Capítulo I

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"Minha dor é saber que, apesar de termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais"

Como nossos pais, Belchior


Descemos do voo depois das duas da tarde de um dia de verão extremamente quente. Sempre tinha ouvido falar como as temperaturas no nordeste eram altas, mas comprovar aquilo na pele era muito diferente de simplesmente ouvir dizer. Enquanto meu pai e Atena faziam o checkout, fui garantir que as malas não tinham desaparecido. Tive que insistir com o carregador para que ele me entregasse as bagagens logo, já que o voo tinha atrasado os planos em algum tempo já. Foram quase cinco minutos de discussão, mas consegui as malas. Aparentemente, mesmo fora da minha cidade, ser agressivo continuava sendo uma necessidade. Os próximos três dias seriam longos.

Tive a certeza disso desde o começo, quando naquele dia estranho, meu pai me chamou ao antiquário. Assim que cheguei lá, ele me mostrou as três passagens já compradas num voo padrão para o nordeste. Não tive nem mesmo tempo de perguntar o que era aquilo e as cartas foram jogadas na mesa.

– Em duas semanas, vai acontecer um evento, uma espécie de congresso, com magos importantes. É um evento grande, o maior do tipo na América Latina, provavelmente no hemisfério sul inteiro. Serão três dias de mesas e discussões sobre o estado do submundo nacional e os desenvolvimentos recentes em teoria mágica.

– Eu não posso ficar fora da cidade por três dias.

– Infelizmente, vai ser necessário.

– Por quê?

– Mais do que servir para discussão de teorias, esse é um evento político. Todos os participantes controlam territórios importantes no submundo ou ao menos são considerados como detentores de determinado poder sobre essas regiões. Por causa disso, ocorrem diversas negociações e especulações sobre todos que tomam parte no congresso. Por outro lado, não participar implica um desinteresse nos assuntos do submundo, o que, em muitos casos, acaba gerando desentendimentos.

Desentendimentos.

– Basta dizer que, se eu não comparecesse, iria acabar atraindo atenção desnecessária para essa cidade. Por isso, é necessário que eu vá.

– E onde eu entro?

– Para evitar que o congresso acabe se tornando um palco de batalhas, todos os que participam do evento são colocados sob um contrato que os impede de se utilizarem de Magia durante toda a duração do evento ou até que se retirem dele, o que vier primeiro. Todavia, essa restrição se aplica tão e tão somente ao Magos convidados, sendo excluídos disso qualquer dependente que seja levado por ele. Considere que existem algumas rivalidades correntes entre os participantes e creio que você já possa perceber o problema.

– Isso parece algo vindo da Agatha Christie.

– Não duvido que essa tenha sido a intenção original de quem propôs o evento. Mas, seja como for, sendo obrigado a tomar parte, eu preciso garantir minha segurança. E é por isso que quero que você vá comigo, como meu aprendiz oficial. Naturalmente, Atena, na condição de sua Familiar, também poderá ir.

– Basicamente, você quer que eu e ela sejamos seus guarda-costas.

– Basicamente. Você é especializado em combate, sem dúvidas tem mais experiência que a maior parte dos outros ajudantes. Considerando o que você conseguiu nos últimos tempos, não acho que isso será um desafio para você.

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