Desaparecida entre os Sete Pecados

¨ Prólogo ¨

Dois meses depois de tudo...

"Há tantas c o i s a s por vir, e as pessoas p r e f e r e m se prender a algo que n u n c a existiu."

 O mundo pode ser facilmente dividido em hemisférios, através de muitas linhas diferentes. Quem me dera se fosse somente o mundo.

Minha vida, desde pequena, sempre foi dividida em longas linhas opostas, cada uma com uma condição e propósitos diferentes. Desde quando eu era apenas um sonho na cabeça dos meus pais, já possuía meu futuro traçado, meu caminho trilhado e minhas escolhas feitas. Essas linhas, por piores que tenham sido, acabaram me transformando em quem sou hoje.

Eu vivi e cresci em um mundo que eu achava conhecer e pertencer. Moldaram-me sem que eu percebesse, transformando meus sonhos em pesadelos. Criaram uma mulher que, no final da peça, acabou se afogando nas tantas mentiras que a rodeavam. Eu amei e confiei intensamente naqueles que acreditei serem os únicos verdadeiros ao meu redor. O que eu não sabia era que eles, todos aqueles que eu amava, ou apenas uma parte deles, eram capazes de tudo por dinheiro e poder.

Até matar?

A morte é algo insignificante perto do que podem fazer para obter o que almejam.

No decorrer de toda a minha história, eu pude perceber quem realmente era leal, e que o inimigo acabou virando aliado. Rodeada de holofotes, muitos me definem como a filha do grande poderoso Anjo dourado, outros como a Safira negra, mas há aqueles que dizem que sou a versão do pecado e luxúria. Eu sou o inferno para eles: Quente e tentadora.

Minha vida é tampada por uma máscara, sendo que no final ninguém sabe quem eu sou de verdade. Foram tantos anos vendo encenações, que me aperfeiçoei a cada uma delas. Por isso, me tornei melhor do que aqueles que acharam que eu não via nada.

Enrolada em um lençol de seda branca, analiso a bela cidade de Las Vegas pelas vidraças imensas a minha frente. Abro a extensa porta de vidro e caminho até o parapeito da sacada, e daqui de cima eu posso sentir a vibração dos carros trafegando lá em baixo nas ruas, eu posso ouvir o som dos pneus desgastados e até mesmo o buzinar dos taxistas impacientes, das risadas apaixonadas e animadas, eu posso ver as luzes vibrantes que se estendem por todos os lados, e ao longe, ouço o som dos fogos de artifícios ecoando pelo espaço maravilhoso e grandioso que é aqui.

Sinto o vento gelado da noite banhar meus cabelos desgrenhados, e minha pele se arrepia. Em uma noite, tudo mudou. Em um segundo, eu vi o que eu acreditava se tornar mentira, em frações de segundos. A partir daquele momento, traçaram um novo caminho ao qual eu tive que seguir. Mas como ironia do destino, algo deu errado. Colocaram o anjo frente a frente com a porta do inferno, travando uma batalha da qual apenas um sairia vivo.

Viro-me e analiso o corpo nu em cima da enorme cama. Seu corpo grande e cheio de músculos se encaixa perfeitamente neste lugar. Vejo apenas sua cintura tampada por um fino lençol de cetim negro, que realça sobre sua pele branca. Seus ombros largos estão erguidos acima da cabeça, enquanto seu peito sobe e desce lentamente, em uma batida frenética e calma, movendo o meu nome tatuado em seu peito.

Sinto meu coração se aquecer com essa visão. Eu desejo que nada daquilo retorne. Eu desejo que tudo não desapareça novamente. Eu desejo não poder desejar demais, e sofrer com a ilusão de nunca conseguir alcançar os meus desejos.

As luzes aqui nunca se apagam. As ruas sempre permanecem movimentadas, em todas as horas. Ainda me lembro de tudo o que vivi. Tudo o que me fizeram passar. Tudo o que vi e ouvi. Eles jogaram. Eles apostaram. Mas dessa vez o ganhador não sabe que o que lhe espera vai além de satisfação.

Entre essas ruas, há um jogo. Apenas um sai vencedor. Mas o prêmio é nada menos do que a dor.

A morte.

O sangue.

Sinto suas mãos deslizarem o fino lençol pelo meu corpo, arrancando-me suspiros baixos. Logo suas mãos descem pelo meu corpo, me torturando com seu toque. Sinto seus lábios em meu pescoço, deixando uma trilha de beijos molhados pela minha pele nua. Há apenas um lugar no mundo em que me sinto realmente segura: Aqui em seus braços.

— A cama é fria sem você. — ele sussurra em meu ouvido. Sorrio.

Entre todos os pecados apenas um é o mais perigoso.

E eu me arrisquei em cada um deles.

Eu sofri as consequências, mas também não tive escolhas. Abraçados eu observo as estrelas. E me pergunto como perdi tanto disso? E sempre chego à mesma resposta:

Entre os sete pecados, eu desapareci.

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Volto dia 14/10 com o primeiro capítulo.