Thank You »Cockles AU«

Oito

Jensen sentia que havia saído do hospital, porém permanecia no estado de paciente. Zapeava entre os canais, que não tinham nada de interessante passando. Resolveu ficar em um que falava sobre a vida das lontras. Lontras eram seres incríveis, inteligentes e amigas umas das outras. Também comiam bastante, diferente dele que estava com as panquecas do café da manhã ainda enchendo-lhe a barriga.

Olhou ao redor novamente, encarando o telefone na cozinha. Ao lado dele estava pendurado o telefone celular de Misha, para "qualquer que seja a necessidade", segundo suas palavras. Ele não tinha necessidade alguma naquele momento, mas tinha vontade de ligar. Estava se sentindo sozinho.

Voltou a se concentrar no documentário quando o telefone tocou, fazendo com que se levantasse e fosse atendê-lo. Demorou um tempo para chegar, o que fez com que pensasse umas duas vezes em ignorar o toque e se jogar no sofá novamente. Finalmente tirou da base, ficando mudo, um pouco apreensivo sobre quem fosse.

-Jensen? -ouviu uma voz conhecida e respirou fundo, um pouco aliviado.

-Olá. -respondeu finalmente.

-Oi, é o Misha. Está tudo bem? Rachel ainda está aí com você?

-Não. Oh não, não foi isso que quis dizer... Eu estou bem, a Rachel que não está. Quer dizer, ela está bem, mas não está aqui. -ouviu a risada do outro no telefone e em seguida risadas na TV. Virou o rosto confuso, enquanto a mão que o apoiava na muleta também enrolava a barra da camisa.
-Tem alguém aí?

-Não, somente eu. São as lontras. Elas fazem um som parecido com a risada humana quando... bem, elas estão acasalando agora.

-Oh, acho que já vi esse documentário. Seu almoço chega em alguns instantes, pedi por um aplicativo no celular. É tudo tão mais prático hoje em dia, você pede e paga a comida e quando chega só se preocupa em comer.

-Hum, é verdade. -Jensen não sabia como responder. Na verdade nem era muito ligado a aplicativos de celular e coisas do tipo, ficava meio perdido mas sabia que era somente questão de costume. Seus dedos tamborilavam no banco à sua frente em um ritmo descompassado, como se imitasse as batidas do seu coração.

-Já estou indo, querido. -Misha disse a alguém e então voltou sua atenção ao telefone.- Ok, tenho que ir. Não se esqueça que qualquer coisa você pode me ligar, ok?

-Ok.

-Tudo bem. Tchau.

Ele desligou. Quem era "querido"? Não que fosse realmente da conta dele, mas ficou curioso pois Misha pareceu falar com urgência, como se tivesse receio em deixar aquela pessoa esperando. Nem deu tempo de Jensen agradecer a comida, que chegaria dali a alguns minutos. Simplesmente colocou o telefone no lugar e voltou para o sofá, vendo agora duas lontras macho brigando por alguma coisa.

○○○

-Jens? -ouviu a voz baixa e já conhecida o chamando. Piscou algumas vezes e percebeu que tinha dormido no sofá.

-Aconteceu alguma coisa?

-Não exatamente. Eu acabei de preparar o jantar.

Jantar? Jensen nem tinha visto o outro chegar. Só lembrava de colocar o almoço em cima da mesa e se sentar para assistir, porque não queria perder o fim do documentário. Ele nem almoçou. Céus, Misha devia achar que ele era um mal agradecido. Ele tinha acabado de chegar e já estava causando más impressões como um especialista nisso. Queria voltar a ser bom em alguma coisa, se sentir bom em alguma coisa, mesmo que "a coisa" não fosse tão boa assim.

-Me desculpe. -conseguiu dizer, se sentando corretamente no sofá.

-Pelo quê? -o outro perguntou franzindo as sobrancelhas.

-Eu não almocei. Foi gentil de sua parte, e eu nem mesmo comi um pouco, acabei dormindo.

-Não se culpe tanto. Vamos, venha jantar. -Misha disse estendendo o braço para que o loiro pudesse levantar.

O cheiro da comida era maravilhoso, e Jensen se sentou confortavelmente na cadeira ao lado do moreno. Tentava se lembrar do sonho assim como fazia sempre que acordava, mas estranhamente não lembrava. Pela sorte que tinha, tinha quase certeza de que havia sido um sonho bom. Lembranças boas na maioria das vezes ficavam apagadas de sua memória. Era como se houvesse um filtro em sua mente, selecionando o que ele merecia ou não lembrar.

-E então, como foi seu dia? -Misha perguntou sorrindo e de certa forma Jensen sabia que aquele sorriso estava em seus sonhos.

Obrigada pelos votos. sz