Desembarque

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O prédio erguia-se imponente por sobre o bairro de casas baixas e largas dos mais abastados. A arquitetura quadrada do conservadorismo típico das instalações públicas destacava a construção. Em frente abria-se a praça-jardim com árvores de todas as espécies: frutíferas, de cheiro doce e suculento; de flores coloridas e aromatizantes; mastodônticas coníferas desenhavam o serpenteante caminho de lajotas retangulares cuidadosamente encaixadas que davam no prédio. Em volta à passarela, bancos toscamente pintados de verde-amarelo pontilhavam o cenário aqui-e-ali. Por trás do obelisco que era o Centro de Investigações um céu noturno se desenrolava. Pontos luminosos rasgavam a noite criando uma pintura de planetas e estrelas que observavam sem juízo de valor os pobres mortais abaixo.

Markus andava lentamente por entre os pinheiros em direção a seu destino. Viu um garoto modificado, com braço e perna direitos metálicos. O membro inferior, de boa qualidade, reluzia prateado sob a luz das estrelas; o superior, por sua vez, já meio enferrujado, bronze-fosco, não tinha a mesma qualidade. Lançava ao chão, farelos de pães e bolo. Deu um risinho nervoso para Markus quando o viu. Markus assentiu com a cabeça. O garoto se escondeu atrás de um arbusto, puxou um pequeno revolver antigo e ficou em silêncio à espreita. Logo o chão da praça encheu-se das mais varias espécies de pássaros noturnos, o garoto fez a mira cuidadosamente e disparou. Uma nuvem de aves decolou em revoada, sem destino, num caos aéreo. O garoto socou o ar, praguejando "Sued", pelo erro. Markus continuou seu caminho.

Ao chegar próximo à entrada do prédio, um portão de barras de aço que formavam artisticamente o escudo da República. Deparou-se com um gigante loiro, plantado em frente ao portão. Um estampido, em seguida mais uma caótica dispersão de aves tomou o silêncio. Ao aproximar-se mais do titã alourado, olhou para cima procurando descobrir se lá em cima, havia alguma espécie de rosto. O gigante sorriu, os dentes podres desenharam uma expressão de desprezo em seu rosto. Puxou do bolso um torrão de açúcar-de-limo, levou a droga à boca e esfregou nos dentes e gengiva, dando um tom avermelhado ao preto apodrecido da dentição. Markus aproximou-se um tanto mais. Tentou colocar um sorriso amistoso no rosto:

- Uma esfregadela vai bem numa noite como essa! – não obteve êxito na missão, o homem não moveu um musculo – Por isso está com estes dentes expleguidos, matraquento. – emendou irritado.

Uma mão, dura como uma pedra envolveu-se em seu pescoço e lhe ergueu do chão, sem esforço, os pés chacoalhavam no ar. O oxigênio começou a faltar. A visão começou a turvar, escurecer.

- Ninguém te disse para não mexer com quem não pode nanico? – trovejou o gigante em um som gutural.

O titânico homem soltou Markus e sorriu:

- Eu... Eu... – Markus gaguejou, já puxando um pedaço de papel do bolso – Me mandaram vir aqui – entregou o bilhete ao homenzarrão.

- Quem te deu isso? – o gigante balançava o bilhete no ar ameaçadoramente – Não tem carimbo, não tem assinatura, isso não vale nada, é lixo.

Markus passou a mão no pescoço, sentindo o desconfortável ardor onde o homem havia lhe apertado. Já estava desistindo, quando escutou novamente o estalo dos tiros do garoto. Colocou a mão por sobre a arma que estava na cintura, pressionada contra o quadril. O gigante o encarava. Com uma rápida varredura visual tentou encontrar algum armamento no grande homem. Sentia-se impelido a pegar a arma rapidamente e efetuar três disparos na cabeça do edifício de músculos.

- Hey nanico! Qual seu nome? Vou ver o que posso fazer por você. – o homem quebrou o silêncio

- Ahn? Ah sim, me chamo Markus. – respondeu voltando a se aproximar do portão.

O Pseudo-escritorWhere stories live. Discover now