《" Truce "》"Trégua" -《Kotaro》

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Acordei cedo. Na verdade eu mal tinha conseguido dormir naquela noite por conta da ansiedade. Fiquei lembrando de como foi bom sentir o gosto de Ayu em minha boca.

Senti Pochi andar por cima de minha barriga, o que me causou pequenas cócegas. Eu o acariciei. Me levantei bobejando um pouco. Passei a mão em meus cabelos e bocejei de novo.
Olhei no relógio ao meu lado.
Eram 07:55 da manhã.
- Preciso de um banho... - Falei, tirando minha camiseta e me direcionando para o banheiro.

(...)
Após tomar um banho demorado, saí andando com a toalha amarrada em minha cintura.
Sacudi meus cabelos que estavam molhados.
Peguei um jeans rasgado e uma blusa qualquer em meu guada-roupas e me troquei. Peguei a chave que Nara havia me dado e coloquei no bolso.
Desci as escadas e Pochi veio atrás de mim. Ele estava faminto. Coloquei um pouco de ração de gato em seu pote e o deixei ali comendo.
Não tomei café, eu não estava com fome.
A única fome que eu tinha era de outra coisa.

Peguei meu celular e fones de ouvido, os coloquei no bolso e saí.
Me virei para a porta de Ayu e palpei meus bolsos procurando a chave, até que a encontrei. Toquei a maçaneta da mesma e a abri, entrando e fechando-a por trás de mim.
Caminhei entre a sala.
Estava tudo silencioso. O dia estava claro o sol iluminava todo o cômodo.
Nada mal para um dia de sábado.
Provávelmente a mãe de Ayu já havia saído para o seu trabalho.
Olhei em volta, me deparei com um bilhete sobre o balcão. Eu o peguei.

" Para: Kotaro.
Espero que fique tudo bem com vocês dois, voltarei daqui a algumas semanas, por favor, cuide bem dele para mim, estou contando com você.
Ps: Explique tudo para o Ayu, ele ainda não sabe que você vai cuidar dele, não consegui dar a notícia ontem de noite.
Fiquem bem!
De: Nara "

- Então quer dizer que ele não sabe de nada ainda...?! - Comecei a sorrir torto.

Sem querer perder tempo, subi as escadas fitei a porta mais chamativa do corredor.
Havia um pôster com alguns personagens daqueles desenhos japoneses que Ayu gostava de ler.
Sem dúvidas aquele era o seu quarto.
Virei a maçaneta e abri cautelosamente a porta.
Lá estava ele, deitado sobre sua cama abraçado a um travesseiro. A janela estava aberta, dando claridade total ali dentro.
Me aproximei dele e o observei mais de perto, ajoelhando-me ao seu lado na cama.
Ele era tão adorável quando estava dormindo.
Olhando assim sua expressão calma, nem parece que ele é o garoto mais arrogante que já conheci.
Alguns botões do seu pijama estavam desabotoados, deixando parte de seu peito a mostra.
Meu Deus, que tentação.
Estendi a mão para o tocar.

Passei a mão em seus cabelos loiros e tirei alguns fios que caíam em sua face os colocando por trás de sua orelha. Seu rosto era tão pequeno e delicado, deslizei os dedos em torno de seus lábios e fiquei os encarando ali.

O que eu devo fazer?
O que devo fazer?

Debrucei meu rosto e o aproximei do seu. Mas então Ayu acordou abrindo lentamente os olhos.
Ele piscou algumas vezes e franziu a testa.
- Kotaro...? - Chamou sonolento meu nome, confuso.
- Sim... - Respondi.
Assim que ele ouviu minha voz, arregalou os olhos. Se afastou de forma tão abrupta que nem vi quando ele caiu no chão apavorado.
Ele me olhou novamente, apenas para conferir se aquilo era real.
- M-m-mas que porra você tá fazendo aqui?! - Berrou, desesperado.
Foi a primeira vez que ouvi um palavrão saindo de sua boca, aquilo me fez rir.
- Que boca suja Ayu! - Tentei me aproximar para explicar tudo com calma, mas ele se esquivou extremamente rápido.
- Vai se danar! Vou chamar a polícia! - Ele correu para a porta e saiu, disparado.
Polícia?!

Não tive outra opção a não ser correr atrás dele.
Ele descia as escadas, mas então tropeçou em seus próprios pés e caiu, desatando um grito de dor.
Aparentemente, havia torcido o pé.
Que pessoa mais atrapalhada, minha nossa. Se fosse um ladrão ele não teria chance.

