Capítulo V

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Voltei para o hotel por volta das seis da manhã. Quando entrei no quarto, meu pai e Atena já tomavam o café da manhã. Nenhum dos dois falou nada, mas eu sentia os olhares de Atena sobre mim. Fui direto para o chuveiro tentar lavar aquela noite da minha pele. Saí do banho e os dois já estavam preparados para ir ao congresso. Peguei qualquer coisa que restou do café e fui comendo no caminho. Durante a viagem, pude capturar o olhar de Atena várias vezes, sempre me encarando como se quisesse dizer algo, mas não encontrasse o momento de fazê-lo.

Depois de cerca de duas horas, saí para pegar água. Enquanto seguia para a área comum, vi alguém passando rápido por um corredor à frente. Apenas uma silhueta, a princípio. Por instinto, fui atrás dela, tomando o corredor e vendo pela visão periférica o vulto seguir por escadas. Continuei atrás da figura, no caminho conjurando algumas magias como salvaguarda. A escada terminava numa porta pela qual entrava uma brisa intensa. Subi de um impulso, abrindo a porta com um empurrão e alcançando o terraço. Olhei ao redor rápido, porém não havia qualquer sinal do vulto nas redondezas.

Ouvi, porém, um som alto de eletricidade e vi a poucos metros de mim a caixa de luz de um poste estourar numa chuva de faíscas. Desci correndo as escadas, vendo as luzes do interior do teatro agora apagadas e um vulto percorrendo as sombras em direção ao anfiteatro, único ponto restante de luz ali. Persegui o vulto até a porta , onde ele parou, de costas para mim, sua silhueta coberta por manto e capuz marcada pelas luzes que vazavam pelos vidros da porta. Por um momento, o vulto não se moveu e então seu rosto se virou em minha direção e tive a impressão de ver um brilho fugaz em seu olhar. Antes que eu tomasse um passo sequer à frente, uma cortina de fumaça subiu ao redor dele, interrompendo minha visão por um momento. Avancei mesmo sem enxergar, investindo contra quem quer que fosse aquele, mas tudo que senti foi a porta do anfiteatro que se abriu com a força do impacto. Assim que entrei, muitos olhares se voltaram para mim, alguns ameaçadores, outros assustados. Vi meu pai se levantar no meio da multidão me acenar. Só então, a atenção sobre mim começou a se dissipar. Voltei para o lugar onde eu estava sentado antes.

– O que aconteceu? – Atena me perguntou.

– Eu vi uma pessoa suspeita quando saí e acabei indo até o terraço atrás dela. Quando cheguei lá em cima, um poste explodiu. Desci correndo para cá e consegui alcançar o tal antes dele entrar aqui. Mas quando eu tentei pegar ele, veio uma cortina de fumaça e eu acabei acertando a porta. E por aqui?

– Você deve conseguir imaginar a maior parte – meu pai disse. – Assim que as luzes se apagaram, todos ficaram em guarda. A mesa conseguiu organizar a situação o suficiente para que alguns conjurassem luzes, mas não havia como parar completamente o caos.

– Pelo que eu notei, ninguém saiu daqui de dentro – Atena falou. – Eu estava prestando atenção.

– Então quem quer que tenha feito isso estava lá fora. Um assassino?

– É possível. Mas não acho que seja o caso.

– Então o quê?

– Provavelmente querem que fiquemos presos aqui dentro. Querem ganhar tempo. Por isso esperaram você sair. Agora, todos têm alguém de quem desconfiar e a situação toda se torna um mar de especulações. A mesa vai impedir qualquer um de sair até confirmar a situação, mas já devem estar trabalhando em verificar os arredores por possíveis ameaças.

– Claro que isso não significa que a ameaça está mirando em algo próximo daqui – Atena disse. – O alvo real pode muito bem ser o hotel onde qualquer um aqui está e tudo que eles querem é causar um pouco de caos e disfarçar a intenção.

– Você consegue confirmar se o nosso quarto está seguro? – falei para Atena.

– Eu coloquei algumas proteções. O suficiente para ninguém entrar lá. Estamos seguros por esse flanco.

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