Capítulo 4 - Yumi

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Como é bom ficar até tarde na biblioteca, explorar os milhões de livros que aqui tem, e provar os charutos caribenhos.

—Senhora...—disse Moll batendo na porta da biblioteca. —preciso entrar.

—Entre. —eu disse tragando.

—Não sabes o que acabei de presenciar...—ele disse assustado. —teu irmão e Aura.

—Saia daqui, Moll! —eu gritei. —Já falei que é para falar em espanhol!

Ele assentiu e eu senti o meu sangue ferver, como ela tivera sido capaz? Iguaizinhas, mãe e filha.

Eu saí da biblioteca e fui direto para a saída do convés, e vi Aura descendo com o balde e o esfregão, parecia possessa.

—Olá, querida Aura. —eu disse com a mão na cintura.

Ela me olhou assustada e foi descendo um pouco mais devagar. —Olá, senhora Yumi.

—Está gostando do seu trabalho? —eu perguntei.

—S-sim. —gaguejou.

Eu peguei um saco de moedas e entreguei para Aura, que me olhou com um ar de espanto. —Um saco de moedas?

—Sim, no Caribe isso dá para comprar muitas coisas e dá para viajar...—eu disse com um ar de deboche.

Eu me virei e fui direto para os meus aposentos, achei melhor não perguntar sobre o Leonard. Ele não vê mulheres há um tempo, as únicas que haviam era eu e Anastácia.

Assim que cheguei no quarto vi que Benjamin estava inquieto. —Não está conseguindo dormir? —perguntei.

—Não. —ele disse se levantando. —Acho que não vou conseguir enquanto você estiver fazendo besteiras no meu barco! Tratando minha tripulação como seus escravos.

—Não os trato como escravos, mas como meus subalternos. —eu sorri. —Você quer que eu os trate como? Quer que eu beije os pés deles? Ou melhor! Os sirva?

—Está impossível de conversar com você ultimamente, Yumi. —ele disse possesso pondo o tapa-olhos.

Eu o ignorei voltando para a biblioteca, sabia que aquela noite iria ser mais longa do que precisava ser.

—Já li, já li...—eu disse passando o dedo sobre os diversos livros que eu já tivera lido antes. —Relatos de Benjamin Williams 1860?

Eu peguei o livro que tivera me chamado atenção, e o abri.

"Estávamos indo atrás de uma das maiores relíquias que tiveram existido. Um baú cheio de rubis!

O tesouro estava perto do Japão, só não sabíamos de um detalhe, ele estava no Hiroshi Boat, o nome de um barco que transportava japoneses ilegalmente para Cuba, mas não sabíamos desse detalhe.

A viagem tivera sido perdida, voltamos para as águas do Caribe frustrados, mas àquela altura já sabíamos que os rubis estavam com o navio de imigrantes.

Ficamos surpresos quando vimos o Hiroshi Boat, o capitão ordenou que bombardeássemos o navio.

O trabalho foi em vão, tínhamos matado milhões de pessoas pra nada, o rubi afundou junto com os destroços do barco..."

—Não pode ser...—eu disse me descabelando em plena biblioteca. —não acredito...meu marido...

Desgraçado!

Eu tinha milhões de ideias do que fazer com ele, sufoca-lo com o travesseiro fazia parte dos meus planos.

Mas eu não podia fazer isso, não na pressa, não de cabeça quente...

Tornei à ler...

"A única sobrevivente, estava ensanguentada, achamos que ela não iria sobreviver. Mas sobreviveu...

É uma menina linda, depois que se recuperou disse qual era o seu nome:

Yumi."

Senti meus olhos marejando, a tristeza era profunda. Como eles foram capazes de matar pessoas e mais pessoas, só por um maldito baú de rubi?

Entrei no quarto que Benjamin estava e bati a porta com bastante força, o que o fez acordar.

—O que é isso? —ele acordou tirando o tapa-olhos. —Yumi? Você está enlouquecendo? Sabe que eu vou ter que acordar cedo!

Eu o olhei com todo o ódio, eu tentava falar, mas as palavras não saíam. Não era o momento.

É o destino.

—Inferno! —soltei um grito estridente. —Desgramado.

—O que eu fiz? —ele perguntou erguendo-se da cama. —Você está muito estranha ultimamente.

—Você sa...

—Señora! —gritou Moll do lado de fora. —Señora, la niña...

—Você não me escapa, Benjamin...—eu disse saindo do quarto.

Puxei Moll até o lado de fora da casa-barco, e certifiquei-me de que não tinha nada e ninguém que pudesse atrapalhar-me.

—O que que tem ela? —sussurrei.

—Ela vomitou no quarto de hóspedes. —ele disse. —Ela disse que o cheiro da maresia enjoou ela, e o balanço do barco tivera sido a gota d'Água.

—Dispensado, Moll. —eu disse gesticulando. —Vou resolver isto.

Fui até o quarto de hóspedes e lá estava ela inclinada na cama, quando ouviu o barulho da porta me olhou fixo.

—Francamente, Aura...—eu disse depreciando o fato. —seu primeiro dia no meu barco e você faz isso?

—Desculpa...—ela disse voltando o olhar pro chão e vomitando de novo. —eu nunca andei de barco!

—Vai tomar um banho, escova esse dente...—eu olhei com nojo. —Quando acabar, limpe essa sujeira.

Eu saí do quarto de hóspedes sem dar chance de Aura contestar o que eu tivera dito.

Tomei um bom banho e vesti o meu pijama e botei meu tapa-olhos.

{...}

Quando acordei, Benjamin já havia se levantado. O barco estava um completo silêncio, só havia o som das ondas.

Entrei na banheira e comecei a cantarolar.

—Ma belle amie, je sais que tu viens, que tu viens pour dire...—eu parei de cantarolar assim que ouvi alguém colocando um disco de vinil na sala. —O que é isso?

Eu me levantei da banheira e me sequei, fiz o típico penteado de todos os dias, o quarto exalava à perfume e cheiro de cigarro. Péssima combinação.

Desci as escadas e lá vejo Benjamin comendo peixe.

—Peixe? —eu perguntei me aproximando do mesmo. —Peixe no café da manhã?

—Sim, peixe...—ele sorriu erguendo uma das sobrancelhas. —mas não é pro café da manhã.

Ele olhou o relógio de bolso. —São exatamente 12:30. —ele apontou para a cadeira. —Se eu fosse você sentava...

—Eu dormi tanto assim? —eu perguntei.

—Dormiu, querida Yumi. —ele falou de boca cheia. —Mas não se preocupe, só vamos atracar amanhã. Espero que hoje você durma cedo.

—Ok. —eu sorri um pouco sem graça.

—Agora vamos, sente-se...—ele sorriu. —A Aura faz um peixe dos deuses.

Aura entrou na cozinha e sorriu para mim, mas não parecia tão feliz assim...aliás, não parecia nada satisfeita.

Eu melhor do que ela, sabia que ela não queria estar ali.

A Herdeira dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora