Epílogo

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No dia seguinte, pouco depois do almoço, fomos para o aeroporto. O simpósio acabou sendo encerrado antes do previsto devido a todos os problemas ocorridos, especialmente após o assassinato de um dos participantes durante a noite. Fermi. Ao que parece, ele já era alvo de um outro mago que se aproveitou da vulnerabilidade dele após a perda de seu aprendiz e o derrubou num ataque surpresa. Esse Mago, pelo que parece, não estava envolvido no simpósio e tinha ótimas informações de alguém envolvido com toda a história. Com tudo isso e o duelo da noite anterior, a organização achou por bem acabar com aquele simpósio um pouco antes e assim evitar que a situação saísse ainda mais de controle.

No jornal, a notícia do clarão de luz visto na ilha na noite anterior tinha sido traduzida como uma explosão causada pelo acúmulo ilegal de lixo na área. Uma desculpa simples para abafar um caso que seria esquecido em breve pela mídia geral, mas continuaria a gerar boatos e problemas no futuro.

No fim, problemas foram a única coisa que veio de toda essa situação.

Eu refletia sobre isso enquanto esperava no aeroporto pela chegada de meu pai e Atena. Os dois tinham ido fazer uma última visita a Raimundo, no hospital, enquanto eu tratava dos detalhes finais da viagem de volta. Foi quando senti meu celular tocar e, ao conferir, vi uma mensagem breve de Cordelia. "Atrás de você", ela dizia. Me virando, vi ela do outro lado do saguão, ainda de preto, mas agora com um casaco escondendo seus braços. Meu celular tocou novamente, dessa vez uma ligação. O número dela.

– Não está muito quente para casacos?

– Eu sou uma garota gótica perfeita. Não posso sair por aí mostrando cicatrizes de corte nos meus braços.

– Isso é minha culpa. Sinto muito por ter te envolvido nessa história.

– Não se ache. Eu não fiz nada por você. Tudo que eu faço é por mim mesma e por ninguém mais.

– Mesmo?

– Duvida? Por que você acha que eu faço isso então?

– Não sei.

– Mesmo? Eu acho que você está mentindo.

– Ainda que eu esteja, faz diferença?

Ela riu.

– Que estúpido isso tudo.

– Você devia procurar outra forma de se divertir.

– Talvez. Mas até encontrar algo mais interessante, vou continuar com essa. A propósito, você sabe qual foi o preço pela minha ajuda?

– Não. O que foi?

Ouvi ela rindo do outro lado da linha e então a ligação foi desligada. Do outro lado do saguão, Cordelia acenou para mim e se virou, indo embora sem dar nenhuma satisfação a mais. Guardei o celular no bolso e a assisti desaparecer no meio da multidão.

Meu pai e Atena chegaram juntos alguns minutos depois. Vindos direto do hospital, os dois carregavam suas próprias malas, um pouco mais pesadas do que quando chegaram.

– Sinto muito pela demora. O trânsito acabou sendo pior do que eu esperava.

– Relaxa. Como ele está?

– Vai sobreviver. Infelizmente, é impossível impedir que tenha sequelas. O dano foi muito grande.

– Sinto muito.

– Você não fez nada errado. Os únicos culpados por essa situação já não estão mais vivos.

– Porém, os problemas não terminaram – Atena disse. – Na verdade, tudo só vai ficar pior daqui para frente. Honestamente, eu gostaria que você não me desse tanto trabalho às vezes.

– Desculpe por isso.

Ouvi a chamada para o embarque. Cada um a seu ritmo, todos ali começaram a se dirigir para a o avião, prontos a deixar aquela cidade para trás. Enquanto seguíamos o fluxo, me vi parado lado a lado ao meu pai. Olhando ele de perto, podia ver que seus olhos tinham se tornado um pouco mais cansados depois dessa viagem, embora não tenha dúvidas de que isso não seria diferente para mim. Quando já estávamos dentro do avião, observando a cidade desaparecer como um ponto no nada, me ocorreu de perguntar o que, afinal, meu pai tinha oferecido em troca da ajuda de Elisabete. Ao ouvir minha pergunta, ele pareceu, estranhamente, desconcertado.

– Sim, isso. Na verdade, ela recusou tudo que eu tentei oferecer.

– O quê?

– Ela simplesmente resolveu ajudar porque quis. Provavelmente, ela teve suas próprias razões e tenho meus motivos para achar que sei o que é, mas ao que parece, eu ainda não consigo derrotá-la.

Não consegui conter a minha risada. Acabei gargalhando alto demais e, quando percebi, todos os olhares estavam me estranhavam. Encarei meu pai de volta, sorrindo.

– Então, um mistério estúpido sem resposta nenhuma?

Como se entendesse o que eu queria dizer, ele sorriu de volta.

– Sem dúvidas, caprichosa até o fim.

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