Nem por isso ele parou.
Cambaleou até a cozinha e pegou o telefone discando alguns números.
Tentando não rir de seu desespero, parei no meio da escada e cruzei os braços o encarando fixamente.
- Alô? É da polícia? Tem um maluco aqui na minha casa! Ele quer me estuprar! - Exclamou, exasperado.
Segurei profundamente minha risada e fui até ele. Peguei o telefone de suas mãos e o desliguei.
- Que exagero Ayu. Eu não quero te estuprar, idiota.
- Fique longe! - Ele andou mais um pouco e pegou uma das facas que estavam no faqueiro sobre o balcão.
- Ei, solte isso! - Ordenei, franzindo a testa.
- Nem mais um passo, ou eu te mato! - Ameaçou, apontando o objeto afiado para mim.
Eu o olhei entediado.
Me aproximei, pegando facilmente a faca de suas mãos e a coloquei sobre o balcão.
Me virei para Ayu, e o levantei do chão, colocando-o em meu ombro.
- Quem está querendo enganar? Você não mata nem uma mosca. - Retruquei.
- Idiota! Me solta! - Ele socou minhas costas, mas não cheguei a sentir nada além de cócegas.
Fui até o sofá e o joguei no mesmo.
- Vai me assediar agora? - Indagou ele.
- Quieto! Estou aqui a pedido da sua mãe. Leia isso. - Peguei o bilhete escrito por Nara e o entreguei.
Ele olhou para o papel um pouco emburrado, mas pegou logo em seguida e começou a lê-lo.

Alguns segundos depois Ayu arregalou os olhos.
- Isso só... Pode ser mentira! - Ralhou, incrédulo.
- Não, não é. Vou cuidar de você pelas próximas semanas. - Falei, mostrando a cópia da chave que sua mãe me deu.
- Não... Não pode ser! Minha mãe ficou maluca?! - Indagou ele, colocando as mãos na cabeça.
- Ela só pediu um favor a um amigo de confiança seu. Nada mais que isso. - Expliquei, satisfeito.
Me sentei ao seu lado, mas ele se afastou jogando um travesseiro em meu rosto.
- Corta essa Kotaro! Então foi por isso que você estava aqui ontem?! - Ele jogou outro travesseiro em mim, eu o peguei, atirando-o de volta para ele.
- Qual é... Não vai ser tão ruim. Eu vou cuidar bem de você.
- Eu não preciso de babá! - Resmungou.
Fui até ele e segurei seus pulsos aproximando meu rosto do seu. Ele se acanhou e me fitou nos olhos.
- Bom, você não sabe cozinhar e se caso se acidentar não vai ter ninguém pra te socorrer, então precisa sim de uma babá! - Zombei.
Ele corou, e como se tivesse perdido a discussão optou por dizer mais nada.
Dei um sorriso de meios lábios e o soltei.
Ele ficou encolhido no canto do sofá, me encarando com um olhar bravo.
- Você não precisa ter medo de mim. Não vou te machucar nem nada.
- Não é isso que me deixa bravo. O que me irrita é saber que você e eu vamos ficar de baixo do mesmo teto. Isso não vai dar certo! - Resmungou, escondendo o rosto em um dos travesseiros.
- Bem... Se é isso que te incomoda, irei dormir na sala todas as noites. Eu não vou te pertubar, como sempre faço. Não quero mais ficar brigando com você. Vamos fazer uma trégua tabom? Será que nós podemos ficar um tempo sem discutir?

Ele pensou um pouco e depois de um bom tempo, soltou um longo suspiro.
- Tudo bem. Que seja. Só não fique entrando no meu quarto e nem mexendo nas minhas coisas.

- Certo... - Concordei fitando seus pés.
Dei um passo até ele, me ajoelhando a sua frente.
- Deixe-me ver. - Pedi, pegando delicadamente um de seus pés.
Ele grunhiu de dor quando toquei seu calcanhar.
- Onde está a caixa de primeiros socorros? - Indaguei.
- Na prateleira ali... - Apontou para uma prateleira pequena que havia perto do balcão.
Fui até ela e procurei a caixa, assim que eu a obtive em mãos, voltei para Ayu.
Peguei uma pomada anti-inflamatória e passei em seu pé, massageando-o com cuidado. Depois enrolei seu calcanhar em um pano de bandagem para impedir que seu pé inchasse.
- Agora, não fique correndo por aí, ou ele pode inflamar. - Avisei, levantando minha cabeça para olhá-lo.
Ele estava quieto. Por algum motivo, surpreso. Apenas me encarava boquiaberto.
De repende ele corou.
- O-obrigado...
- Disponha. - Sorri, tentando ser gentil.
- Eu... Eu vou ir trocar de roupa. - Disse, enquanto tentava se levantar.
- Eu te ajudo.
- Não, tudo bem, eu consigo... - Não deixei ele terminar. Eu o tomei em meus braços e o carreguei.
- Estou aqui pra cuidar de você. Deixe-me te ajudar. - Pedi, caminhando em direção a escada e subindo-a.
Ele não disse nada, apenas ficou me olhando, como se me estudasse.
Entrei em seu quarto e o coloquei sobre sua cama.

- Bem, vou ver o que posso fazer para você comer. - Falei, tentando ser prestativo.
- Certo... - Concordou. - Kotaro! - Chamou.
- Sim.
- Obrigado.

Assenti com a cabeça.
Sai do seu quarto dando uma última olhada em seu rosto.
Ele parecia confuso. Porém satisfeito.

Aquela sua expressão me deu mais vontade ainda de cuidar dele. Eu o quero pra mim.
E vou fazer de tudo para o conseguir.

(...)

Your Last First Kiss (YAOI ♡)Onde histórias criam vida. Descubra agora