Eu não quero ser enterrado num cemitério de animais
Não quero viver minha vida outra vez
Pet Sematary - The RamonesCafé preto sem açúcar. A noite de hoje será longa e preciso me manter acordada. Eu sento no tapete da sala e descanso minha xícara em cima da mesa de centro, abro aleatoriamente um dos livros que estão espalhados pela mesa e leio uma frase: A lei da polaridade e do ritmo requer que todas as coisas sejam equilibradas por seus opostos. Nesses dias sagrados, os nossos ancestrais alinham-se psíquica e espiritualmente e equilibram-se no fluxo e refluxo da vida. Não sei o que isso quer dizer. São onze horas da noite e Délia acabou de subir para o sótão para preparar tudo, eu perguntei se ela queria ajuda, mas ela respondeu:
— Não! Obrigada, só fique aqui e não suba até eu chamar, e quando subir traga-o junto. Eu não vou carregar aquela coisa por aí, você o trouxe, então se vira.
Conheci Cordélia Parker há cinco meses. Quando ela começou na Broken Hill eu era apenas a garota tímida e excluída que não se encaixava em nenhum grupo, e ela, a nova queridinha da escola, popular, bonita, rica e desejada pelos garotos. Na hora do intervalo, eu estava sentada em minha mesa “particular” no canto da praça de alimentação olhando para o meu prato sem a mínima vontade de comer a comida da escola e desejando trocar de lanche com alguma das patricinhas, quando ela chegou e perguntou se poderia sentar comigo, eu tentei o meu melhor sorriso e respondi guturalmente que sim.
— Estou cansada da conversa fútil das líderes de torcida – ela arfa. E assim começou uma conversa sobre as garotas populares e a sua falta de massa cinzenta, depois disso Cordélia sentou-se comigo todos os dias e em pouco tempo já frequentávamos a casa uma da outra. Ela me mudou muito, para melhor, eu acho, me ensinou a me vestir no estilo que ela chama de "gatinha sexy extravagante", me ensinou a beber e até me arranjou um namorado (que foi um fracasso). Mas uns dois meses atrás, Délia me contou seu segredo, ela simplesmente me disse na escola, numa sexta-feira, que não poderia ir à festa na casa da Clarisse porque tinha algo mais importante para fazer, eu perguntei o quê e ela disse:
— É uma celebração importante para minha família, eu preciso ir, é uma noite mágica. – ela disse sem esboçar nenhuma reação. Eu, por outro lado, fiquei atarantada. A noite a que Délia se referia era, na verdade, um encontro de Bruxas.
— Não me olha assim, eu pensei que você já soubesse – ela me explicou algumas coisas, não muito, como por exemplo, sobre a deusa em que ela acredita, Hécate, e – Quando eu morrer, ela virá me buscar, ela me acolherá em seus braços e me levará embora.
Apesar de não acreditar muito, não pensei duas vezes quando Freddy morreu. Eu o levei para Délia. Foi há uma semana, fiquei desesperada e não sabia o que fazer. Imaginei que ela pudesse me ajudar. Me lembrei de ela ter falado algo sobre um livro que ela descobriu escondido entre as coisas da sua mãe, que era sobre como se comunicar com os mortos.
Quando eu apareci com Freddy no porta-malas do carro, Délia me mandou leva-lo imediatamente embora, mas depois de um tempo acabou cedendo as minhas súplicas. Nós tivemos que colocá-lo em um freezer antigo que o pai dela mantinha no porão.
— Só até o Halloween – disse Délia – se funcionar, ótimo, se não funcionar vamos enterrá-lo no quintal.
Ela é durona, mas sei que no fundo tem um bom coração. Ela sabia o quanto Freddy era importante para mim. Ele era minha única companhia além de Délia.
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Noite de Horror
HorrorAnna está desolada pela morte de seu melhor amigo. E quando ela e Cordélia fazem um feitiço de ressurreição na noite do Halloween, algo de errado acontece e suas vidas são colocadas em perigo. Em uma noite de horror elas terão que correr contra o te...