Cap 1 - Dezenove anos depois

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Dezenove anos, três meses e 29 dias. Esse foi o tempo que se passou desde aquela noite no Salão Principal de Hogwarts. Voldemort estava morto, derrotado. Seus comensais, ou pelo menos os que sobreviveram, hoje viviam escondidos ou simplesmente longe dos olhos da comunidade bruxa, por vergonha, claro, eles não mais acreditavam nas insanidades proferidas por Voldemort, sendo que muitos deles até mesmo se arrependeram do que fizeram.

Foi em uma manhã de 1º de setembro que Hermione se encontrou com seus amigos, Harry e Ginny. Tanto ela quanto o casal acompanhavam os filhos à Estação de King's Cross. Rose teria seu primeiro ano na escola e por isso estava animadíssima, já seu irmão Hugo, andava com a cara enfiada em um daqueles vídeo-game portáteis que ele havia ganhado do pai.

"Hugo vem." – Hermione o chamou.

Sem resposta. O menino simplesmente adentrou no carro que o esperava na porta do prédio em que moravam.

"Hugo, deixa de ser idiota, a mamãe ta falando com você seu trasgo!" - Rose interveio.

"Eu escuto com os ouvidos Rose."

"Vamos, a gente já ta atrasado. Deixa seu irmão pra lá Rosie...."

Entraram no carro e Hermione dirigiu até a estação. Encontrou com Harry na porta, ela sorriu ao ver o amigo de longe. Ele havia se tornado um homem, e ela sentiu orgulho ao vê-lo tão amadurecido, mas lembrou que ele ainda mantinha os mesmos cabelos pretos desgrenhados e os olhos verdes brilhantes, sempre tão cheios de generosidade. Lembrou-se que ela também havia crescido, e muito, especialmente neste último ano. A decisão de se separar depois de tanto tempo de casamento não foi nada fácil. Não houve culpados, simplesmente acabou, sem nem ela ver direito. Rony era um excelente pai e sempre foi um marido exemplar, mas certas coisas só não têm explicação. E essa era uma dessas, não existia mais casamento.

"Mione! Uma bruxa feia como sempre!" – Harry riu e deu na mulher um abraço apertado.

"Ai sai pra lá seu aurorzinho de meia tigela! E chega de abraço, nem parece que me vê quase todos os dias no Ministério...." – ao dizer isso ela deu um empurrãozinho no amigo. – "e feia é a senhora sua tia!"

"Hahahaa! Pior que ela era mesmo..." – Harry hoje estava com o riso solto.

Entraram na estação e Gina já os esperava próxima à divisa entre as plataformas 9 e 10. Ela estava acompanhada de três crianças e um rapaz de cabelos roxos. James, Albus e Lily eram os filhos de Harry e Gina, cada um com sua particularidade, mas todos generosos e amorosos como os pais. O garoto de cabelos roxos era alto, magro, mas encorpado, tinha os olhos brilhantes e traços que por vezes lembravam a tão peculiar característica do pai, e outras vezes lembravam a doçura da mãe. Remus e Nynphadora, ambos heróis que infelizmente não sobreviveram à batalha derradeira.

"Tia Mione!" – Ted Lupin foi o primeiro a abraçar a mulher. – "Que saudades...passei no seu escritório ontem quando cheguei do treinamento de aurores mas você não estava...."

"É, estava em uma audiência, mas não se preocupe meu bem, vem cá e me dá um abraço muito apertado!" – Hermione tinha um carinho muito especial pelo rapaz, ela conheceu Tonks e admirava a coragem da auror e Lupin, além de ter sido um dos mais brilhantes professores que ela já teve, foi também um amigo muito querido.

"Ah, mas assim eu vou ficar com ciúme...." – Gina fez aquele olhar de cachorrinho sem dono para a amiga e comadre.

"Ihhhh! Mas hoje todo mundo deu pra me mimar é?" – Hermione riu com vontade.

As duas mulheres se abraçaram e logo após se soltar da ruiva Hermione deu um abraço em cada sobrinho. Harry então apressou todos, pois faltavam somente vinte minutos para as onze horas e eles ainda tinham que atravessar a passagem.

