O Começo

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Quando eu tinha quinze anos de idade, era visto como um garoto fechado e odiava fazer amizades e morava em um orfanato chamado "Chris Life". Um dia resolvi fugir de lá, porém não foi bem sucedida, eles conseguiram me pegar a um quilômetro do orfanato em baixo de um latão de lixo azul, eu estava acabado. Após me pegarem, me levaram a um campo militar para jovens, não era muito longe do orfanato, mas seria difícil voltar para lá, e é aqui que a história começa...

Quando cheguei lá estranhei, era tudo diferente, talvez pelo fato de ser o mais novo garoto e o menos experiente daquele chiqueiro imundo. Andei lentamente rumo ao guarda que estava perto do portão e perguntei a ele:

– O que vocês fazem aqui?

Ele me olhou de uma maneira inexplicável e disse de maneira irônica:

– Nós mandamos e vocês pivetes obedecem, entendeu pirralho?

Sem entender o que aquelas palavras significavam, eu balancei a cabeça sinalizando que sim e no mesmo momento corri para dentro do campo militar. Olhando em volta pude notar que as crianças daquele local eram diferentes das crianças do orfanato, elas pareciam mais sérias e duronas. Não fiquei muito tempo parado e fui logo para meu dormitório. Mal sabia eu que lá existia uma gangue de adolescentes que governavam boa parte daquele aposento. Cheguei ao meu quarto e percebi que teria que dividir ele com dois inúteis: um parecia uma caveira desnutrida e o outro, um daqueles NERD's viciados em jogos de computador. Como não havia a opção de troca, optei por aceitar os dois idiotas. Mal entrei e o NERDZINHO veio me cumprimentar:

– Oi cara! Meu nome é George e o dele é Maycon - o garoto sorriu simpático apontando para o esqueleto ambulante, e complementou com a seguinte pergunta - e o seu nome, qual é?

Eu olhei dentro dos olhos dele e respondi de um jeito grosso:

– Se você não quiser que eu quebre seus dentes e o que você chama de rosto, é melhor me deixar quieto, está ouvindo? Você e esse saco de ossos me deixem em paz, entendeu?

Ambos balançaram a cabeça em um sinal afirmativo enquanto eu ia em direção a minha cama, não sei se eles aceitaram pela forma que falei ou se foi pelo meu físico que era um pouco acima do normal. Eu tinha 1,68 de altura e pesava 60 kg, tinha os olhos negros, mais escuros que a noite, meu cabelo preto que se destacava pelo brilho e em minha voz havia um tom de superioridade... Resumindo, esse era eu.

Enquanto eu estava quieto em meu lado do quarto, ouvi uma campainha, olhei para o ossudo e perguntei:

– Mas que porra é essa?

– Calma cara, esse é apenas um sinal indicando que a comida já está pronta e que podemos ir para o refeitório, pode me chamar de Mayck.

Olhei para ele com uma vontade de socar aquela cara até eu ouvir o coração explodir, mas como isso não poderia ocorrer naquele instante, me deitei novamente enquanto os dois iam para o refeitório do campo. Eu estava tranquilo e descansado, até aparecer um guarda gritando comigo:

– Ei moleque! Se você acha que alguém aqui vai trazer comida para você, pense duas vezes, levanta dessa merda e vamos logo seu...

Interrompi-o falando de um jeito irônico:

– Não vou sair daqui porque eu não quero, e se eu quisesse comida eu já teria ido, antes mesmo de estar pronto.

O guarda olhou para mim e começou a andar na minha direção, mencionou que eu era muito corajoso e idiota ao falar aquilo, e o que aconteceu? O filho da mãe me levou para uma sala escura e calada, sem nenhum barulho ou movimento, apelidei o lugar de caixão e fiquei nele por cerca de uma hora e meia. Quando abriram as portas, pude avistar a diretora e o guarda infeliz, a mulher me observou sentado no meio daquele lugar inabitável e perguntou:

– Garoto, qual é seu nome?

