PRÓLOGO

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Raios vespertinos entravam pela janela ao lado da estante e partículas de poeira flutuavam visivelmente, suspensas no ar. A mesma luz incidia sobre o vidro que comportava um líquido translúcido, sobre o móvel — seis pares de globos oculares flutuavam submersos nele. Duas esferas ambarinas, duas verdes, algumas quase tão escuras como azeviche, mas nenhuma com o brilho de antes.

Sobre a poltrona em frente, ele observava, absorto, a urna cristalina que encerrava os despojos de suas solitárias batalhas. Estava inclinado a obter mais um par.

Ao lado alguns recortes de jornais retratavam suas façanhas no último ano. O trabalho da polícia até o momento era risível — não pela incapacidade deles, mas por competência sua. O jogo começava a ficar interessante e os jornais evidenciavam isso noticiando a chegada de nova "força" para solucionar o caso do "maníaco tira-olhos" — pensou o observador com um gesto de desdém, expressando seu desagrado pela alcunha.

Para ele, não se tratava propriamente de um jogo. Era mais uma necessidade, um prazer e, sobretudo, uma busca obstinada. Entretanto não costumava recuar diante de uma provocação e o desafio de ludibriar o novo delegado responsável pelo caso apenas aumentava a satisfação.

BRUMAS DO PASSADO - SÉRIE PRETÉRITO IMPERFEITO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora