Entre Reinos

Crueldade

Ouço meu pai se despedir da minha mãe, e corro para sala preparado para o acompanhar, uso uma pequena sacola pendurada no ombro com uma faca e alguns alimentos, acho que meu subconsciente pensa em sair novamente de Shawdon, mais o consciente sabe que isso é uma tremenda loucura.

- Onde pensa que vai com essa sacolinha no ombro?- minha mãe pergunta cruzando os braços.

- Eu vou acompanhar meu pai, para resolver tudo sobre sua nova casa e renda, responderei por você se assim desejar.- tento parece o mais cortes possível.

- Não adianta vir com esse seu cavalheirismo, ainda está de castigo e tudo que desejo é que volte para seu quarto.- ela responde brava.

- Doniki não seja tão rude, ele só quer fazer seu papel de homem e de filho, o deixe crescer.- meu pai diz com uma voz suave.

Minha mãe olha para meu pai com um olhar acusador, mais ele não tira o leve sorriso do rosto e ela acaba sedendo.

- Tudo bem, pode ir com o seu pai, mais isso não significa que voltei a confiar em você. Está me entendendo Dominus?

- Perfeitamente mãe.- abaixo a cabeça, não quero correr o risco dela voltar atrás.

Eu e o meu pai seguimos caminho até o castelo em silêncio, apenas com o som das patas dos nossos cavalos e dos seus homens logo atrás. Percebo que meu pai tenta me dizer algo algumas vezes mais logo desiste, tenho certeza que ele sabe os meus verdadeiros interesses, ou está muito curioso para saber.

- Qual sua verdadeira intenção de voltar comigo meu filho?- ele pergunta sem olhar para mim.

- Quero realmente ajudar minha mãe!- tento convece-lo também.

- Pode até enrolar sua mãe com desculpas bobas, mais para me enrolar teria que ser mais convincente.

Reviro os olhos sem que ele perceba, parece que vou ter que contar ao menos a meia verdade.

- Preciso ver Guilhermo e lhe pedir desculpas por atrapalhar seu trabalho.- as palavras se embaralham ao sair da minha boca.

Meu pai me observa de sombrancelhas juntas, serro os lábios e olho para frente com a tentativa de parecer sincero, mais não parece estar dando certo.

- Meu filho o que realmente houve em sua saída de Shawdon?- o rei pergunta tentando não gritar.

- Nada meu pai, apenas o que ficou sabendo.- dessa vez olho nos seus olhos.

- Espero que um dia me veja como alguém confiável, e me conte o que realmente houve, poderia arrancar a verdade de você como rei, mais preciso que confie em mim como seu pai.

Ele se distancia com seu cavalo, me fazendo cavalgar mais rápido junto aos outros homens.
Em questão de minutos chegamos ao castelo.

Logo na chegada vejo Guilhermo com uma garrafa de bebida na mão andando nos arredores do castelo, tão cedo e ele mau se aguenta em pé, o que está havendo com ele? Cada dia que passa desconheço ainda mais o meu amigo. Melhor eu ir até ele.

- Guilhermo o que pensa que está fazendo? - o encosto em uma carruagem antiga para que mais ninguém o veja nesse estado.- Se alguém o ver nesse estado a essa hora será motivo de piada.

- Olha só se não é o filho do rei!- seu tom é alto e sarcástico- O que você deseja ó bastardo?

Ele mal consegue ficar em pé, eu poderia terminar de derruba-lo mais ainda tenho muita consideração, e ele é o único que pode me dá notícias da garota.
Tomo a garrafa de sua mão e a jogo para longe, ele tenta falar alguns palavrões mais saem tão emboladas que mal consegui entender. O penduro em meu ombro contra sua vontade e o levo para entrada lateral do castelo que leva direto para a cozinha, algumas mulheres que estão trabalhando param e vem ao nosso encontro.

- O que aconteceu com ele? - Pergunta uma senhora de cabelos presos em um pano amarelo.

Outra mulher um pouco mais nova retira uma caixa de verduras de uma cadeira no canto dá cozinha e aproxima de mim, para que eu coloque Guilhermo sentado.

- Já o encontrei assim totalmente bêbado...- tentei explicar mais a mulher com um pano amarelo na cabeça começou a me olha de uma forma estranha.

- Há, mil perdões senhor, eu não havia percebido que era o filho do rei.- ela diz em um susto e se curva, todas as outras mulheres voltam para seus postos na rapidez de um raio.

- Não se preocupe com apresentações, só quero água para despertar meu amigo.- digo apontando para Guilhermo que já roncava e babava com sua cabeça jogada para trás.

- Acredito que água não será o suficiente, vou providenciar um café bem forte e amargo, isso sím o despertará.

- Tudo bem, vou deixa-lo em sua responsabilidade.- saí dá cozinha novamente pela porta lateral e volto para a frente do castelo.
Não havia mais ninguém na entrada principal, meu pai provavelmente já estaria resolvendo as novas terras para minha mãe. Decido andar pelo castelo para encontrar uma forma de sair de Shawdon novamente.
Em um pequeno quarto onde fica alguns bancos para descanso vejo alguns dos homens que saíram em busca dá garota, é a chance que eu tenho de saber algo.

- Será que eu poderia me juntar a vocês?- pergunto já invadindo o quarto.

- Mais é claro senhor, será sempre bem vindo aos nossos assuntos.- diz Ferry, um homem forte e careca com barba grande e vermelha vibrante.

Sentei em um dos bancos e fiquei prestando atenção no assunto, falavam sobre tudo menos sobre a caçada fora de Shawdon, se eu não puxar o assunto eles não vão falar nada sobre o que eu realmente quero saber.

- E então , meu pai me contou sobre a caçada.- todos me olharam de uma só vez, espero não me arrepender de inventar essa história.
Ferry olha para os outros homens sem expressão alguma, e logo em seguida começa a rir e os outros o acompanha em uma gargalhada alta e desnecessária.

- Então ele deve ter ficado muito feliz em saber que eu acertei um dos peixinhos, pena que não pude traze-lo para come-lo assado, como comemos as maçãs que achamos na cesta.- todos voltaram a gargalhar.

Fiquei imóvel por alguns segundos, e o rosto da garota veio em minha cabeça como um soco no nariz, senti um frio congelante no estômago, como eles tiveram coragem? Eu não posso acreditar, será que a fizeram sofrer? Um sentimento novo e confuso toma conta de mim, não sei ao certo o que sinto agora, mais raiva não seria uma palavra errada.