Treze

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Misha virava de um lado para o outro na cama. Não conseguia dormir, e o dia já estava quase amanhecendo. Parecia lhe faltar alguma coisa. Já estava do outro lado da cama sem travesseiros nem lençóis.

Ele sabia o que lhe inquietava. Desceu as escadas quase voltando os degraus. Richard tinha razão, ele parecia um aadolescente.

Terminou de descer decidido quando percebeu Jensen sentado no sofá. Ele deveria estar descansando, e não ali.

-Jensen? - Misha chamou baixo para que o outro não se assustasse. O loiro virou sua cabeça em direção a escada e Misha percebeu, mesmo com a pouco a luz que o abajur fazia, que o rosto de Jensen estava encharcado de lágrimas, que enxugou rapidamente.

-O que faz acordado? Pensei que estivesse descansando.

-Pensei o mesmo de você. Está sentindo alguma coisa? - perguntou a Jensen, porém esperando ouvir sua própria resposta. Ele estava sentindo. Sentia vontade de abraçá-lo, protegê-lo, cuidar de todas as suas dores e trocar as suas lágrimas por sorrisos. Andou até o sofá ficando em frente ao outro.

-Quer conversar? -perguntou sentando-se aos pés de Jensen no chão em frente ao sofá. Segurou a sua mão e nada disse, apenas olhava nos olhos do outro esperando o seu tempo.

-Eu estraguei tudo? -Jensen perguntou abaixando os olhos olhando para suas mãos dadas.

-O que te faz pensar isso? -Misha procurava ser carinhoso e cauteloso com as palavras.

-É o que eu faço, estrago tudo que chega na droga da minha vida mais dia, menos dia. Estraguei tudo com meus pais, com o Dom, com Jimmy e agora com você. Eu simplesmente não consigo deixar tudo como está. Tive que ser gay para decepcionar meus pais, tinha que ser rebelde demais para querer que o Dom largasse tudo por mim, tinha que prometer ao Jimmy que seria o melhor em... -Jensen não conseguia dizer aquilo. Misha iria sentir tanto nojo ao saber que tinha beijado a boca de alguém que fazia programas! Ele havia sido tão generoso para ele, talvez aquilo fosse piorar tudo.- Eu não devia ter te beijado.

-Você se arrependeu?

-Não. Eu amei beijar você. Isso pareceu me aquecer. Parecia que seus lábios consertavam uma bagunça que estava dentro de mim.

-Pareceu certo. Como se fosse perfeito. Não foi?

-V... Você gostou? - tem Jensen perguntou, finalmente levantando o seu olhar ao de Misha. Sua resposta foi dada após o outro subir em seu colo com cuidado, sem se sentar, com cada uma de suas pernas a seu lado. Seus polegares passaram pelas bochechas de Jensen limpando as lágrimas que restavam e depois beijando-as com carinho.

- Você é gay porque tem que ser assim. Aceite quem você é, por favor. Fazendo isso você irá de certa forma me aceitar também. Não sei quem é Dom, mas certamente é um covarde porque eu tenho certeza que largaria tudo por você. E se você prometeu a alguém que iria ser o melhor em alguma coisa, o pouco que te conheço me faz ter certeza de que você foi. Quanto ao beijo... seu único erro foi ainda não ter me dado outro.

Misha continuava com as mãos ao redor do rosto de Jensen, e conseguiu vê-lo corar abaixo delas, e seus olhos brilharem. Ele ficava mais lindo ainda com a luz baixa daquele jeito. Seus lábios entreabertos chamavam pelos de Misha e ele soube que estava na hora de um segundo beijo. Dessa vez, com mais sentimento.

Misha os beijou calmamente, conseguindo ainda sentir o gosto de menta do creme dental que se misturava com o dele. Quando as mãos de Jensen o seguraram pela cintura, sentiu um calor que partia dali e ia direto ao seu estômago. Aquela era a melhor sensação que se podia ter quando se beijava alguém, a sensação de que o seu corpo inteiro estava sentindo aquilo, e não somente seus lábios.

Suas mãos saíram das bochechas diretamente para os cabelos de Jensen, sentindo a maciez por entre seus dedos quando pararam de se beijar para tomar um pouco de fôlego. Seus olhos observaram todo o rosto de Jensen enquanto isso.

Seus olhos estupidamente verdes, seu lindo nariz adornado por algumas sardas charmosas e sua boca macia, com lábios grossos que chamavam por Misha cada vez mais.

O moreno não conseguiu se conter e beijou o outro novamente, torcendo que ele pudesse sentir também aquele tipo de arrepio interno, aquela antecipação deliciosa e ficasse também aflito de deixar-lhe naquele instante.

-Eu não mereço você, não mereço o que está fazendo por mim. -Jensen disse, puxando a cintura de Misha para baixo para que ele pudesse sentar em seu colo. Suas mãos passeavam pelas costas do outro sentindo-as firmes e tensas. Constatou então que Misha poderia estar tão nervoso quanto ele, e olha que ele nem soube da parte mais tensa da história.

-Nem sempre temos aquilo que merecemos. E nem sempre o que recebemos é ruim. Nada acontece por acaso, Jensen. Acredito que tudo o que passamos, se não for a  consequência final, é um meio para chegar lá. Não sei exatamente o que sou para você mas, sinceramente? Não importa. Eu só não quero que por favor, por favor, não se menospreze, não se pressione para nada. Estarei aqui pra você, ok? Se não quiser, apenas me diga. Mas enquanto eu ver que precisa de alguém, eu estarei do seu lado. Esqueça o que aconteceu antes, esqueça o seu passado. Viva a sua vida a partir de agora, se quiser.

Já estavam de mãos dadas novamente e as lágrimas de Jensen já apareciam em seu rosto novamente. Apenas um pedido vinha à sua mente, era o que mais queria aquele momento.

-Fica comigo essa noite?

Thank You »Cockles AU«Onde histórias criam vida. Descubra agora