O Submundo se tornara um lugar vazio desde a aventura de Brian com as ninfas, um lugar cujos prazeres carnais se limitavam ao rei e rainha, desejar tê-los seria assinar uma carta de confissão para com o que fizera, embora Hades tivesse plena consciência do ocorrido. Sequer passara por sua cabeça contar à Perséfone, que contaria à mãe e então submundo poderia esperar uma segunda grande guerra entre os deuses.
Como uma espécie de castigo, Brian não tinha permissão para sair de casa, sequer um outro passeio com Ártemis, ele nunca mais provou sorvete. Mas o pior era não poder ter mais nenhuma companheira com o cheiro que Chia tinha, a doce ninfa de corpo quente e macio, apenas a imagem dela o fazia estremecer, lembrando da pequena aventura entre as raízes. Mas, diferente do que via em seus pais, não sentiu o mínimo afeto por ela depois daquilo, do "momento especial e íntimo".
Em seu coração, o espaço continuava vazio, imaginou que ao menos sentiria saudade num sentido menos visceral e mais sentimental, melancólico.
No entanto... O que tinha era nada.
Como podia ser possível?
-Perdido em algum lugar, garoto? – Ah, ela, a deusa malandra que tinha conseguido convencer seu pai a treinar suas caçadoras sob o domínio dos mortos, onde não havia perigo de algum humano enxerido lhes atrapalhar ou espiar.
Ártemis.
Ela sorriu, pondo uma das mãos sobre o ombro dele.
-Em nenhum importante. Conseguiram se instalar sem problemas? – Devolveu o sorriso, mesmo que em menor proporção, fazia muito tempo desde que tinham se visto, mas parecia que não havia passado em nada para ela, aparentavam ter pouquíssima idade de diferença.
-Sem dúvidas, vocês são os melhores anfitriões, mas não espalhe por aí, Zeus crê que é impecável quando recebe os filhos. – Deu uma piscadela para Brian. – Mas então... O que teve feito desde que nos vimos?
O garoto fitou a imensa construção que chamava de casa, observando com cuidado enquanto as caçadoras saiam pelas portas duplas, todas armadas com arcos e flechas, tendo os cabelos presos em uma trança em cima de trajes arejados e prateados, só que não eram como as ninfas, não se jogariam aos seus pés como elas fizeram, sequer dirigiriam a palavra a ele, apenas se sua deusa lhes mandasse. O grupo de Ártemis tinha uma aversão incomum aos homens... Bem, a qualquer um do sexo masculino, ela também, contudo, tinha o carinho atípico que possuía pelo jovem afilhado, pelo primo/sobrinho, carinho esse tinha feito com as Ninfas.
Ele não conseguiria tirar o sorriso dela.
Uma das meninas parou, olhando para os lados, segurando o arco de forma mais segura do que as outras. Brian franziu a testa, a conhecia de algum lugar e a deusa percebeu, mordendo o lábio inferior.
-Lembra-se dela? – Silêncio. – Num canto escuro de sua mente, talvez, num dia de neve, frio, uma garotinha assustada e nos braços da mãe morta... Com fome, sozinha... Precisava de alguém.
-Teresa. – Seus lábios sussurraram, deixando a imagem da pequena menina de cabelos pretos dominar sua mente, o modo como se segurara nele e o jeito como se encolheu nos braços de Ártemis, quando o deixou... Algo dentro de si vibrou, pra ser mais exato, no lado esquerdo do peito, bombeando mais e mais sangue para as bochechas de Brian. Era sua Terry! – Teresa!
-Ela tem se saído muito bem, até melhor do que as mais antigas, eu não posso reclamar, claro, afinal é o mesmo treinamento para todas e... – Mas Brian não lhe deu ouvidos, descendo de onde estava para perto das meninas armadas, carregando a espada com cuidado e todo aquele ar de alegria lhe rejuvenesceu alguns poucos anos. – Hey, Brian, eu não sei se é uma... Oh, droga!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Filho da Morte (EM PAUSA)
FantastikBrian não era como os outros. Nunca foi. E o motivo disso envolvia o fato de que desde sua concepção, sua alma pertencia à escuridão. Uma madrugada insana.Uma morte prematura. Sangue. E um Deus dos Mortos furioso marcaram sua quase morte e nascimen...