Cap. 1 - Lembranças esquecidas

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O céu estava acinzentado, a brisa do vento anunciava o inverno às portas, eu observava o que restava das folhas já caídas, escutava o barulho relaxante das pessoas passando de lá para cá. O dia de hoje não dava muitas expectativas boas, a final era hoje...
Sentado em minha carteira, analisava o céu que logo mais carregaria em sí o amor da minha vida. Eu realmente me sentia mal por não poder apoiá-la completamente, pois hoje era o dia da nossa separação. Digo, ela poderia ir estudar em qualquer faculdade próxima, não tinha necessidade de sair do país, mas é o sonho dela suponho... Minha namorada ia estudar no exterior, e sabe lá Deus quando nos veríamos novamente, mas tentando me animar inutilmente brinco com meus pensamentos : "Melhor eu parar com isso, não é como se ela não fosse voltar né... ?"
Sem conseguir me concentrar na aula eu apoio a cabeça em meus braços e vou adormecendo aos poucos...

(...) - Hey Jon vamos cara deixa de ser medroso e pula - dizia uma voz masculina.
- Ahahaha você sempre foi o mais medroso - uma voz feminina mais distante.

Por alguma razão essas vozes eram familiares e me traziam paz e alegria. De repente me via em um dos antigos bairros vizinhos, estava em um estacionamento abandonado, do lado oposto uma menina sentada à beira do estacionamento, e entre a gente um espaço consideravelmente grande. Ela sorria para mim, e balançava as pernas como uma criança , sentia um quase instinto paternal por aquela garota. Em minha cabeça queria gritar para ela sair de onde estava, falar que era perigoso, mas meu corpo não respondia às minhas ordens. Eu parecia um mero espectador da cena.

- Para de me zoar sua pirralha. - eu dizia e olhava para ela com um olhar desafiador.
- Vai ver quem é o medroso. - após dizer isso andei alguns passos para trás e começei a correr como se minha vida dependesse disso e saltei.

Esses instantes foram passando em camera lenta, eu olhava arredor e via os dois garotos rirem me incitando, uma sensação de adrenalina e felicidade percorreu meu corpo inteiro, aquilo era tão real que parecia uma lembrança, até eu ter uma aterrissagem pouco agradável no concreto, meus sentidos ficaram um pouco conturbados de início, mas logo as vozes dando gargalhadas invadiram minha mente, a garota se aproximou de mim estendendo a mão.

- Ahahaha meu Deus você tá bem Jon? Agora entendo porque nunca te chamamos para fazer parkur com a gente - diz ela tirando sarro de mim.
- Ah cala a boca e me ajuda logo. -Faço uma expressão birrenta , me levantando rapidamente e dou uns pequenos socos no ombro dela.

Sua expressão me tranquilizava e trazia um pouco de melancólia , como se ela estivesse tentando me dizer algo. Após me ajudar ela torna a se sentar a beira do estacionamento, à acompanho fazendo o mesmo, do outro lado, resta apenas o outro garoto.

- Vou ensinar a vocês como se pula! - disse ele gritando.
- Vaaai Hugo lord imortal - ela zombou
- Fecha o bico se não vai engolir moscas, pula logo cara - digo com as maos entre a boca para melhorar a ressonância das minhas palavras, ele repete minha ação, anda para trás e corre.

Em segundos ele já está prestes a saltar, e nesse instante sua expressão muda, ele me olha com os olhos vazios, nada que representasse o garoto eufórico de alguns minutos a trás, e então ele pula, mas algo dá errado...

- Huuugo... O que você tá fazendo seu idiota... - a garota se desespera, eu não compreendo o que está acontecendo, mas tudo para.
- Hey... você está caindo , não pode cair, tem que chegar até aqui, temos que voltar pra casa, iamos para a praia com aquele carro velho lembra? Ia ser legal! Iamos levar a Chris para ver a praia, lembra? Ou... não pode cair... -

Sem perceber meus olhos embaçam e entro em desespero também, estendo as maos inutilmente tentando agarrá-lo, mas ele caí no vazio...
Alguém me acorda bruscamente.

- Acorda vei, a aula já acabou! -

Eu estou na sala, não tem mais ninguém, apenas o menino que senta ao meu lado, ele tem cara de poucos amigos e sempre fica depois do horário na sala a fazendo "não sei o que". Meu moleton se encontra encharcado na parte onde minha cabeça estava apoiada, meus olhos ardem.
Tardo um pouco a raciocinar: "era apenas um sonho" penso. Levanto pego minha mochila e me desloco até a porta

- Veleu - digo olhando para trás.

Vou ao banheiro antes de sair da escola, lavo meu rosto, e me olho no espelho.
- Que sonho mais estranho - digo em voz alta.
Mais tarde já em casa decido dar uma volta, para esclarecer minhas ideias e pensar um pouco, antes de levar Ally para o aeroporto. Ando por aí sem rumo, cabisbaixo e com as mãos no bolso, passam longos minutos, até que eu ergo a cabeça e olho a minha volta, vejo as arvores peladas e aquela aparência sombria, cenário típico do outono, vejo alguns carros e poucas pessoas pela rua, mas algo chama minha atenção. Um prédio lá no fundo, uma construção peculiar, de aparência decaida, não me lembrava dela, de longe não dava para vê-la direito então decido me aproximar. Primeiro andando, aumento o passo, quando percebo minha caminhada ja tinha se tornado uma corrida frenética, quanto mais me aproximo mais reconheço o local.

- Um estacionamento - sussuro ofegante, após algum tempo chego ao meu destino e observo o edifício imponente... E... Abandonado?

Entro sem mais delongas, e me movo com tanta familiaridade que parecia que aquele lugar era minha própria casa, subo escadas, viro esquinas, a procura de algo, ou alguém, sem entender. Quando chego a um dos andares do estacionamento vem como um flashback confuso na minha cabeça, tudo passa rapidamente, vozes, gritos, risadas, e choros? À minha frente um cenário idêntico ao do meu sonho.

- Não é possível - digo desconcertado.

Caminho em direção à beirada, que não possuia nenhuma medida de segurança que impedisse pessoas desastradas de ter uma queda mortal, chegando la em poucos passos olho para baixo, e novamente os flashbacks atormentavam minha cabeça, mas dessa vez veio um nome em minha mente "Hugo"... escuto uma voz feminina gritando o nome dele igual no meu sonho, começei a sentir fortes dores de cabeça, levei minhas mãos a ela, gritando. Já no chão me contorço, de olhos fechados via alguém em uma cama de hospital, via sangue, olhava para o chao ao meu lado e via sangue, sangue por todas partes. Na ânsia daquelas vozes me levanto cambaleante e começo a correr desesperadamente, queria sair daquele lugar, parar de ouvir aquelas vozes. Fiz o mesmo caminho que tinha me levado até ali, assim que coloco os pés para fora do prédio as dores cessaram e as vozes aos poucos vão se dissipando na minha cabeça. Arrasado e confuso, depois de pensar e procurar respostas sem sucesso durante todo o caminho até casa, decido parar de dar atenção ao ocorrido até me acalmar, chego em casa mais perturbado que quando saí...

The Begin Of EndOnde histórias criam vida. Descubra agora