Depois de atravessar tudo e todos, Hermione parou no meio da fumaça e lá estava ele, o Expresso Hogwarts, o mesmo que ela pegou pela primeira vez, há mais de vinte anos. Foi ali também que, depois de toda a confusão das malas e de pré-adolescentes ansiosos que a mulher viu algo que lhe chamou atenção. Um menino, que devia ter a idade de Rose, estava parado perto de uma das pilastras da plataforma. Era um menino tão loirinho, mas tão loirinho que Hermione pensou que tinha sido transportada ao passado ao passar pela passagem na parede, pois aquele menino era cara de Draco Malfoy aos onze anos de idade. Sem que ela se desse conta quando foi, um homem estava parado ao lado da criança, ele era alto, loiro e usava um terno preto, muito alinhado. Somente quando este se virou foi que Hermione pode ver quem era: ele. Draco Malfoy em pessoa.

"Continua lindo não é?" – Gina apareceu ao lado da amiga e lhe disse isso bem perto do ouvido, sempre mantendo o seu próprio alerta à aproximação do marido.

"O quê?" – Hermione sobressaltou-se.

"Malfoy. Ah vai Mione, vai dizer que nunca achou ele uma coisinha, ou melhor, coisona? Hahahah! Só não conta pro Harry o que eu disse..."

"Gina! Eu nunca consideraria esse...esse...essa doninha saltitante detentora de alguma beleza!"- ela agora ajeitava seus cabelos como se quisesse de alguma maneira tirar o volume já há muito inexistente dos mesmos.

"Sabe do que eu fiquei sabendo? Ele voltou de vez da França. Os pais ficaram e parece que a mulher também....ouvi por alto a estagiária da Skeeter comentando que ele fez o pedido de divórcio na semana passada...nada confirmado claro, mas tudo indica que o sonho acabou no reino Malfoy..." – Gina falava tudo isso baixinho.

"E desde quando você virou fofoqueira hein sra. Potter? Francamente Ginevra, você, usando Rita Skeeter como fonte de informações?" – o olhar de desaprovação de Hermione para a ruiva só fez esta rir.

"Olha a fofoca vocês duas..."


"Pai!" – Hugo pulou no pescoço do ruivo que havia acabado de chegar ao local.

"Ei cara, peraí, deixa eu respirar!"- Rony fingia estar se enforcando com o abraço do filho. – "Gostou do presente que eu te mandei? Seu tio George disse que não devia te dar coisas trouxas, que lá na loja tem artigos "mais interessantes", mas eu acho que você ainda ta muito novo pra experimentar certas mercadorias...heheh"

"Ah ele adorou muito, tanto que não larga isso mais, nem sequer fala mais com a gente." – Hermione completou com a voz meio insatisfeita.

"Bom dia pra você também Mione."- Rony sempre sabia como desarmar a agora ex-esposa.

"Bom dia Ronald. E a Molly como ta?"

"Ta ótima. Com saudades dos meninos....Rosie!

"Papai! Olha só o que a mamãe me deu! Uma coruja acredita? Ainda não dei nome, mas eu e o Al estamos em dúvida entre Stardust e Golden....o que você prefere?"



"Hum....Stardust sem dúvidas. Mas que tal algo como... Zeca?"

"Eu não vou chamar minha coruja de Zeca! Que espécie de nome é esse?" – Rosie colocou uma das mãos na cintura enquanto fazia uma cara que fez Rony sorrir, pois lembrou muito as que a mãe da menina fazia nos tempos de escola.

"Sempre mandona como sua mãe né menina? Vai então, dá o nome que você quiser ô coisinha teimosa!" – Rony disse isso e apertou as bochechas da filha que fez questão de botar língua pra ele.

"Então Mione, mamãe ta com saudades de você, dos meninos, vocês quase não foram lá esse verão, especialmente a Rosie que ta indo pra escola agora...."

"Desculpa Rony, é que parece que eu tive trabalho em dobro esse verão e queria muito ter ido ver todo mundo, levar os garotos..."

"Posso te pedir uma coisa? Deixa eu levar o Hugo pra passar uns dias comigo lá na Toca, a Gina me falou que ele ta meio "rebelde" ultimamente e que você tem passados uns maus bocados por isso. Eu levo ele pra lá, a gente conversa, meu pai vai ta lá também, você sabe que ele adora o velho Weasley..."

"É, ele tem mesmo estado um pouco distante de mim esses últimos tempos, mas eu também tenho trabalhado demais, é mais minha culpa do que tudo....mas tudo bem, se ele quiser pode leva-lo, ele tem mesmo passado muito tempo na casa do Harry..." – ao dizer isso Hermione lançou um olhar um tanto desolador para o filho mais novo, um garoto de cabelos castanhos e olhos azuis de dez anos de idade que estava apresentando certos problemas em aceitar a separação dos pais.



"Olha, olha! Se não é o todo poderoso cobra venenosa do Malfoy! O quê que ele ta fazendo aqui? Não morava na França esse infeliz?" – Rony perguntou olhando na direção de Draco e o filho.

"Aparentemente ele está se separando da mulher e decidiu voltar pra cá." – Hermione respondeu sem pensar muito e com isso fez todos a encararem, alguns com cara de susto como Rony e Harry, outros com olhar de divertimento, no caso, Gina. – "Eu acho, ouvi, sei lá, boatos gente! Quem vai saber? Por que eu saberia?"

"Bom.....então......aquele é o pequeno Scorpius? Rá! Rosie, escute bem o papai, vem cá filha, você trate de ser melhor que esse filhote de cobra em tudo okay?" – Rony puxou a filha da rodinha de crianças em que esta estava.

"Ronald! As crianças nem se conhecem e você já ta criando inimizades entre eles....isso é ridículo!" – a mulher fez um olhar de desaprovação para o ex marido.

"Ta bom! Ta bom! Escuta, você não precisa odiá-lo, mas também não vai ficar muito amiguinha não porque seu avó Weasley não vai gostar se você casar com um sangue puro!"

"Ronald!" – O coro foi formado pela ex, pela irmã e pelo cunhado.


Logo depois desses comentários convencionais de Ronald, as famílias Potter e Weasley se adiantaram para perto do Express que já estava em vias de partir.

Hermione, enquanto se despedia de Rose ouviu sem querer uma conversa de Alvo com Harry, na qual, ele tranqüilizava o filho, dizendo que não era problema algum ele ser da Sonserina caso fosse essa escolha do chapéu, e confidenciou ao filho, que ele teve a chance da escolha e preferiu a Grifinória. Após beijos, abraços, choros maternos, todas as crianças embarcaram.

"Você nunca me contou sobre o fato de você ter escolhido a casa Harry" – Hermione disse baixinho enquanto Gina conversava alguma coisa com o irmão. Harry deu um largo sorriso a amiga.

"Sim, no começo o chapéu cogitou Sonserina pra mim, mas eu pedi que não fosse. Então ele achou de bom tom que eu fosse para Grifinória! Acho que já foi a primeira aventura que eu vivi em Hogwarts, a escolha da minha casa!" – e os dois sorriram.

"Rindo de que?" – Gina se aproximou do marido e foi logo abraçada pela cintura.

"Lembranças de nosso primeiro ano Gina" – Respondeu Hermione.

"Parece que faz séculos, não é mesmo? Lembro-me como se fosse agora o primeiro jantar! Uma beleza, quase tão bom quanto da mamãe!" – todos riram com a capacidade gastronômica de Rony.

"Falando nisso, ela está nos esperando! Vamos logo?" – Gina disse, já seguindo em direção a passagem.

"Sinto muito, mas eu não poderei ir." – Hermione realmente fez uma cara de desgosto por isso.

"O que você vai fazer agora mamãe? Afinal sua lista é bem grande!" – Hugo disse irônico, sem tirar os olhos do jogo.

"Não fale assim com sua mãe Hugo." – foi Gina quem o retaliou.

"Só estou dizendo a verdade!" – concluiu o garoto.

"Tudo bem. Hugo você pode olhar para mim por um minuto?" Hermione pediu. O garoto olhou para o rosto da mãe com uma frieza que muitas vezes ela viu em um rosto, que nada tinha de castanho, mas sim loiro.

"Hugo, eu preciso resolver muitas coisas, ajudar as pessoas e " mas ela foi interrompida pelo



"Não se cansa de ajudar as pessoas não? Afinal já salvou o mundo, o tio Harry, o papai e não sem mais quem! Que saco!" – ele quase gritou.

