Capítulo 5 - De volta ao mundo real

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Depois de dirigir mais de quarenta quilômetros até o aeroporto internacional, Guilherme pensava seriamente em enforcar Angelina. Já estavam no carro dele — eles e um amontoado absurdo de malas — quando ele perguntou aonde deveria deixá-la.

— Tenho reserva em um hotel, mas prefiro ficar com você na sua casa — ela respondeu.

Guilherme não podia acreditar no descaramento daquela mulher e não imaginava o que a levara a pensar que, pela primeira vez, pisaria na casa dele. Nem quando eram amantes ele tinha permitido tanta proximidade, não levava qualquer uma para a intimidade de seu lar, era pessoal demais. E não era do tipo que confiava ou alimentava fantasias impraticáveis. Seus encontros casuais aconteciam sempre em hotéis, e agora ela esperava que ele a hospedasse!

— De jeito nenhum — respondeu em tom resolvido e sem qualquer constrangimento. — Não estou preparado para receber hóspedes. Minha casa nem está mobiliada e, além disso, Angelina, é bom que saiba de uma vez que não tenho tempo para ficar batendo pernas pela cidade com você. Não espere que eu te leve a festas e nem sonhe em me fazer de guia turístico. Estou num caso muito importante, o último da minha carreira, e ainda tenho que me desdobrar em meu outro trabalho.

— Tudo bem. Eu me viro — disse, claramente dissimulando a mágoa. — Meu motorista e o segurança estarão na cidade amanhã e, já que estou aqui, pretendo explorar a noite de BH. Entrarei em contato com uns amigos do papai que... Ah, esquece! Vou me divertir, não precisa se preocupar comigo.

Mal-humorado, Guilherme a ouviu meneando a cabeça. Ainda não havia dado partida no carro, esperando que ela dissesse o nome do hotel.

— Não consigo imaginar o que pretende fazer aqui, Angelina. BH não tem nada que você já não tenha visto no Rio, em São Paulo, ou pelo mundo afora. Tenho certeza de que não veio fazer turismo de negócio.

— Eu sei, mas eu já programava há algum tempo vir para contatar uns amigos, dizem que o povo mineiro é muito hospitaleiro, e papai tem umas conexões importantes aqui, está sempre pedindo que eu ajude a fortalecer esses laços... Ah, quer saber? Não importa. Não precisa se incomodar, eu também não preciso de babá.

Logo mais, no saguão do hotel mais luxuoso da cidade, após fazer o check-in Angelina o convidou a acompanhá-la até a suíte, mas ele declinou.

— Nossa, Guilherme, nem um drinque você pode tomar comigo? Arrastei meu traseiro até aqui, centenas de quilômetros da minha casa, só para ver você! — acabou confessando. — Okay, talvez eu tenha me precipitado, mas liguei avisando antes de embarcar, e você não disse que eu não podia vir. Agora já estou aqui e, se é assim, não vou voltar só porque você me recebeu com mil pedras na mão. Não consigo acreditar que não possa dispor de dez minutos de seu precioso tempo. Que falta de consideração!

Guilherme exalou e se absteve de dizer que já estava havia mais de quarenta minutos por conta dela. Poderia estar desfrutando a agradável companhia da irmã e de uma mulher linda, doce e adorável, mas estava ali suportando um chilique daquela mulher fútil e mimada. Também não disse que teria agora que fazer o trajeto para casa, onde ficaria sem companhia, graças à ideia genial dela de "arrastar o traseiro" até ali sem ser convidada. Porém, em vez disso, ele aquiesceu.

— Mas é apenas para uma bebida rápida. Preciso descansar, não estou de férias — declarou e entrou com ela no elevador.

Minutos depois entravam em um apartamento amplo, por uma sala de estar espaçosa, que antecedia o restante das acomodações. No centro do recinto, um sofá em "L" de tonalidade neutra, bastante convidativo, mas Guilherme passou por ele com indiferença, indo diretamente para uma janela na outra extremidade. Ali ele parou e permaneceu, enquanto a loira platinada reconhecia a suíte.

BRUMAS DO PASSADO - SÉRIE PRETÉRITO IMPERFEITO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora