Encoraje-me

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Mesmo depois que a luz voltou a iluminar a casa, KyungSoo continuava a fitar os olhos de Jong In, que pareciam brilhar ainda mais na presença das luzes fluorescentes. A música também havia voltado a tocar, e KyungSoo já se sentia mais calmo enquanto ouvia a melodia.

– Tudo bem? – disse Jong In, soltando os ombros do garoto.

KyungSoo abaixou a cabeça e levou as mãos até o rosto, esfregando os olhos grandes e inchados, parecendo uma criança ao parar com o choro. De repente, a cama em que estava sentado pareceu mais confortável. 

– Esqueça o que aconteceu aqui – KyungSoo disse se ajeitando na cama coberta de lençóis brancos.

Jong In o olhou sem entender.

– O que?

– Eu já sofri o suficiente por causa desse meu medo idiota – KyungSoo reconhecia que era algo idiota o que sentia, mas não era a coisa mais fácil do mundo deixá-lo de lado – A última coisa que eu quero é escutar comentários da vizinhança.

KyungSoo o olhava sério, parecendo querer desafiá-lo a dizer alguma coisa sobre o ocorrido, mas Jong In ainda o encarava como um aluno encarra uma prova de matemática em que não se sabia nada sobre o assunto.

– Você... acha que eu vou contar para as pessoas o que aconteceu aqui?

– Por quê? Você vai...?!

– Mas é claro que não – KyungSoo chegava a se surpreender com a calma na voz de Jong In – Eu já acho uma sorte enorme os vizinhos não terem saído ou chamado a polícia pra ver o que estava acontecendo aqui.

KyungSoo imaginou se não fosse Jong In sentado ali olhando para ele, se fosse qualquer outra pessoa ela poderia estar rindo da sua cara e KyungSoo continuaria debaixo dos lençóis. Mas não havia riso, e Jong In o encarava como se estivesse debatendo um assunto sério, como se se conhecessem há muito tempo.

A vida inteira KyungSoo costumava ter problemas para se socializar com as pessoas. Ele tinha a impressão de que todos o olhavam de um jeito estranho, as vezes pelo tamanho excessivo de seus olhos escuros, ou pela sua altura relativamente baixa comparada as outras pessoas da mesma idade; por isso não seria surpresa alguma esperar uma reação desagradável de Jong In, sendo que ele sabia de coisas que KyungSoo nunca havia dito a ninguém, pelo menos não depois de tantos anos, e mesmo assim, o olhar de Jong In permanecia sério, e isso confundia KyungSoo.

– Por que você não ri disso?

– Não é engraçado, KyungSoo, nem uma piada – disse Jong In com a mesma calma na voz.

KyungSoo encolheu os ombros, ouvindo o que o maior dizia.

– Quando olho pra você não vejo apenas uma pessoa com medo, vejo uma pessoa apavorada com coisas que ninguém mais entende – a cabeça de Jong In trabalhava a mil enquanto falava – Eu queria poder entender isso, KyungSoo. Sei que existe um motivo, talvez seja... algum trauma...?

– Eu não estou doente! – o menor o interrompeu elevando a voz; não queria que Jong In continuasse.

– Eu não falei que está – disse Jong com a voz relaxada de novo – Mas eu notei seu desespero hoje, eu o ouvi gritar...

– Você viu alguma coisa? – KyungSoo perguntou já sabendo a resposta.

Jong In não respondeu no mesmo instante. Ele não sabia o que o menor via ou parecia ver, ele não podia sentir o que KyungSoo sentia no escuro.

– Não.

– Então você não pode entender aquilo, Jong In, mas eu não estou doente.

KyungSoo se levantou sentindo uma fisgada dolorosa na sola do pé enfaixado ao pisar no chão, mas ignorou, assim como ignorou também seu rosto se contorcer em uma expressão dolorida; ele apenas seguiu mancando até o banheiro, enquanto Jong In também se levantava e ia atrás dele. KyungSoo precisava ficar sentado.

18 HorasOnde histórias criam vida. Descubra agora