"Que palavras são essas Hugo? E sim, sua mãe já me salvou e salvou o mundo, e foi para isso que ela nasceu! Você deveria sentir orgulho dela, e não reclamar por isso!" – Harry falou calmo, mas firme.

"Só queria ter pais normais. Só isso" – o menino disse mais baixo.

"Mas você tem! Eu e seu pai te amamos, como quaisquer pais fariam. Estamos aqui com você o tempo todo e sempre que você precisar. Mas temos tantas outras coisas para fazer Hugo! E você também tem. Por exemplo, no próximo ano você vai para Hogwarts!" – Hermione tentava não chorar e animar o filho, que ficou muito arredio depois da separação dela com Rony.

"Pois é, até lá vou ter que agüentar você se dividindo entre o trabalho, entre a casa, entre eu e a Rose, ah claro, entre o papai, que agora não passa de uma visita!"

"Agora chega Hugo!" – Rony resolveu se manifestar. "Sua mãe tem a vida dela, como eu tenho a minha, como o tio Harry tem e a tia Gina. Ninguém aqui fica 24 horas por dia tentando mimar ninguém. Acostume-se com a vida, ela não é doce o tempo todo e nem tudo é como gostaríamos que fosse. E chega dessa conversa fiada. Vamos logo para a Toca!" – disse começando a caminhar. Hugo baixou seus olhos azuis e começou a chorar. Hermione ia abraçá-lo, mas Rony não deixou.


"Não Hermione, não faça isso, ele precisa aceitar os fatos". – disse segurando o braço da ex esposa.

"Você foi muito duro com ele Ron!" – respondeu chorosa.

"Só disse a verdade Hermione, as crianças têm que viver no mundo real."

"Mas não é assim..." – Hermione foi interrompida por Harry agora.

"Tudo bem gente, não é hora para isso!" - disse apontando para o garoto, que agora estava abraçado à prima Lily, que delicadamente afagava seus cabelos, com esforço, por ele ser mais alto. "Depois vocês conversam sobre isso, tudo bem? Nós já vamos, a senhora Weasley deve estar preocupada. Mais tarde te encontro no Ministério então Hermione." – Abraçou a amiga, que ele percebeu, segurava com muita força um choro inevitável. Rony seguiu e sumiu pela passagem. Logo Gina passou de mãos dadas com Lily que acenou para a tia e Harry seguiu com Hugo que nem se quer deu um tchau para a mãe.

Assim que todos passaram, Hermione deixou as lágrimas caírem com força por seu rosto. A plataforma já estava bem vazia agora, e ela se deixou levar pelo breve desespero que se apossou dela. Sentia-se fraca pelas acusações que seu filho lhe fizera. No fundo não deixava de ser verdade. Ela havia se entregado muito ao trabalho após a separação, numa fuga da dor que sentia pelo fim do casamento. Em meio aos seus pensamentos não percebeu que tinha alguém bem atrás dela. Só se deu conta disso quando esse alguém deu uma breve risada. Ela resolveu olhar para trás.


"Você?" – ela não deixou de abrir bem os olhos ao ver um loiro, com traços de homem, vestido de preto, com um breve sorriso no rosto, e um perfume irritantemente gostoso que o vento trazia até seu nariz.

"Ora Weasley, quantos anos, não? E nem assim você deixa de ser patética. Uma garotinha boba chorando por nada na presença de desconhecidos!" – disse com sua habitual voz arrastada de nojo. Hermione acabou de secar seu rosto e olhou firme o loiro que a fitava profundamente.

"Não que eu lhe deva algum tipo de satisfação, mas, primeiro, não é Weasley e sim Granger e segundo meu motivo para chorar é muito importante, não é "nada", como você diz. E onde eu choro ou deixo de chorar não é problema seu. Afinal, o que você estava fazendo parado aí Malfoy?" ela cruzou os braços abaixo dos seios, o que fez com eles soltassem um pouco do discreto decote da sua blusa, fato que não passou desapercebido do loiro.

"Olha Weasley, você cresceu!" – disse rindo abertamente, olhando para os seios da mulher a sua frente, fazendo com que ela corasse, e descruzasse os braços. "Ah, mas ainda se comporta com uma garotinha de 15 anos." – continuou ainda rindo.

"Você ainda não me respondeu Malfoy. O que estava fazendo aí parado? E é GRANGER!" – tentou desconversar, sem entender na verdade o porquê de ainda estar conversando com ele.

"Não lhe devo satisfações Weasley! Mas como você, eu vou lhe dizer. Assim que coloquei meu filho no Express me deparei com uma cena enjoativa de família feliz. Potter's e Weasley's, até que percebi, que no mundo encantado havia problemas. Resolvi dar uma conferidinha. Confesso, gostei da altivez do seu filhinho!" – Sorriu meio lábio, como nos tempos da escola.

"Está elogiando um Weasley ,Malfoy, cuidado!" – Hermione sorriu para ele.

"Ah, oras, reconheço qualidade, mesmo que seja em pessoas assim."

"Assim como? O que você quer dizer do meu filho?" – Hermione ficou vermelha agora de raiva.



"Calma Weasley!"- Draco levantou os braços em rendição e sorriu mais ainda. "Não vai me dar um soco né? Afinal eu não tenho mais 13 anos, posso reagir diferente desta vez." – Disse a última parte serio.

"Eu não tenho que ficar mais um segundo na sua odiosa presença Malfoy!" – Deu as costas ao loiro, mas ele a puxou pelo braço.

" Nunca se dá as costas para um Malfoy. Não aprendeu isso até hoje?" – sorriu para ela, e antes que fosse retrucado, deu passos largos a frente da castanha e sumiu pela passagem.
Hermione suspirou buscando calma e correu, pois mais 5 minutos a passagem se fecharia e ela ficaria presa ali.



O Ministério andava tão tranqüilo aquela semana, mas tão tranqüilo que Hermione pode até se dar ao luxo de caminhar até a sala de Harry sem precisar se apressar porque tinha esse ou aquele compromisso. Havia um tempo que ela não via o Departamento de Execução das Leis da Magia tão calmo assim.

Hugo estava na casa dos avós há quatro dias e por mais que ela tentasse, não conseguia falar com o filho, Molly coitada, até tentava contornar a situação dizendo que o neto estava no lago aproveitando os últimos dias de tempo quente, ou então estava com os primos. A bem da verdade, Hermione sabia que o filho estava evitando-a, mas depois de alguns dias sozinha em casa ela pode pensar com mais clareza e concluiu que quando ele voltasse pra casa na outra semana, pois suas aulas na escola trouxa iriam começar, ela conversaria com mais calma com o menino e ele voltaria a ser o Hugo doce e gentil que ela conhecia.

Nem bem havia feito a curva no corredor que dava em sua sala, Hermione que estava meio absorta em seus pensamentos, se viu com o rosto inteiramente de encontro a alguma coisa, forte, mas muito cheirosa. Antes que pudesse se recuperar do susto ela ouviu:



"Se cheirar mais eu vou cobrar pelo perfume. Ele é muito caro sabia? Se bem que acho que você não tem muita noção dessas coisas, afinal, casou com o pobretão do Weasley." – Draco Malfoy estava parado na frente da mulher, mas não aparentava a cara de tédio de sempre, o Hermione notou.

"Ai Merlin, o que eu fiz pra merecer isso hein?" – ela disse mais para si mesma do que para o homem à sua frente.

"Eu sei Weasley, você mesma não está acreditando que teve a chance de tocar em mim não é?" – ele disse essas palavras com o sarcasmo de sempre, contudo, dando bastante ênfase no sobrenome Weasley.

"Ah Malfoy, realmente, eu tenho que confessar, meu desejo mais secreto sempre foi te algemar numa cama e usar e abusar do seu corpinho" – Hermione agora tentava passar pelo homem. – "E é Granger, a propósito." – e ela continuou seu caminho, deixando Malfoy com uma expressão um tanto quanto intrigada.




"Harry? Posso entrar?" – Hermione deu leves batidinhas na porta de madeira que levava os escritos Chefe da Seção de Aurores – Harry James Potter, e sorriu de leve ao ler isto.

