Destino

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- Eu não escrevo livros. Não porque não sei. - dizia Markus à Lúcia.

Ela estava deitada sobre a barriga dele. Ele com a cabeça sobre as mãos - um dedo trançado ao seu igual na outra mão - que por sua vez estavam por sobre um travesseiro.

- E sim porque não gosto. - Ele amável acariciou os cabelos dela, ela sorriu acordando. - Prefiro debochar de que os outros tentam fazer, mas se é para o bem da nação e felicidade geral, quando tudo isso passar você terá o meu livro! - retirou as mãos por debaixo da cabeça.

- E espero que esteja pronta! - ele retumbou. As mãos levantadas ao ar. No âmago sabia: não seria fácil assim.

Haviam saído da casa de Johnny há quatro horas, e há três já haviam entrado no hotel. Não haviam trocado nem mais que quatro palavras.

- Você está bem? - tinha perguntado Markus. Ela havia chacoalhado a cabeça em concordância. Ele a abraçou com ternura, sem motivo aparente. Ele somente fez.

- Então Markus, qual sua história? - ela havia dito isso com ar de curiosidade. Enquanto caminhavam abraçados.

- É muito longa, muito ruim e muito chata - ela sorriu no momento ao ouvir. E fora isso, mais nada de conversas.

Entraram no hotel, deitaram na cama, se abraçaram, se beijaram e dormiram. Acordaram assim, abraçados.

Aquilo era magnífico para Markus. Nunca havia sentido ligação mais profunda, entenderam-se sem precisar falar. Nenhum sexo que havia feito na vida - que não foi muito - teria feito mais sentido. Encontrara sua metade.

- De onde você é? - disse Markus, desconfiado.

Ela ainda deitada no tonel de chope que era sua barriga olhou para cima e sorriu: - Não faço a mínima ideia.

Markus ficou encucado, ou aquela mulher estava drogada, ou ele teria feito a coisa mais repugnante da história dos maníacos sexuais. Teria se apaixonado por si mesmo. Preferiu acreditar na primeira opção.

- Há quanto tempo morava com Johnny? - ele interrogou.

- Olha aqui garotão! Vê se não me enche - ela levantou-se apoiando a mão com força na barriga dele. Ele rolou no colchão de dor. Vomitou mais uma vez no balde que havia deixado ao lado da cama. O balde continuava enchendo.

Teve certeza; por algum motivo que não entendeu; aquela mulher era como ele e Larry. Agradeceu à Sued por não terem consumado; logo após praguejou por não terem consumado. Recriminou-se por ter praguejado. Havia criado um novo sentido para a palavra tabu.

- Muito bem, bonitão. Para onde vamos levar a carcaça? - Cada palavra que ela dizia, dava mais ânsia nele.

- Pensei em te deixar em minha casa antes de ir falar com a aberração. - Balançava levemente a cabeça negativamente; resignado. Não havia motivos racionais para voltar ao lugar, a tal toca. Deveria pegar Lúcia e ir ser feliz e aos vômitos; não considerava uma boa decisão voltar a encontrar o Coelho. Entretanto era a única opção possível de verdade, não adiantava viver de sonhos.

- Esse tal Coelho realmente te assusta – Lúcia estava escorada na janela, olhando o movimento da rua.

- Não é bem isso – mentiu Markus, não queria parecer covarde – Ele é uma pessoa repugnante, acho que tenho é nojo. – Ele franziu o nariz ao lembrar-se da figura – E um pouco de pena.

- Você adora esse sentimento, não é? – ela olhava a paisagem urbana sem atenção especial a qualquer coisa – Se sente intocável, o senhor perfeito – olhou para Markus e ergueu as sobrancelhas, era uma provocação boba.

O Pseudo-escritorWhere stories live. Discover now