A maçã

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  Andando entre as ruas a procura de verduras para minha mãe, observei que estava tudo tão quieto que parecia errado, nosso reino estava em um silencio aterrorizante, nunca foi tão calmo, talvez seja a festa do Rei Alcir que esta próxima e sempre causa um pouco ansiedade e aflição, e esse ano ainda é ainda pior, já que ele obrigou a presença de todas as garotas que completasse dezesseis anos.

   O Rei Alcir é um homem dedicado, porém tem gostos um tanto peculiares, ele se tornou rei muito jovem e ainda não possui uma rainha, pois seus hábitos e gostos acaba afastando as mulheres, apesar disso não lhe faltam garotas que queiram estar ao seu lado. Suas festas normalmente tornam-se assuntos por dias e a maioria das pessoas vão por obrigação, a última festa que o rei deu, mulheres corriam peladas de um cômodo para outro fugindo dos seus desejos devassos .
Esse ano eu realmente não queria ir, mais já tenho dezesseis. Diferente de outras garotas, eu tenho medo de ser escolhida pelo rei, o fato do meu pai ser seu amigo pode faze-lo me respeitar, mais nunca se sabe o que passa na cabeça do Rei Alcir.

  Depois de me perder nos meus pensamentos, compro todas as verduras que minha mãe pediu e no caminho para casa encontro duas conhecidas, as irmãs Graces.

-Então Meriny seu pai vai leva-la para a festa? - rapida e fria pergunta Sasha uma garota Loura e roliça de vestido verde caido nos ombros, ela é a irmã mais velha, se não me engano um ano mais velha que eu.

-Sim! Mais não é da minha vontade.- tento ser mais educada- E vocês irão?

- Também iremos!- elas estão extremamente felizes, não parecem nada interessadas se vou ou não por vontade própria. -Estou animada é o meu primeiro ano, nossa mãe já está preparando nossos vestidos, com certeza chamaremos a atenção do Rei Alcir.- 

  Dina é a irmã mais nova, está eufórica, ela é loura magra e alta usa vestido acinturado que lhe cai muito bem,ou melhor sua mãe faz ótimas roupas e temos a mesma idade.

-Então nos veremos lá.- aceno para as duas e continuo caminhando para casa.

 No caminho de volta me perco novamente em meus pensamentos e imagino como seria a vida fora desses portões, como tudo isso foi construído, como era antes de tudo ser como é.

-Meriny o que aconteceu, porquê demorou tanto?- pergunta minha mãe com um olhar assustado assim que fecho a porta.

- Desculpa mãe!  Lá fora esta tudo tão quieto, foi difícil achar vendas de verduras.- respondo a confortando.- Também encontrei Sasha e Dina, elas parecem bem contentes com a aproximação da festa do rei.

-Há minha filha nem me fala sobre essa festa. - ela me olha com um olhar baixo- Seu pai vai levar você, mais não sei se é uma boa ideiaa. Você é tão bonita é impossível não repara-la, tenho medo que seja escolhida.

  Minha mãe parece ler meus pensamentos, estou tão assustada quanto ela, mas não posso demonstrar, ela absorve meus sentimentos, e não quero vê-la triste. Logo mudo de assunto.

-Onde está meu pai?

-Foi comprar algumas latas de tinta para pintar as paredes da nossa casa, estão horríveis.- ela fala animada enquanto leva a sacola com as verduras para a cozinha.

-Não está tão não!

-Realmente não está ruim, está péssimo! E a senhorita tem que parar de treinar dentro de casa, as paredes são feitas de tijolos, mais uma enxurrada como a da semana passada ficaremos sem casa.

 Entro em uma discussão acirrada com minha mãe do quanto é importante treinar e o quanto é necessário manter a casa em ordem.  

-Tudo bem! você ganhou, prometo não treinar mais dentro de casa, mas por favor só não deixa meu pai pintar meu quarto.- peço com voz manhosa.

- Seu quarto é o comodo que mais precisa de tinta.

-Mãe! São os meus rabiscos, estão lá desde que aprendi a escrever, não é justo, você tem que falar com o papai.

- Porquê não fala você mesma?- ela acena para ele logo atrás de mim.

-Falar o quê?- pergunta meu pai com duas latas enormes de tinta.

-Queria muito que não pintasse as paredes do meu quarto.- falo com voz manhosa, mas normalmente com ele não funciona.

- ,Comprei tinta para casa toda, e quando eu digo a casa toda, inclui o seu quarto.- ele fala colocando as latas no corredor entre a cozinha e a sala.

-Mas pai...- minha mãe me interrompe.

-Vamos fazer assim! Você deixa seu pai pintar o quarto e eu faço aquela torta de maçã maravilhosa. E então? - ela pisca o olho para mim.

- Tudo bem, nada que eu venha a falar vai mudar a ideia dele mesmo, e eu amo sua torta de maçã.- Falo com um tom triste, não consigo esconder minha decepção.

- Filha você esta crescendo, não se agarre a uma parede.

Minha mãe tenta me acalentar, mas pra mim é muito mais que uma parede, tem sentimentos e muitas lembranças envolvido. Meu pai não vê que ele irá apagar um pedaço da minha infância. 

-Papai não vai comer um pedaço da minha torta.- meu pai me olha de canto de olho e minha mãe gargalha.

Ele coloca uma roupa velha e afasta nossos poucos moveis da parede da sala para começar a pintura, eu ajudo minha mãe com a janta e ajudo meu pai a pintar ,correndo de um lado para o outro.
Até que sentamos para jantar.

-Amanhã eu termino de pintar.- diz meu pai alongando os braços que provavelmente devem estar doendo.

-Tudo bem querido.- minha mãe segura sua mão em cima da mesa.

- Amanhã depois que pintar poderia ir comigo pegar algumas maçãs para a torta pai?- pergunto cortando os olhares deles.

-Não vai dar filha, com essa festa anual tenho muitas obrigações e ficarei sem tempo.

-Então eu irei sozinha.- os dois olham para mim ao mesmo tempo.

-Não!- os dois falam de uma só vez.

-Mais porquê não? Já sou bem crescida, posso pegar algumas maçãs.- eu tento convence-los.

-A macieira fica fora dos portões de Asgharny, lá fora é diferente, lá fora você não tem amigos, se encontrar pessoas erradas não duraria nem um segundo.- meu pai fala nervoso e seu rosto empalidece.

Olho para minha mãe, esperando sua aprovação, talvez ela confie que posso me cuidar.

-Não me olha assim querida, concordo plenamente com seu pai, ir lá fora sozinha é perigoso.

Levanto da mesa sem dizer nada e vou para meu quarto. Deito na minha cama e olho para meus rabiscos , eles me encorajam me faz crer que cresci e que sou capaz.

Esta decidido, eles querendo ou não amanhã irei ultrapassar os portões de Asgharny e irei trazer maçãs.

Entre ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora