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É incrivel o amor que desenvolvemos pelo futebol. É magnífico sentirmos a verdadeira onda de calor quando estamos a ver o nosso clube a jogar. E então conseguir ouvir os adeptos a berrarem e cantarem pelo seu clube tão amado? É arrepiante.

Uns dos meus defeitos é ficar de tal forma tão irritada e zangada quando falam mal do meu clube. No meu ponto de vista, o Benfica tem muito para dar. É um enorme clube com muita garra.
Com o próprio André Silva não foi exceção... A realidade é que fiquei realmente irritada.

Ema: Não gosto que critiquem o meu clube. É normal. E nem é por seres tu a criticar, que vou deixar de ficar irritada. Falta de respeito é aquilo a que chamo quando muitos só sabem criticar as escolhas de alguém, quando criticam um "clube oposto".

André: Não critiquei o teu clube, Ems.

Ema: Disseste que o meu clube é irritante, levei isso como uma critica! (Não te dei autorização para me chamares de Ems.)

André: Gosto da tua personalidade, da tua garra. Sabes o que e quando falar. Desculpa por ter dito aquilo do Benfica, Ems.

Ema: Não é com essas falas que te vou desculpar, André. Pode parecer estupidez, mas sei la, fico mesmo magoada com esse tipo de coisas. Eu realmente sinto o Benfica.

André: Como me podes desculpar? Não é estupidez. Quando se gosta realmente de uma coisa, ficamos assim. Eu também ficaria assim caso fossem criticar o meu clube.

Ema: Queres mesmo que eu te desculpe? É que para isso acontecer, há algo que tens que fazer.
André: Já estou a ver que vem daí merda... Desembucha

Ema: Só te irei desculpar se vieres comigo ver um jogo do Benfica.

André: Nah nah! Só podes estar a gozar comigo Ema.

Ema: É a minha condição. Caso contrário....

André: Isso é injusto!

Ema: Tu é que sabes. É apenas um jogo, mas também sou apenas uma rapariga desconhecida.


"Ema, o telefone não pára de tocar. Podes largar esse vício e atenderes?" A minha mãe reclama.

"E porque é que não podes ir tu, mãe?" Perguntei o mais calma possível.

"Porque estou ocupada."

"É incrível, estás sempre ocupada. Vê lá se um dia até nem podes respirar do quão ocupada estás."

A minha mãe não teve tempo de responder. Peguei no telefone e atendi.

"Sim?" Perguntei.

"Olá sua nojenta. Estava difícil de atenderes o telefone. Só para avisar que ja estou em casa e que daqui a mais ou menos duas horas vamos sair." Falou a minha melhor amiga do outro lado do telefone.

Olhei para o relógio 19h.

"Aleluia Raquel! Bem que preciso." Suspirei.

"Problemas no paraíso?" Perguntou-me.

"Problemas no paraíso!" Afirmei.

"Quando estiveres comigo, explicas-me. Vamos a um café no centro?"

"Sim e sim. Vou-me preparar. Até já."


Após ter desligado o telefone, dirigi-me até à casa de banho e comecei a tomar um bom banho.

Para mim, um banho, é também uma boa maneira de relaxar. Algo que neste momento preciso.
A minha mãe, em termos familiares, tornou-se bastante desinteressada. Passa a vida no trabalho e quando não está no trabalho, é capaz de trazer o trabalho para casa. Tornou-se uma mulher sem tempo. O pior de tudo isto é que, quem mais sente e sofre é o meu irmão Pedro.
Passo a vida a tentar proteger a nossa mãe, quando ele me vem falar sobre o facto de ela não querer saber de nós.

Saí do banho e peguei no meu macacão e nos meus botins. Já pronta, peguei no meu telemóvel (mais uma vez esquecido), na minha mala com os meus objetos pessoais mais importantes e num casaco, e fiz o meu caminho para a sala enquanto esperava pelas horas a passarem.

Cheguei à sala e estavam lá todos. É bom ver que, mesmo que o meu irmão Tiago tenha saído de casa, ainda venha aqui muitas vezes.

"Espero que seja a última vez que me respondas daquela maneira, Ema." Avisou a minha mãe enquanto teclava no seu computador.

"Como é que queres que te responda de outra forma, se me sinto revoltada contigo?"

"Revoltada comigo? Ora agora. A minha filha revoltada comigo, por acaso... E as razões, quais são?"

"Ainda tens coragem de perguntar quais são? Tu não queres saber de nós, mãe! Pára um pouco, olha à tua volta e pensa. Tu tens três filhos e um marido, caraças! Se tu não tinhas assim tanto tempo para nós era fácil, não nos fizesses. O Pedro tem 10 anos, repito 10 anos. Ele ainda é uma criança, precisa da tua atenção, precisa de uma mãe. Eu sou adulta, mas não deixo de precisar de uma mãe, assim como o Tiago. E o pai? O pai precisa do apoio da sua mulher! Ele também tem trabalho e acaba por fazer tudo cá em casa e adivinha só... Ele ainda tem tempo para nós, ele ainda nos dá atenção. Acorda para a vida. Se tu não queres uma família, diz! Se tu não queres saber de nós, diz! Assim acabas com esta porra do sofrimento de uma vez por todas. Eu sinto que não tenho mãe. Só tenho o meu pai." Respirei fundo enquanto limpava as lágrimas. "Vou sair, não esperem por mim." Bati a porta.

A pergunta é: onde fui arranjar tanto fôlego para dizer aquilo tudo sem conseguir respirar bem?
20h:30min, estou sentada na beira da estrada, a chorar e a tremer de nervos.

Só preciso de um anjo que me ajude a deixar de chorar desta forma e por este motivo.

"Ems, és tu?" Uma voz grossa perguntou enquanto parava o carro perto de mim. "Ei, calma. Respira fundo." Abraçou-me.

André Silva, posso dizer que foi este o anjo que me ajudou.

Between fields || A.S PARADAOnde histórias criam vida. Descubra agora