Sublimação (2010)

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Odeio andar no escuro, ainda que tenha ciência de que os fatos mais saborosos são aqueles inusitados. Irritam-me as surpresas, talvez porque a adrenalina do desconhecido faça os meus passos tão firmes cambalearem na imensidão de hipóteses que representam as probabilidades. Será a cautela, então, a resposta? Ou felicidade programada e livre de riscos tiraria a emoção de viver? Quero sentir frio na barriga e sair ilesa das quedas; gosto de brincar com fogo, mas tenho medo das queimaduras. Temo os atos destemidos assim como os momentos de que me privei por temer demais; acomodação amadora daquele que ainda não aprendeu a viver.

Programar os fatos não é prevê-los, tampouco experimentá-los ou tirar deles a moral da história. Quem muito esboça rabiscos abstratos nunca suspendeu as mangas para construir algo concreto, ainda que imperfeito. O segredo é aperfeiçoar o palpável, uma vez que o incorpóreo se dispersa com a mesma facilidade com que se agitam as suas moléculas energéticas. Só é preciso ter a paciência de amar aquilo que é gradual, apreciar cada uma das etapas que compõem todo tipo de transformação. Mudança instantânea é sublimar entre extremos e eu não nasci para ser gelo seco, muito menos naftalina.

Talvez eu seja como a água, tenha fases bem definidas, mesmo que alternar fluxo de energia me canse e até me apavore. Resta saber qual delas mais me define e finalmente perder o medo de me expor mutante uma vez ou outra. Fachadas sempre muito perfeitinhas são as que mais enchem o saco! Eu cansei da compostura.

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