Capítulo 6

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A janela estava aberta, a brisa noturna passeando suavemente sobre as costas de Guilherme. Estava deitado de bruços na cama, vestindo apenas uma boxer, mas não conseguia dormir, a mente atribulada.

Mais cedo havia entrado em casa com o corpo vibrando de ira e agora alternava pensamentos sombrios entre o caso hediondo que tinha em mãos e o arrependimento por ter estado com a ex-amante naquela tarde. Mesmo depois do banho sentia-se sujo, contaminado. Não sabia ao certo o que tinha acontecido, mas, apesar de se submeter, sentira uma energia maligna emanando da mulher com quem se deitara tantas vezes antes. Também tinha raiva de si mesmo por se deixar subjugar pela vontade daquela criatura mimada, sobretudo movido pela luxúria. Ele gostava de sexo, e muito, mas sempre se orgulhara de seu controle e sensatez.

Cansado, tentou esvaziar a mente dos pensamentos desagradáveis. Sentiu as pálpebras começarem a pesar, a tensão se desfazendo com lentidão, e adormeceu com o rosto de Marina gravado na mente.

Jasmim, notas de violeta, sândalo e bergamota. Marina. O perfume dela. Guilherme sentiu a carícia sobre o pescoço e as costas. O roçar suave da ponta do nariz sobre a pele provocava-lhe arrepios na nuca.

As delicadas mãos subiram pela linha da cintura dele até os ombros, os dentes arranhando a pele firme e distribuindo suaves mordidinhas, deixando-o duro, excitado.

Por um momento deixou que ela pensasse que ele estava dormindo, até que não pôde mais resistir e se voltou subitamente.

Marina fez menção de se erguer, mas ele a envolveu pela cintura com as duas mãos e com um rugido, num movimento rápido, atirou-a contra a montanha de travesseiros.

Colocou-se sobre ela, que sorriu mordendo os lábios enquanto ele suprimia suas tentativas de derrubá-lo para fora do colchão, e o que era uma dança sensual acabou se transformando em uma brincadeira. Ambos riam, um riso baixo, contido e íntimo, não necessitavam de uma declaração explícita para compreenderem um ao outro, o que estavam sentindo.

Guilherme imobilizou os braços da mulher, as mãos delicadas de Marina acima da cabeça, e deixou o corpo repousar livremente sobre ela, que ainda resistia. Suprimiu um protesto ao deitar os lábios sobre sua boca, a ponta da língua sobre a carne macia, incitando-a. Quando a invadiu aprofundando o beijo, eles retrocederam, e uma inspiração totalmente carnal passou a dirigi-los enquanto ele a tocava intimamente, totalmente excitado. O corpo feminino já não reagia repelindo, mas buscando, arqueando-se em direção à mão que a estimulava, até que o telefone soou rompendo o encanto.

Guilherme acordou.

— Merda — murmurou.

Ainda estava de bruços enquanto resmungava sobre o travesseiro. Movido pela consequência natural do sonho que acabava de ter, arqueou os quadris, o movimento instintivo do homem que quer ser recebido pelo corpo quente de uma mulher, mas isso não encobriu o fato de que se encontrava sozinho naquela cama.

O celular ainda tocava incessantemente, e ele não tinha escolha senão se levantar. Ficou ainda mais aborrecido ao descobrir que era apenas engano, mas ainda assim precisou de uma ducha e de "cuidar" de si mesmo para acalmar os ânimos antes de conciliar o sono.

No dia seguinte chegou à delegacia antes das sete horas e sua equipe, de apenas mais dois policiais, ainda não havia assinado o ponto. Tinha se levantado determinado a vasculhar cada recanto do problema sem solução que tinha em mãos, mas, após trinta minutos do início do expediente, não havia feito nada de útil — ocupara a cabeça com nada mais que uma pessoa, uma mulher, e apenas isso. Que espécie de idiota ele estava se tornando?

Estava impressionado com aquele sonho, com a cumplicidade que parecia ter com ela, praticamente uma desconhecida. Pareceu tão real. Jamais havia se sentido assim com alguém. E nem com ela — disse a si mesmo enquanto lutava para tirá-la da cabeça —, já que isso não passava de um sonho. Um sonho bobo— pensou e, com isso em mente, conseguiu recobrar a costumeira objetividade.

BRUMAS DO PASSADO - SÉRIE PRETÉRITO IMPERFEITO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora