Bandeira branca

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Ele derrama lágrimas sobre o passado sem palavras e sem nome.

É assim que você veio a mim mais uma vez.

Já era madrugada, mas não se sabia a hora exatamente. Estava tudo tão silencioso, tanto dentro, quanto fora da casa. A única coisa que destruía o silêncio era a água quente do chuveiro, que caia sobre os dois corpos juntos em um abraço naquele pequeno espaço em metros quadrados.

KyungSoo desenhava círculos tortos no vidro fosco do box, aproveitando o vapor da água quente do chuveiro, enquanto segurava os braços de Jong In, que abraçaram seus ombros. Ele se sentia confortável ali.

Jong In apoiava a cabeça no ombro macio do menor, como se aquele fosse seu ponto de descanso.

Os dois já estavam naquela posição há alguns minutos, e de vez em quando, KyungSoo reproduzia algum som melodioso em sua garganta depois que o silêncio se fazia presente mais uma vez, por mais alguns minutos.

– KyungSoo... – Jong In chamou o menor, sentindo este tremer com a voz tão próxima ao seu ouvido.

KyungSoo estava tão relaxado e calmo... Sentia que a qualquer momento poderia dormir ali com Jong In enquanto a água escorria pelos corpos de ambos.

– Hm?

Jong In suspirou, demorando alguns segundos antes de perguntar. Ele realmente estava em dúvida sobre o que iria dizer, ele não havia adiado aquilo, apenas demorou para que a pergunta viesse a sua mente. Às vezes a felicidade não deixa você pensar se deveria estar contente com o que está acontecendo ou só ainda mais confuso.

– Você... Sempre soube disso, que era eu? O tempo todo? – perguntou ele – Quero dizer... Você sabia que eu era o Kai, que eu era a outra criança?

KyungSoo sorriu um pouco, acariciando o braço de Jong In. Até então, ele se surpreendia com o nervosismo do maior. Era até mesmo estranho ver que Jong In era quem parecia pedir conforto e proteção naquela noite, naquele momento.

– Eu não sabia que era você – disse ele com simplicidade – Depois de te conhecer de novo, pensei que o Jong In, meu vizinho, tivesse vindo de um lugar muito distante daqui, apenas para me encontrar – ele acabou rindo pelo pensamento bobo que teve, mas não era culpa dele, afinal, KyungSoo não podia esperar algo muito bom em sua vida, a não ser o sucesso de venda de seus livros; e conhecer Jong In, mais uma vez, não pareceu ser real e nem para que acontecesse com ele – E às vezes eu acabava me perguntando enquanto estava sozinho: “Por que tive que esperar tanto tempo assim?", " Por que tudo não poderia ter acontecido antes?”. Mas você estava aqui o tempo todo, desde sempre. O problema foi que eu era medroso demais para tentar alguma coisa. Se eu soubesse que era você o Kai, nunca teria chegado perto. Era bem provável que eu nem morasse mais aqui, me mudaria para um apartamento pequeno, eu não seria mais o seu vizinho, porque eu teria medo.

– Devo me sentir feliz por você ter me esquecido?

– Nem as piores memórias podem ser apagadas, Jong In. Na verdade, elas podem ser consertadas, fazendo com que as boas fiquem por cima de tudo o que é ruim. Então, mesmo que elas ainda estejam ali, isso não vai te impedir de sorrir por um motivo maior, nem mesmo as lembranças ruins. 

Jong In sorrir e riu em seguida, virando o corpo do menor para que ficasse de frente para si.

– Quando você fala assim parece tão inteligente – disse ele.

– É o óbvio – KyungSoo sorriu de canto.

O maior pareceu sério de repente, encarando KyungSoo nos olhos por longos segundos em silêncio, como se quisesse ter certeza de alguma coisa.

18 HorasOnde histórias criam vida. Descubra agora