"Entra Mione, já disse que você não precisa bater." – O auror disse se levantando e saindo de trás de sua mesa para abraçar a amiga. "Como anda o Departamento?"

"Parado. Sabe tédio? Então, é exatamente o que estou sentindo..." – ela riu ao dizer isso. – "Só tenho audiências agora na semana que vem."

"Ah, mas você também faz tudo com antecedência, tem que ser mais humana e deixar algum serviço pra última hora!" – Harry sorriu e sentou na beirada de sua mesa.

"E o que você queria falar comigo?"

"Na verdade não sou eu quem quer falar com você, é o King. Ele me pediu pra te acompanhar, acha que eu estando lá eu posso, digamos, te convencer mais facilmente." – o moreno deu uma piscadinha para a amiga.

"Porque eu não estou gostando disso hein? Me diz Harry, se até o Ministro tem receio de me pedir uma coisa que acha que só você pode me convencer a fazer....sei não...." – Ela botou as mãos na cintura como fazia sempre.

"Vem logo, não podemos deixá-lo esperando." – dizendo isso ele pegou uma das mãos da mulher e a puxou pela porta afora.


"Entrem meus amigos, por favor."

Uma voz grave, mas muito dócil foi ouvida do outro lado da porta que Harry bateu quando chegaram ao último corredor do primeiro nível do Ministério da Magia. Era a sala de Kingsley Shackelbolt, Ministro da Magia desde que Rufus Scrimgeour fora morto por Comensais da Morte, dezenove anos antes. Kingsley, ou só King como os amigos o chamavam, continuava aquele homezarrão alto, negro e muito, muito amável, que não só aqueles que o conheciam há tantos anos admiravam.

"Como vai Harry? Não veio me ver antes de partir para aquela missão no Brasil, gostaria de ter feito umas pequenas encomendas, sabe como a Brenda sente falta da terra natal...."

"Ah King, me desculpe, é que foi tão depressa..." – Harry passava as mãos pelos cabelos pretos.

"Não tem problema, estava pensando em levá-la lá no final do ano mesmo, agora não tenho mais desculpa! Hahahah!" – o ministro riu com vontade. – "Sra. Oops, SENHORITA Granger, é sempre um prazer vê-la, continua linda!" – o homem fez uma reverência em direção à Hermione.

"Ah King deixa de ser bobo que eu te vi hoje de manhã no Átrio!" – dizendo isso ela abraçou o homem. – "Mas Harry disse que queria me ver. O que houve?"


"Nada de mais, só gostaria de te pedir um pequeno favor." – ao dizer isso, King olhou para o lado direito de seu gabinete.

Hermione não havia notado antes, mas havia um homem sentado no grande sofá de veludo que havia na sala do ministro.

"Mas o que você, o que ELE está fazendo aqui?" – ela fitava Draco Malfoy com os olhos meio cerrados.

"Esse é o pequeno favor que gostaria que fizesse pra mim querida. Veja bem, o sr. Malfoy está de volta ao país e tive muito boas recomendações dele por parte do Ministro da Magia francês. O sr. Malfoy era o principal advogado que compunha o quadro do ministério francês."

"E saiu de lá por quê? Descobriram seu passado negro foi?" – Hermione soltou uma risadinha irônica.

"Mione, deixa o King acabar de falar, por favor."- Harry interveio.


"Como já disse o sr. Malfoy está de volta ao país e com as recomendações que tive, não posso deixar passar um profissional como ele Hermione. Você mesma há de convir que vinha tendo muito trabalho, já que todos querem você em seus casos devido a sua competência. Com Draco aqui vocês podem dividir o trabalho, tudo se baseia em cooperação Hermione." – King olhou para a mulher ao terminar essa frase. – "E pra isto, preciso que auxilie Draco no que ele precisar, apresente-o ao departamento, deixe-o a par dos casos mais controversos e polêmicos, aqueles mais trabalhosos, enfim, acompanhe-o pelas próximas semanas, até que ele se adapte."

Houve então um breve silêncio só quebrado quando Hermione falou.

"Então vocês querem que eu sirva de babá pra ele?"

"Mione, não é isso, agora você está soando como o Hugo." – Ao dizer isto Harry sentiu o olhar aniquilador da amiga.

