A Princesa (Pt. 1)

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Graças à minha rebeldia, o mundo humano teve o pior início de primavera de todas e um visita da mãe de Perséfone ao submundo. Deméter odiava aquilo ali, principalmente quando estava acostumada com as cores e a vida que a rodeava.

Minha mãe precisava daquilo, também.

-Pensei que tínhamos um trato, demônio. – A mulher era alta e usava um vestido escuro, com uma coroa de flores douradas e brilhantes, diferente das gemas que meu pai exibia pelas paredes daqui de baixo. Jamais me esquecerei de como foi ver a deusa pela primeira vez. – Onde está minha filha.

Hades conversava com um soldado que tinha asas de morcego quando ela adentrou o salão do trono com aquele ar superior, como se fosse melhor do que todos. Eu estava sentado aos pés da grande cadeira, brincando com um cão negro, Guil, ainda com metade do corpo coberto de faixas por causa das queimaduras já que Perséfone não poderia me curar com magia. De acordo com Hades, meu corpo absorveria o fogo e o estrago que ele tinha causado, era só uma questão de tempo para estar 100% de novo. Guil tinha sido meu presente ao algo do tipo para que não ficasse mais completamente sozinho. Um guarda-costas.

-Aqui, senhora. – Disse, saindo das sombras não muito longe de onde o marido estava, chamou sua atenção.

-Kore! – E seu rosto se iluminou num sorriso maternal que a seguiu até onde a mulher ruiva saía das sombras, usando um vestido que brilhava como um céu estrelado. Bem, de acordo com as imagens que Perséfone trazia para mim. Dessa vez eu acho que não teria mais nenhum acréscimo para a coleção do meu quarto. – O quê? Não está pronta para irmos? O que esse... Esse! O que você fez a ela, dessa vez, irmão?

Deméter voltou-se para meu pai com raiva, segurando os ombros da filha protetoramente. Eu ainda não tinha parado de brincar com Guil, agora ele me olhava com os grandes olhos opacos que os cães negros têm.

Hades não havia parado de conversar com o soldado, pouco dando importância ao que se passava ali.

Quem é? Perguntei.

Mãe da sua senhora. Irmã do seu pai.

Cães negros não gostavam muito de conversar, essas poucas palavras já significavam uma certa simpatia adquirida por mim, que aceitava felizmente, afinal, eram meus únicos companheiros ali. Eu fiquei encantado com a beleza jovial de Deméter, tanto, que só a encarava. Às duas.

-Tivemos um problema com nosso filho... – O olhar da deusa maior recaiu sobre mim.

-Seja o que for, ele com certeza teve culpa nisso! Sempre tem! Tudo o que for necessário para que não passemos tempo juntas!

-Não é bem assim, mãe... – Perséfone já vinha em minha direção. – Eu decidi ficar, para tomar conta dele, não posso deixar minha criança sozinha ou sabe-se raios o que pode acontecer! A senhora entende bem isso, não entende? – Tinha sido na ferida, embora Perséfone não culpasse a mãe pelo rapto, em parte Deméter sabia que fora irresponsável por ter deixado a filha sozinha e sem uma supervisão responsável. – Não vou abandonar Brian quando ele precisa da mãe.

-Pode ir, minha senhora. – Soltei, levantando para sair dali, Guil fazendo o mesmo.

-O quê? Brian...

-Eu não preciso de ninguém além do Guil atrás de mim. Pode confiar, não tem que perder seu tempo aqui comigo. – Eu sabia como aquilo a machucava, mas er o que precisava para que não se privasse do pouco tempo que tinha com a mãe. E daqui a dois meses eu a veria de novo. Estaríamos em família num piscar de olhos.

E num piscar de olhos minha mãe partiu para o mundo dos humanos, sendo guiada por uma deusa sorridente e satisfeita. Hades e eu permanecemos na escuridão, mas eu pude, por um milésimo de segundo, ver um raio de sol escapar para o nosso refúgio, esse raio de sol se chamava Kore e era o lado da rainha dos mortos que poucos tinham o prazer de conhecer. Para minha sorte, eu vi.

-Adeus, meu príncipe.

Dois meses depois, ela voltou com aquele ar fresco que o mundo de cima tinha, cheirando a flores e vida. Eu nunca me acostumava com o fato de uma mulher conseguir se versar em tantas outras, sem nunca deixar com que um lado interferisse no outro. Minha mãe era perfeita. Porém, ela nunca soube disso por mim. E teve muito tempo para sofrer por causa da minha total falta de empatia antes que a sua preciosa chegasse: Uma menina cuja morte vinha escrita desde o útero da mãe, uma menina linda e de olhos castanhos a qual ela deu o nome de Cora.

 A princesa que me serviria de esposa e rainha que eu conheceria como apenas minha, contudo, por ora, chamar aquele bebê que nem ficara conosco - com a pessoa que era igual a ela -  de princesa e desconhecida era com o que eu devia me acostumar.

 A princesa que me serviria de esposa e rainha que eu conheceria como apenas minha, contudo, por ora, chamar aquele bebê que nem ficara conosco - com a pessoa que era igual a ela -  de princesa e desconhecida era com o que eu devia me acostumar

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O Filho da Morte (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora