Capítulo IV

12 3 0
                                    

Depois do jantar com Fermi, voltamos ao hotel para encerrar a noite. O dia seguinte, eu sabia, acabaria sendo longo. Antes que eu me deitasse, porém, recebi uma chamada no telefone do hotel. Atena atendeu a chamada e então passou para mim. Aparentemente, Cordelia estava no saguão e queria falar comigo. Quando questionei o que ela queria, o funcionário disse não saber. Embora não pudesse entender o motivo de fazê-lo, disse que iria descer. Antes que saísse do quarto, Atena me parou.

– Tome cuidado com aquela mulher – ela disse.

– Ela não parece uma ameaça.

– Para a sua vida? Provavelmente não. Mas eu conheço o tipo dela. Ela é perigosa.

– Isso não parece você falando.

– Por que eu estou preocupada dessa vez.

– Não precisa ficar.

– Ulisses era um homem sábio, mas até mesmo ele caiu no feitiço das sereias. Não esqueça disso.

Quando cheguei no saguão, Cordelia estava sentada nos bancos próximos à entrada, expressão enfastiada enquanto observava um casal que chegava com seus filhos. Ela estava vestida nas mesmas linhas estéticas de antes, porém dessa vez usava uma camiseta decotada, uma saia bordada curta e meia calça. Me aproximei sem fazer barulho, mas ela me percebeu ainda assim, se levantando e sorrindo.

– Feliz de me ver? – ela falou.

– Como você descobriu onde eu estava?

– Um Mago nunca revela seus segredos. Especialmente para outro Mago.

– Então por quê?

– Essa é uma pergunta melhor.

Ela gesticulou com os olhos para o casal no balcão. Não parecia nada além de uma família comum de meia idade, o tipo que muito provavelmente estava de férias depois de muito tempo.

– O que acha deles?

– O que você quer dizer?

– Eles devem ter se planejado tanto para isso, se dedicado, economizado, adiado. É cansativo. Depois de um ano tendo que trabalhar dia após dia para sustentar os filhos, eles finalmente têm tempo para descansar, mas não vão conseguir porque vão ter que se ocupar de ficar cuidando de crianças. Eles estão acorrentados e nem sequer percebem isso. Triste, não acha?

Cordelia virou para mim, um sorriso pequeno aberto e um brilho penetrante em seu olhar.

– Você não me chamou aqui para comentar o casamento de pessoas aleatórias.

– Não. Não chamei. Eu te chamei para conversar.

– Sobre o quê?

– Podemos discutir isso em um outro lugar? Não é adequado aqui.

– Por que eu devia? Eu não estou aqui para ficar conversando e sim para garantir que nada vai acontecer com o meu pai.

– Não diga isso. Eu consigo ver nos seus olhos que você não vai recusar. A verdade é que você já está curioso demais para recusar.

– Você não falou o suficiente para eu ficar curioso.

– Oh, mas não é quanto ao que eu preciso que você está curioso. É quanto a mim.

– Eu não vou cair no seu jogo.

Ela se aproximou de mim um passo, esticou a mão em direção ao meu peito, mas a impedi.

LinhagensOnde histórias criam vida. Descubra agora