"É Mione, você está parecendo uma garotinha boba e chorona, outra vez." – Draco finalmente abriu a boca e isso só fez Hermione ficar com mais vontade de quebrar aquele nariz de novo, como havia feito aos treze anos.

"Primeiro: não me chame de Mione. É Granger pra você. Segundo: você tem uma semana pra pegar o ritmo, senão vai ter que se virar sozinho daí pra frente. Terceiro: só dirija a palavra a mim se for estritamente necessário. Quarto: tira esse sorrisinho Malfoy nojento da cara, ele não vai te ajudar aqui. Na verdade, você e toda sua família aqui agora são nada. Zeros à esquerda. Pode agradecer seu papaizinho por isso quando o ver novamente." – Hermione disse tudo de uma vez, mas com bastante calma na voz, o que assustou um pouco os homens na sala.

"Isso significa que você aceita?" – King perguntou.

"Eu realmente tenho escolha King?" – e ela lançou ao homem um olhar meio derrotado.

"O King só pode ta de brincadeira comigo...." – Hermione agora olhava para uma porta que ficava exatamente de frente para a sua, no corredor. Nela vinha escrito Draco Malfoy – Advogado Ministerial.
"O que foi mocinha? Tem medo que a minha seja maior que a sua?" – Draco sabia como ninguém o quanto aquilo tudo estava irritando a mulher à sua frente.

Entraram em uma ampla sala, toda mobiliada com móveis de madeira escura, no canto esquerdo um sofá pequeno de couro verde escuro e duas poltronas idênticas, acompanhadas de uma pequena mesinha de centro. No centro da sala, uma mesa grande e de madeira maciça, com uma cadeira de encosto também grande e verde.

"Ah! Vejo que meus móveis chegaram inteiros." – o homem disse.

"Ah deu pra gostar de decoração agora é Malfoy? Eu sempre soube que aquela mania sua de andar com dois capangas e viver dando passa fora na Parkinson tinha alguma razão de ser...." – Hermione agora havia adentrado a sala e se sentado no sofá de couro.

"Há. Há. Há. Você é hilária Granger." – ele deu pequenas palmas enquanto imitava uma risada. – "A propósito, GRANGER? O que houve com Weasley?"

"Há. Há. Há. Isso não é da sua conta." – ela o olhou nos olhos agora e ele pode ver que apesar deles estarem fixos nos dele, algo nos olhos castanhos dela dizia que isso a machucava.


"Vejo que problemas rondam o perfeito lar dos heróis. O que poderia ser? Hum deixe-me ver....já sei! Ele te trocou por uma dançarina avantajada sem nenhuma daquelas manias chatas de saber tudo sempre? Ou foi pela secretária dele? Ou ainda....ele simplesmente não suportou passar o resto da vida ouvindo sua chatice e agüentando sua falta de noção e a sobra de extrema necessidade de ser perfeita sempre?" – Draco foi mais cruel do que realmente pretendia ser naquele momento, ainda que isso fosse estranho à sua pessoa.

"Você quem está parecendo um garoto de 15 anos agora Malfoy. Acha realmente que esse tipo de coisa me afeta? Eu já passei por tanta coisa na minha vida e com certeza não vai ser alguém como você, escória, que vai me derrubar. Acredite, estou fazendo um favor ao te aceitar aqui." – ela agora se levantou do sofá e foi até mais perto dele. – "Acha que quando acenam a cabeça para você é porque realmente querem? Ou porque te admiram? Não, nem um quinto desse ministério, deste mundo mágico inteiro, é tão bom e nobre quanto o King, que mesmo depois do que sua família fez, ainda acredita que você tenha algo de bom para contribuir para a sociedade. A vida está te dando essa chance Malfoy, aproveite. Faça algo útil, pelo menos uma vez nessa sua vidinha miserável e cheia de ódio, faça valer a pena a confiança que o King deposita em você." – Ela já ia saindo pela porta quando se virou. – "Estritamente necessário, não se esqueça. É esse o grau de contato que quero e exijo ter com você. Sabe onde fica minha sala, se tiver interesse, farei o que King me pediu." – e saiu deixando a porta entreaberta.



Draco então andou em direção até a porta e a bateu com toda força que pôde colocar em seu braço, por muito pouco a maçaneta prateada não caiu. Quem era ela pra falar com ele daquele jeito? Era só isso que ele conseguia pensar. O que ela sabia de sua vida? O que ela sabia de todos esses anos que ele havia passado "exilado" na França, vendo o pai, sempre tão forte, definhar aos poucos, pela vergonha e desgosto pela perda do prestígio e nome da família. A mãe, esta continuava bela e elegante, mas ele sabia que por dentro ela se sentia tão destroçada quanto o marido. Perdera a irmã favorita, teve que agüentar o ódio e depois a indiferença da outra irmã, via o filho impedido de ter a vida que ela sempre sonhou para ele, via o marido morrer aos poucos. Draco casara-se com Astoria Greengrass não por amor. É certo que nutrira alguma paixão pela mulher, mas nada que o fizesse se sentir o mais feliz dos homens. Isso só aconteceu uma única vez, quando seu filho Scorpius nasceu. Esse foi o dia mais feliz de sua vida, a partir daí, Draco viveu para o menino. A chegada da criança foi como um sopro de ar novo e fresco na vida da família Malfoy, os avós encontraram algo que valesse a pena mirar o futuro, da mesma maneira que Draco tinha mais vontade de fazer sua vida valer a pena, até chegou a achar um dia que amava sua esposa. Mas esse dia teve um fim, e agora ele estava de volta ao seu país, e sabia que teria que enfrentar o preconceito e a indiferença de muitos.




Os pais ficaram em Saint Raphael, na Cote d'Azur, litoral mediterrâneo francês, na casa antiga casa de veraneio da família, mas agora que Draco não estava mais lá, ele sabia que Narcissa logo voltaria também, ela sentia saudades de sua casa e queria sempre estar perto do filho. Astoria morava com eles e quando Draco tomou a decisão de se separar, saiu da casa e foi morar sozinho na cidade, até resolver sua transferência para Londres. Scorpius obviamente iria para Hogwarts além do que sua relação com Astoria sempre foi boa e por isso Draco não viu necessidade de fazer junto ao pedido de divórcio, um pedido de guarda do garoto. Mas as últimas notícias não haviam sido muito boas. Recebera uma carta do pai no início daquela semana que o deixou muito apreensivo.





Filho,
como andam as coisas em Londres?

Já arrumou um lugar decente? E a mansão, já a visitou? Desculpe as perguntas, mas sua mãe não vai para de me atormentar enquanto eu as não fizer. E sim, ela está bem aqui ao meu lado agora. E você ainda diz que eu não paguei pelos meus erros....mas você tem uma esposa, sabe do que estou falando. O que me leva ao motivo desta carta, sabe que detesto escrevê-las, mas novamente, sua mãe insistiu e o que eu não faço por essa Black?

Astoria teve uma visita essa semana, um homem. Ela disse a sua mãe que era um amigo do pai dela que precisava de um favor enquanto estivesse na cidade. Obviamente que Cissy desconfiou e quando Astoria saiu de casa, foi até o quarto de sua mulher e achou um cartão de um advogado. Você nos disse que vocês combinaram que seria uma separação amigável e então porque a necessidade de um advogado?

Filho por favor, fique alerta. Astoria pode estar armando algo contra você, algo que tem a ver com Scorpius. Desculpe-nos se estamos nos intrometendo em sua vida, mais uma vez, mas depois de tudo que fez por nós, a maioria das vezes sem nem merecermos, deve ser apreciado. Você se tornou um bom homem e nos orgulhamos disso, mesmo que não tenhamos responsabilidade alguma sobre isso. Algo que com certeza nos arrependemos muitíssimo, eu me arrependo.

Fique bem, e não esqueça, alerta para o que possa estar por vir.

Amor,
Seu pai e sua mãe.






A carta ainda queimava nas mãos de Draco, nada o deixava mais inquieto do que pensar o que estava passando por sua mente. Não queria, não podia acreditar que Astoria seria capaz de fazer algo contra Scorpius a fim de atingir o futuro ex marido. Ela não o faria, iria direto a Draco, ela sabia que o homem ficaria devastado se não pudesse ver o menino, se não pudesse fazer parte da vida deste.

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