Azeroth sendo consumida por uma criatura tenebrosa como aquela era insuportável. Todo nosso sofrimento, toda nossa dor, tudo causado por essas ardilosas criaturas. Desde a mácula dos deuses Antigos até o surgimento da própria Legião.

O Servo do VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora