Capítulo 3

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Deixando o calhamaço de lado, Guilherme apertou os olhos com dois dedos e refletiu sobre o responsável por seu cansaço mental

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Deixando o calhamaço de lado, Guilherme apertou os olhos com dois dedos e refletiu sobre o responsável por seu cansaço mental. Já estava em Belo Horizonte havia três meses, a pedido do secretário de segurança do Rio, que respondia a uma demanda do mesmo setor em BH. Delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa no Rio de Janeiro, fora cedido temporariamente, com o objetivo de resolver um único caso — a opinião pública já se impacientava.

Para ele foi providencial, já que pediria exoneração do cargo em breve, para assumir os negócios da família.

Embora não duvidasse da competência e da experiência do delegado que cuidava anteriormente do caso, depois de ler e reler o inquérito continuava a examiná-lo tentando encontrar falhas, brechas que apontassem para algum suspeito, talvez. Não à toa fora designado para esse caso — sua reputação o precedia —, e ele sequer cogitava a possibilidade de falhar. Ao longo da trajetória como delegado, não deixara sequer um caso sem solução, mas esse, justamente o último de sua carreira policial, parecia retratar o crime perfeito. O autor daqueles assassinatos, com certeza, era muito inteligente, hábil, não agia ao acaso.

Apesar disso, Guilherme sabia que o crime perfeito não existia. Nada era perfeito, ou não existiriam perfeccionistas como o homem que estava agora em sua mira. Ele conhecia bem esse tipo de maníaco, que planeja cada passo com cuidado e raramente deixa rastros; esperaria pacientemente até que sua humanidade prevalecesse. Em algum momento o sujeito escorregaria, e o delegado estaria lá para apanhá-lo.

As conexões encontradas entre os assassinatos não eram muito substanciais, e Guilherme presumia que isso não acontecia ao acaso, que a ausência de referências fosse uma estratégia do criminoso, um sujeito escorregadio, que parecia caminhar no ar. Era possível determinar alguns padrões, bem rasos na verdade, na atuação do maníaco. As vítimas eram todas mulheres, jovens, e isso era tudo que as ligava. Já o modus operandi era bem definido — ele as estuprava, retirava seus olhos e matava por esganadura. Um trabalho, ele diria, quase "limpo". Sem impressões digitais, sem material biológico estranho, mas com muito sangue, dada a falta de precisão e a crueldade com que se apoderava dos troféus, galardões de seu ego bestial, os olhos das vítimas.

Elas sequer frequentavam ambientes em comum, o assassino tinha o cuidado de pulverizar sua maldade, e a parca ligação entre elas, sua feminilidade e beleza, era tão vasta quanto um céu noturno sem nuvens, repleto de estrelas. Era como procurar agulha no palheiro, e o delegado temia não poder agarrá-lo antes que houvesse mais assassinatos.

Guilherme já era responsável pelo caso oficialmente quando o criminoso fez as duas últimas vítimas, mas ainda não acrescentara qualquer dado novo ao inquérito. A última mulher assassinada fora encontrada uma semana atrás e ele aguardava os resultados da perícia para estipular um novo ponto de partida. Reveria também os laudos periciais anteriores e verificaria se algum dado relevante havia passado despercebido ou se fora subestimado.

BRUMAS DO PASSADO - SÉRIE PRETÉRITO IMPERFEITO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora