Capítulo 7

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Às oito em ponto, a secretária de Dr. Nelson, psiquiatra, adentrou o consultório. Todas as manhãs ela preparava calmamente o café na pequena copa , antes mesmo de abrir a agenda e começar a receber os pacientes. Começavam a chegar após as nove e meia, quando o médico iniciava os atendimentos, mas naquela terça-feira, estranhamente, o telefone soou antes do horário de expediente do doutor.

Deixou a cafeteira antes mesmo de inserir as duas medidas de pó de café e dirigiu-se para o balcão onde passaria o dia atendendo a telefonemas, recebendo os pacientes.

Um homem queria marcar uma consulta o mais rápido possível. A agenda de Dr. Nelson estava lotada, mas, por sorte, havia um cancelamento, e o pretenso paciente pôde agendar uma visita ao

Naquela manhã de terça-feira, Guilherme não foi à delegacia. Havia muitas questões a resolver na empresa, e ele deixou o assistente de plantão por lá.

Tinha que admitir que precisava de uma válvula de escape. No Rio de Janeiro tinha uma vida social ativa, recebia muitos convites para festas, jantares e, apesar de trabalhar muito, não deixava de sair para se divertir. Companhia feminina também nunca faltava.

Agora, após anos longe da cidade natal, sentia-se meio perdido, um peixe fora d'água. Queria restabelecer os antigos laços, mas não encontrava tempo nem disposição para se entrosar novamente com as pessoas. A essa altura seus amigos tinham tomado rumos distintos, uns casados, outros cuidando da carreira... Nem sabia se encontrariam a antiga afinidade.

Enquanto ele refletia, sua mente era assaltada pela imagem de um rosto oval de pele suave e alva, adornado por duas esferas azuis, os olhos que o vinham assombrando ostensivamente nos últimos dias. Não sabia qual era a razão disso, afinal mal a conhecia. Talvez pelo desafio que implicava tentar qualquer aproximação daquela mulher. Isso, ao menos, era o que ele vinha repetindo mentalmente durante dois dias consecutivos, na tentativa de convencer a si mesmo. Em outras circunstâncias, a convidaria para jantar ou para outro programa qualquer, mas, levando em conta os avisos de Juliana no domingo, ele hesitava.

Guilherme pegou o celular e girou na cadeira, dando as costas ao notebook que estava sobre a mesa. Discou para a irmã, que atendeu após dois toques apenas.

— Oi, maninho! — Juliana o saudou com o tom alegre de sempre, mas parecia um pouco ofegante.

— Oi, Ju. Pode falar? —perguntou, mesmo não estando certo do que diria a ela. Tinha feito a ligação respondendo a um impulso, como se falar com Juliana aproximasse seus pensamentos da realidade. Não que ele estivesse tão consciente disso. — Se estiver dando aula, ligo depois.

— Só tenho um minuto, manda ver.

— Queria pedir um favor...

—Pode falar — ela incentivou, talvez percebendo que o irmão hesitava.

— O número do telefone da sua amiga — Guilherme pediu respondendo a outro impulso.

— Hã?

— Você ouviu.

— Para quê?

— Juliana! — repreendeu o delegado.

— Se você não responder, eu não dou — retrucou com atrevimento.

Ele suspirou profundamente e a satisfez:

— Okay, quero convidar sua amiga para sair. — Encolheu os ombros como se sua irmã pudesse vê-lo e entender o óbvio.

— Convidar a Mari? — inquiriu num tom repleto de confusão, e Guilherme visualizou as sobrancelhas claras da irmã se unindo.

— Isso — foi taxativo, mas voltou os olhos para o alto, impaciente. Começava a se arrepender de ter ligado. — Qual é o número?

BRUMAS DO PASSADO - SÉRIE PRETÉRITO IMPERFEITO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora