-Está tudo pronto? Tem tudo o que precisa, filho? – Uma Perséfone segurando um cilindro decorado apareceu à porta do meu quarto. Era um ritual que ela tinha adotado desde que soubera da afilhada Cora, colocava um jarro com flores do submundo toda manhã no quarto cuja porta era de frente para a minha. E toda noite, antes de dormir, minha mãe as recolhia, não sei o porquê, já que eram enfeitiçadas e sequer precisavam de água para sobreviver.
Sorri para ela. Não nos falávamos tanto quanto antes, e, nos dois anos que se seguiram, o treinamento tinha tomado tudo o que eu era, todo o meu tempo, minha mente. Eu procurava pensar em qualquer coisa que não se voltasse para a menina que era criada no mundo de cima por pais humanamente tediosos, embora soubesse que uma hora ou outra precisaria encarar minha... Minha "noiva", que agora não passava de uma criança barulhenta. Perséfone tomava os sonhos dela. Eu sabia disso, as escutava algumas vezes, mas nunca tinha chegado a entrar no salão.
A voz de Cora era fina, primária, como a de qualquer criança, e, mesmo para pouca idade, sua dicção para o grego era espetacular.
Já me perguntara como ela era. A cor que seus cabelos teriam, se os olhos seriam da mesma cor dos meus ou... Se ela seria igual à Perséfone. Completamente. Minha mãe imortal era linda e isso não era discutível, se tratava de uma verdade absoluta. Eu nunca tinha visto uma menina de verdade antes, nem mesmo as almas aqui do submundo.
-Brian, sua tia vai chegar daqui a alguns minutos, por favor, não seja teimoso e diga se falta alguma coisa. – Seus olhos brilharam maldosamente e a postura teve o peso realocado de um pé para o outro. – Brian?
-Tenho tudo aqui, senhora. – Prendi a espada ao cinto, com força, e joguei a mochila por cima do ombro. – Não precisa se preocupar.
-E jurei que seria eu a te levar para o mundo lá de cima... Nem tudo sai como planejamos, não é? E agora, sua tia vai te levar num dos passeios dela. Não é incrível? – Mas eu sabia que não era, o modo como ela abaixou o rosto e entrou no quarto de Cora deixou isso bem claro.
-Mãe? – Perséfone parou, voltando-se para mim com uma expressão de surpresa. Eu não a chamava mais assim.
-Sim, querido?
-A neve não deve ser tão bonita assim, não tanto quanto as flores que a senhora disse. E a chuva de verão. – Vi minha mãe sorrir e fechar os olhos, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
Fui para o salão de banquete, onde uma figura alta e feminina se curvava numa breve reverência ao meu pai, que sorria fraco para ela. A figura se levantou, foi quando os olhos dele recaíram sobre mim e o sorriso se fechou, sendo seguido de um aceno de leve com a mão para que eu me aproximasse.
-Brian, quero que conheça uma pessoa. – E logo eu estava de frente para uma morena de olhos brilhantes, mais brilhantes do que todas as gemas do submundo. – Sua tia, Ártemis. E prima, também.
Nossa árvore genealógica era um pouquinho complicada, como devem saber.
-É um prazer conhecê-la. – A lendária deusa caçadora, eu ficaria sob os cuidados dela hoje e só conseguia pensar no quanto seus olhos brilhavam.
-O prazer é todo meu, pequeno! Nem acreditei quando o tio me designou para o passeio! – Quantos anos ela tinha?
-E para onde vamos?
-Andar por aí, comer alguma coisa assada na fogueira, contar algumas histórias e...
-Idiotices. – Hades continuou.
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O Filho da Morte (EM PAUSA)
FantasyBrian não era como os outros. Nunca foi. E o motivo disso envolvia o fato de que desde sua concepção, sua alma pertencia à escuridão. Uma madrugada insana.Uma morte prematura. Sangue. E um Deus dos Mortos furioso marcaram sua quase morte e nascimen...