Dezenove

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Já era décima vez que Jensen repetia a ordem de olhar o relógio, o telefone e a TV. Era horário de almoço de Misha e ele ainda não tinha ligado. Pela primeira vez. Logo a cabeça de Jensen começou a rodar. E se tivesse acontecido alguma coisa? E se James tivesse feito alguma coisa? Talvez fosse bom ele ter dado o endereço de seus pais pra ele e Misha saírem da cidade um pouco. Saírem dos olhos dele. Se lembrou que o número de Rachel estava no quarto e se levantou para pegar.

Foi a hora que o telefone chamou.

-Mish?

-Esse apelido é muito fofo mas não combina comigo, Jens.

James. Jensen sentiu o ar lhe faltar. Tentava falar mas não conseguia.

-Não vai falar comigo? Desculpa te decepcionar, percebi que estava esperando uma outra ligação.

Ele sabia.

-O que você quer? Onde ele está?

-Quero você de volta e… bem, a resposta dessa pergunta depende da resposta que você tem para me dar.

-James o que você fez?

-Está preocupado? O que você faria por ele?

Jensen sentiu como se estivesse sua energia totalmente retirada de si. As suas mãos começaram a tremer e percebeu que seus dedos estavam brancos.

Não podia ser real. Misha não podia sofrer por causa dele, não quando havia sido uma pessoa tão boa para ele.

-James, por favor. Eu faço o que quiser. Não o machuque.

Foi quando a porta se abriu. Misha entrou com um enorme sorriso para Jensen.

-Me desculpe por não ligar. Meu celular não quer ligar de jeito nenhum, preferi vir aqui.

O suspiro de alívio que Jensen deu foi o mais longo de sua vida. Desligou o telefone e foi o mais rápido que pôde ao encontro do outro.

-Você está bem?

-Estou. Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

-Estou.

-Você está pálido.

Jensen não tinha ideia do que iria responder. Não queria contar a Misha sobre James, não queria preocupá-lo. Mas se não contasse, talvez o perigo se tornasse maior.

-Ok. Tenho uma coisa para te contar.

-Tudo bem. -ele parecia relaxado, tinha o olhar calmo como sempre. Aquele olhar que ajudava Jensen a se acalmar, que parecia um mar calmo em um dia fresco de verão.- Não quer sentar?

Era normal de Jensen morder os lábios quando ficava nervoso, e ele já sentia gosto de sangue na boca. Se sentou, com Misha do seu lado.

-James me achou. Ele veio aqui e pediu para que eu voltasse. Eu não aceitei. Não vou voltar pra lá. Não depois de tudo que passei quando ele me expulsou. E aquela vida... agora eu vejo como era vazia. Eu conhecia tantas pessoas, dormia com tantas, mas não significava nada pra elas, assim como elas não significavam nada pra mim. Eu quero uma vida de verdade. Um emprego bom, ter amigos de verdade... Quem sabe até uma família. -a última coisa ele disse com um sorriso no rosto, pensando ao menos por alguns segundos como seria bom ter uma família com alguém. Ter crianças correndo pela casa, arrumar as coisas para o Natal, comemorar o dia dos pais.

-Você sabe que pode ter essas coisas se quiser.

Por dentro Jensen gritava "quero ter essas coisas com você", mas apenas sorriu.

Thank You »Cockles AU«Onde histórias criam vida. Descubra agora