Apenas permaneci em silêncio, sem sucesso, ela persistiu na pergunta:

– Garoto qual é seu nome?

Eu olhei para o guarda e disse a ela:

– Eu te respondo essa pergunta se o filho da mãe for embora.

A diretora apenas olhou para o guarda e ele retirou-se do lugar, após a saída dele eu falei a ela:

– Olha como você deve saber eu sou novo aqui, fugi de um orfanato, mas não foi uma escolha muito inteligente, eu admito para a senhorita, mas estou nessa merda não é porque eu quero, entende?

Ela me olhou e começou a rir disfarçadamente completando com as seguintes palavras:

– Você me lembra uma pessoa que eu conheci há muito tempo atrás... Ele era muito durão para a idade, quantos anos você tem garoto?

– Quinze, mas qual motivo da pergunta?

– Ele tinha dezesseis quando eu conheci e...

– Olha não quero que você fique me comparando com alguém, é uma das piores coisas que podem ser cometidas – interrompi-a com um tom de voz grosso e superior.

Ela me olhou nos olhos e simplesmente me chamou para a sala dela, no caminho até lá pude notar que ela estava diferente, ao chegar à sala entrei lá meio assustado e confuso, mas não demonstrei, continuei olhando seriamente para frente.

Quando entrei, ela pediu para eu me sentar e trancafiou a porta, eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Ela veio andando lentamente para meu rumo e se aproximou de meu ouvido e disse:

– Está quente aqui, acho que vou tirar minha roupa. Eu rapidamente levantei da cadeira e andei em direção à porta, quando cheguei até a mesma ouvi risos, olhei para trás e a diretora estava dando gargalhadas. Fiquei sem saber qual o motivo daquilo tudo e perguntei a ela:

– Qual é a graça?

Ela não parava de rir e olhava para mim como se eu fosse um palhaço, no entanto se sentou e enxugou os olhos lacrimejados e disse:

– Você é divertido, deveria ter visto sua cara quando disse que estava calor, mas não te chamei aqui para rir da sua cara, e sim para entender o porquê daquela arrogância toda. Por que age como se fosse o homem que vai acabar com o mal do mundo, mas está fazendo o mal para as pessoas?

Naquele momento olhei para ela abaixei a cabeça com um sorriso irônico, olhei para ela, me levantei e bati as duas mãos na mesa dela e falei com um tom de voz não muito agradável para aquele momento:

– Olha aqui, acha que eu sou um herói? Acha que eu vou sair por aí dizendo que eu mando no mundo e sou o cara que vai acabar com o mal aqui na terra? Não estamos em um conto de fadas, aqui é a realidade, mas se fosse para eu mudar o mundo, primeiro eu teria que sair dessa merda, não acha?

– Sim! Concordo com você, mas acha que consegue viver no mundo lá fora sem a ajuda de alguém? Se você sair, serei obrigada a lhe achar e o prender por fuga, pois a única maneira de você sair daqui é fugindo, e até hoje ninguém conseguiu ir muito longe... Mas se você continuar aqui vai ter tudo o que quer - disse ela de um jeito que convenceria qualquer um, menos a mim.

Levantando-me, olhei para ela e disse:

– Boa sorte nas tentativas de me segurar aqui!

Sai da sala sem olhar para trás e fui aos meus "aposentos", no caminho me deparei com o guarda que me colocou naquela maldita sala, olhei bem no fundo dos olhos dele, mas não disse nada, ele não falou uma palavra e eu continuei seguindo em frente. Quando cheguei ao quarto, Maycon disse que ia ter uma prova de campo ao amanhecer e era melhor ir dormir cedo, já que exigia muita energia e disposição de quem participasse, resolvi ouvir e fui para a cama pensando em como iria sair daquele inferno.

O Lobo SolitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora