PARTE UM: Capítulo um - A viagem.

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Meu despertador começou a tocar, abri meus olhos lentamente lutando contra a claridade que entrava pela porta de vidro da varanda. Levantei e fui para o banheiro, tomei um longo banho, fiz minha higiene e sai entrando no closet, pegando a roupa que já tinha deixado separada. Uma saia cintura alta vermelha, uma bota baixa com salto alto preto, um body preto e uma jaqueta preta. Deveria ir toda de preto, já que permanecerei todos esses meses em luto. Fiz uma maquiagem básica, escovei meu cabelo e peguei meu Ray - ban. Desci para tomar café e avistei minhas malas na sala, lembrando que meu pesadelo era mais real do que eu queria que fosse. Entrei na cozinha cumprimentando Maria e minha mãe logo entrou atras dando piti com alguém no celular. Peguei um pote com salada de frutas e comecei a comer.

- Sophie, sinto muito, mas não vou poder te levar - mãe falava enquanto pegava uma fruta na mesa - tenho que ir correndo para a agencia resolve um problema se não eu perco o meu voo.

- Sem problemas, já era de se esperar. - revirei os olhos.

- Quem sabe ficando longe você entenda o seu comportamento e veja que eu faço tudo por você. - ela disse seria me olhando.

- Tanto . Faz . - falei pausadamente e sorri ironicamente pra ela.

- Desisto - ela disse saindo da cozinha - espero que você não termine de enlouquecer seu pai.

Terminei meu café e Anthony, meu motorista, entra na cozinha avisando que já tinha colocado as malas no carro. Me despedi de Maria que já estava com os olhos cheios de lagrimas. Desde que nos mudamos de volta para o Brasil, Maria tem sido a mãe que a minha não foi e cuidou de mim a todo momento. Peguei minha bolsa e coloquei meu celular dentro. Desci até o carro e entrei a caminho de Congonhas. Só de imaginar as 11 horas de voo e depois mais uma eternidade até o fim do mundo que meu pai mora já me desanima mais. Quando eu era pequena e fomos embora pra lá, eu amava toda essa experiencia na fazenda, ajudava meu pai com os bichos e até andava a cavalo, talvez tenha vindo dai minha vontade em ser veterinária. Mas para minha mãe aquilo não bastou e a agradeço hoje por isso. Quando estava prestes a fazer 11 anos ela abandonou tudo e nos viemos embora de volta ao Brasil. Desde então tudo se tornou como devia ser. Hoje faço faculdade de medicina, mais por vontade da minha mãe. E nesses 8 anos que se passaram desde que viemos embora, só vi meu pai uma unica vez. Mas ele sempre me ligava, mas a maioria das vezes eu nunca estava em casa. Mas o que importava era minha pensão que sempre vinha mais alta do que o devido, já que minha mãe se apropriava de boa parte. E agora como maneira de me irrita enquanto minha mãe viaja para Paris com suas amigas, eu vou ter que passar os quatro piores meses da minha vida com meu pai em seu adorável meio do nada.

***

Chego no aeroporto, me despeço de Anthony e vou fazer o check in. Falta 1 hora para o voo, despacho minhas malas e fico esperando na sala de embarque. Como vou de primeira classe, não há muitas pessoas na sala. Logo começa a chamada para o voo. Entro no avião, procuro meu lugar e me sento. Agradeço que ninguém tenha se sentado do meu lado. Acabo dormindo a maior parte da viagem e sonhando com meu pai. Ele era algo do meu passado que eu não gostava de tocar, já que o que eu vi nos primeiros anos da minha vida não fazia mais parte dela nos dias de hoje. Depois de quase 12 horas com algumas turbulências, o avião pousa em Dallas, já era quase meia noite quando peguei as malas e fui para a saída do aeroporto. Logo avisto meu pai, impossível não reconhecer. Sua fivela brilhava de longe junto do seu chapéu na cabeça. O mesmo veio até mim e me puxou para um abraço apertado.

- Meu Deus, como você cresceu - ele disse sorrindo enquanto levava a mala para o carro .

- Comparado a ultima vez que você lembrou que tinha filha, sim eu cresci em 5 anos. - sorri ironicamente e entrei no carro.

- Esse tempo juntos irei te provar que nunca te esqueci filha - ele entrou no carro e começou a dirigir.

- Não mesmo, todo mês seu dinheiro sofrido estava na conta - revirei os olhos e coloquei meu fone de ouvido.

Encostei minha cabeça no vidro e fiquei ouvido musica o caminho todo. Levou mais ou menos uma hora para chegarmos a sua fazenda. Estava totalmente diferente do que eu me lembrava. Havia um longo caminho com coqueiros altos e iluminação até a casa que era o centro da fazenda. Assim que ele parou o carro, desci e fiquei olhando mesmo que fosse a noite, ainda dava pra ver os pastos em volta através da luz da lua. Havia muitas casas no fundo que não me lembrava. Meu pai tirou minhas malas e foi entrando na casa.

- Venha Sô, vou te mostrar seu quarto. - ele entrou e logo fui atras.

Subimos a escada e ele abriu a porta e entrou, deixando as malas ao lado da cama. O quarto era o meu antigo quarto. O papel de parede ainda era o mesmo: rosa cheio de cavalos. No lugar da cama rosa, havia uma cama box de casal com o lençol rosa e travesseiros rosas. O guarda roupa agora era enorme e de madeira escuro igual da cama. E havia um enorme espelho na parede ao lado da cama.

- Se você pode me dar licença, eu estou cansada e tenho que arrumar minhas coisas. - falei entrando no quarto.

- Certo, amanhã cedo vou te levar para conhecer a fazenda. Fique pronta. - ele veio até mim e me deu um beijo na testa. - estou feliz por você está aqui, espero que não seja tão ruim para você ficar ao lado do seu velho pai. - ele saiu fechando a porta.

Comecei a desfazer a mala e pensando como irei arrumar isso, se nunca tinha feito isso na vida já que Maria sempre deixou meu closet em ordem. Comecei separando as peças, logo peguei jeito e até gostei de deixar meu guarda-roupa do meu jeito. Ele era grande e coube tudo, até meus saltos e botas. Como imaginei que iria ter que ser arrastada para algum rodeio, trouxe o ultimo lançamento da Dior em botas de salto. Mas só de imaginar elas em contato com terra meu coração já apertava de dó. Logo que terminei tudo, fui para o banheiro que tinha ali. Ele era quase menor que o lavabo da minha casa, me espremi e consegui tomar um banho. Vesti um baby doll preto e fui dormir. Ou tentar, se não houvesse tanto barulho de bichos la fora.

8 segundos para o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora