Meu sangue

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    Meu pai implorava a minha presença no castelo, ele me deu uma semana para pensar, mas eu só pensava na minha mãe, ela já mais deixaria nossa humilde casa onde vivemos felizes para viver em um castelo rodeada de serpentes chamando-a de amante ou ofensas piores, eu também não permitiria. 

Passei a semana pensando, hoje tenho que dar uma resposta para ele.

   Chego cedo no castelo e me deparo com muita gente indo e vindo com bandejas, tapetes, pequenos barris de vinho e muitas outras coisas. Tudo indica que haverá uma festa, o que é bem estranho, não me lembro de nenhum motivo. Pensando bem, quando se trata do rei Verssis nada é estranho.
  Procuro meu pai e o encontro no porão onde se faz vinho, ele está sem camisa com as pernas da calça suspensa até os joelhos dentro de um barril, amassando uvas com os pés, e sinceramente não me surpreende.

- Atrapalho?- pergunto em um tom baixo para não assusta-lo e ele se vira rápido.

-Claro que não meu filho, estava só amassando algumas uvas. Você não tem noção de como é satisfatório fazer sua própria bebida.

-Posso imaginar, deve ser uma emoção surpreendente.- falo erguendo as sobrancelhas para o barril e usando um pouco do meu sarcasmo.

-Seu sarcasmo ainda vai te fazer mal!- ele sai do grande barril, pega uma toalha branca e a mancha limpando as pernas e os pés.

-Desculpa se suou tão sarcástico.- tento ser mais convincente.

-Tudo bem, herdou isso da sua mãe, ela não consegue falar duas frases sem ser sarcástica.- ele para no tempo e sorri.

- Haverá uma festa aqui?- mudo de assunto- Não consigo me lembrar de nada especial hoje.

-Não! Apenas capricho do seu irmão, sabia da sua chegada e fingiu está doente, fazendo os criados entrar e sair dos seus aposentos para chamar minha atenção.

  Meu pai arruma suas roupas e subimos para sala de conforto. Ele senta em uma poltrona enorme vermelha e preta e eu me sento em sua frente em uma cadeira forrada de um acolchoamento aveludado vermelho. Logo em seguida uma garota entra na sala me cumprimento e se curvando para meu pai. Ela é a irmã de Guilhermo, parece que está sempre me seguindo.

- Desculpa incomodar, trago notícia do príncipe Teou, ele diz se sentir muito mal.- ela falava com meu pai com uma voz doce e suave, mas seus olhos sempre corria para mim.

-Pois diga a ele que não sou médico.- os olhos da garota saltam de susto com a reposta do meu pai.

-Tudo bem majestade, com sua licença.- ela saiu de fininho e me deu uma ultima olhada, seus cabelos castanhos e seus olhos caramelo sempre chamaram minha atenção, sua beleza é mais que normal.

- Então Dominos, vamos ao que interessa, o que decidiu?- ele pergunta batendo as pontas dos dedos no braço da cadeira.

- Meu pai! O senhor sabe melhor que ninguém que minha mãe jamais aceitaria viver aqui, e eu não a condeno, por isso não seria justo tira-la do seu conforto por um capricho seu e meu e faze-la viver com duas cobras dia após dia...

-Dominos não seja tão rude, esta falando da minha esposa a rainha e do príncipe seu irmão.- ele me repreende.

- Não vou pedir desculpas, sabe muito bem o que penso deles e isso não vai mudar.

-Eu entendo e admiro sua sinceridade, nunca tentou agradar ninguém além da sua mãe. Tenho que falar uma coisa. Na guerra com Asgharny perdi muitos homens, vi muitas crianças chorarem por perder seus pais, muitas mulheres sofrendo por se tornarem viúvas,  a vida é cruel, não sei quanto tempo vou durar liderando tudo isso, eu faço parecer ser fácil, mas não é, nunca foi e eu preciso de alguém que tenha meu sangue e minha força para governar Shawdon, e esse alguém é você meu filho, eu farei de tudo para que isso aconteça.

  As palavras do meu pai soam pesadas e cansadas, mas não posso aceitar essa oferta.

- Eu não posso meu pai, tenho seu sangue, posso até ter sua força, mas não faço parte da realeza, sou apenas um bastardo.

- Ao menos pense nisso. Para ser líder não precisa ser rei ou príncipe, basta ter uma ideologia de vida que lhe renda seguidores, pessoas que confie em você, que dariam suas vidas para proteger suas ideias. Vejo como protege a sua mãe com unhas e dentes, sempre coloca o bem estar dela antes do seu, sabe fazer as escolhas certas, mesmo que não seja o desejo do seu coração, isso é ser um líder.

-Quer que eu me torne um Líder? Sabe que se isso vier a acontecer você pode perder o poder sobre todo nosso povo? sem falar na chegada de uma nova hierarquia.

- Pois que venha essa nova hierarquia, não temerei...-percebo que meu pai não tem noção do que está falando, seus olhos tinha um brilho diferente, é visível que ele não precisa de um rival, ele precisa de apoio, ele precisa de um filho ao seu lado, precisa de mim.

  Me sinto entre a cruz e a espada, de um lado tem a minha mãe, não posso abandona-la para agrada-lo, do outro lado tem meu pai o rei, que esta totalmente amargurado por não me ter ao seu lado. Preciso da um jeito.

-Pelo que eu vejo meu pai, essa conversa pode durar horas então vou encurta-la. Você pode dar para minha mãe terras mais próximas do castelo e eu posso persuadi-la a ficar com elas, assim poderei estar mais próximo. É a única alternativa que tenho no momento, oque acha?-  por alguns segundos o rei fica inexpressível. 

-Sera que realmente conseguiria fazer a sua mãe morar mais próxima de mim? Quer..quer dizer do castelo?- ele pergunta mudando sua expressão para um longo sorriso.

-Posso tentar!  Se isso o faz tão feliz.

-Você nem imagina meu filho, meu coração se aquece de felicidade.

-É melhor que fazer sua própria bebida?- pergunto sorrindo.

- Muito melhor Dominus, muito melhor.- o som da nossa gargalhada preenche toda a sala.

Entre ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora