Verão I

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Passaram-se 3 meses desde que conheci Jongin.

O Sol já raiava mais forte, fazendo com que o clima ficasse insuportavelmente quente. Às vezes chovia bem forte, como uma tentativa do universo para compensar todo o calor; mas só fazia com que ficasse mais úmido e abafado. O verão já havia chegado.

Desde o incidente no parque, eu e Jongin passamos a nos encontrar naquela árvore para lermos juntos nos fins de semana. Nesses dias, chegávamos na mesma hora e ficávamos juntos até o almoço, que era quando cada um ia para sua respectiva casa. Meu esforço para não parecer muito nervoso perto dele era imenso e tinha o efeito que eu queria, porém tinha uma consequência: as conversas eram poucas porque meu método contra a ansiedade de falar com ele era, exatamente, não fazer isso.

Na última semana da primavera, criei coragem, chamei-o para almoçar comigo depois de um de nossos encontros, se é que posso chamá-los assim, e Jongin aceitou sem hesitar. Fomos a um restaurante self-service perto do parque. Estava cheio, mas conseguimos montar o prato, pagar e achar uma mesa sem dificuldades. Tudo em silêncio.

O único problema que eu percebia ao ficar perto de Jongin era a falta de diálogo entre nós, provavelmente porque não éramos muito íntimos um do outro, nem extrovertidos o suficiente para conversar sobre qualquer assunto aleatório. Eu também não sabia sobre o quê assuntar... além de livros, claro, então esperei por alguma possível aproximação dele — porém nada veio. Talvez ele também não soubesse o quê falar comigo ou só não estivesse interessado em mim. Entretanto, aceitou o meu convite para almoço, mas e se ele só estava tentando ser gentil? Às vezes só esperava uma iniciativa minha e-

  — Kyungsoo, desculpa se eu não estou falando. Não gosto de conversar enquanto como — admitiu Jongin, ironicamente de boca cheia.

— Ah... tudo bem, é m-melhor assim — eu disse, erroneamente, fazendo o garoto à minha frente quase engasgar com o que estava mastigando e me olhar incrédulo, quase machucado.

— Er... como assim? Você não quer conversar comigo?

— Q-quero sim! Só que você disse que não gosta de falar enquanto come... Pensei que você fosse quem não gostaria, na verdade.

Com isso, Jongin voltou a se calar e deu atenção ao prato à sua frente. Ele estava me deixando confuso; mas tudo bem, desde que tudo que saísse da minha boca não fosse considerado algo contra ele. O garoto de cabelo rosa desbotado (quase alaranjado) se ofendia facilmente, já que não interpretava muito bem o que diziam. Era como se considerasse todos como inimigos que planejavam a falha dele — seriam todas as outras estações invejando o clima belo e agradável da primavera e procurando seus defeitos, mas isso tiraria todo o propósito de harmonia entre elas. Assim, mesmo aparentando ter toda a beleza, ainda era inseguro sobre a  mesma — porém se defendia com unhas e dentes ou, no caso da estação, seus espinhos.

— Kyungsoo, por que você ainda está puxando o suco pelo canudo se ele já acabou? — perguntou Jongin, chamando minha atenção novamente. Eu precisava urgentemente parar de analisá-lo, sim, é muito errado e incômodo. Procurar e julgá-lo pelos defeitos dele não me levaria a nada. Na verdade, poderia até complicar nossa relação que mal começou.

Percebi que Jongin acabara com sua refeição há tempos e eu também, apesar de nem lembrar do gosto do que havia naquele prato.

[]

Após o almoço, Jongin me convidou para dar uma volta pelo parque. Dessa vez, caminhamos no sentido contrário ao da árvore de cerejeira, que era o caminho mais longo, pelo qual eu evitava passar. Nos primeiros cinco minutos, ficamos em total silêncio e eu jurava ter escutado o garoto ao meu lado suspirar e sussurrar consigo mesmo algo: "por que é tão difícil falar quando eu quero?".

Cherry BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora