Acordo com Eric aproximando-se de mim com a faca na mão. Olho para Anna, ela se agarra a um lado do armário, tentando se arrastar para fora. A expressão de Eric é de fúria, tento me levantar, mas estou tonta, e desabo de novo.
— Eric, para! É uma ordem. – digo firmemente, erguendo a mão com a palma virada para ele, em sinal de stop! Ele para e me observa, um sinal de reconhecimento surge em sua face, sua expressão se torna menos severa e ele abaixa o braço, segurando a faca ao lado do corpo. Então o feitiço realmente funcionou, penso. Há algum tempo fiz um feitiço para Eric, não apenas para ele me amar, mas para ser o namorado ideal, realizando os meus desejos, cumprindo as minhas ordens, fazendo tudo por mim. Eu não tinha certeza da eficácia até esse momento.
Aproveito o fato de que Eric está sob controle eu me levanto, mantendo a mão erguida em direção a ele. Anna está livre do armário e se apoia na parede para ficar em pé, sua mão deixa um rastro vermelho na pintura branca. Tento contornar Eric para ir até ela, ele me acompanha com o olhar enquanto passo ao seu lado, minha mão continua erguida.
Chego perto de Anna e ela pergunta:
— Délia, você está bem?
— Corre – sussurro para ela, meneando a cabeça em direção da escada. Ela obedece e eu vou atrás dela, abaixando a mão.
Anna já está no topo da escada quando Eric sai do seu transe e me alcança, agarrando a minha perna e me puxando, ela olha para baixo e começa a descer.— Sai daqui! – eu grito — Foge e chama a polícia, Anna. Chama a polícia! Vai! – Ela olha para mim mais uma vez antes de desaparecer lá em cima, pavor perpassando por sua face.
Agito a minha perna e chuto, tentando me desvencilhar das mãos de Eric, mas ele é muito forte e me puxa para baixo, solta a minha perna e agarra meu cabelo quando tento fugir, me jogando para trás, então vem para cima de mim. Seu rosto encosta no meu e seus olhos vermelhos brilham quando ele enfia a faca em meu abdômen.
Por mais incrível que possa parecer, durante os longos segundos que a faca está dentro de mim, não sinto dor, é como se a lâmina preenchesse o espaço e minha carne se acomodasse a ela. Ele a puxa com força, e então dói, a dor tão intensa que me dá náuseas, eu caio de joelhos no chão, levando automaticamente as mãos até o abdômen, tentando tapar o buraco que a faca deixou, o sangue jorrando entre os meus dedos, impossível de conter como a correnteza de um rio, o meu próprio rio de sangue.
— Eric, por favor – minha boca treme, e eu olho para ele tentando encontrar algum sinal de piedade em seus olhos, mas não há nenhuma, ele penetra a faca em mim novamente, e de novo, e de novo, impossível contar enquanto grito de dor, e com o pouco de força que me restou tento pará-lo, colocando as mãos na frente, agarrando seu braço, cravando as unhas nele, mas a faca também penetra a minha mão, e eu olho desesperada enquanto ela perfura a palma até o outro lado, rompendo o dorso, bem perto do meu rosto.
***Já não sinto mais dor quando Eric termina. Ele se levanta e olha para mim, a baba que escorre da sua boca pinga no meu rosto, ele atira a faca e eu ouço nitidamente quando ela bate no chão ao meu lado, fico feliz por ainda ouvir bem, eu também ouço os passos dele indo embora, quando ele sobe, os degraus de madeira da escada rangem.
Minha mente está confusa, estou vomitando sangue, meu corpo treme e começo a sentir frio. Viro a cabeça, deixando o sangue escorrer da minha boca e observando o sangue que escorre dos buracos de faca misturando-se ao chão do porão, aos cacos de vidro, aos pelos do cachorro, juntando-se numa enorme poça, um rio de sangue que vai além do que eu posso ver, perdendo-se na escuridão que obstrui minha visão. Eric deve ter apagado a luz, penso, por isso está tão escuro aqui.
***
Então ela aparece, dispersando a escuridão com sua tocha, seu manto é escuro e etéreo, as estrelas de toda a galáxia parecem se acender e se apagar dentro dele, os compridos cabelos brancos afagam sua face antiga e luminosa, o cão preto a acompanha, ela deve tê-lo tirado do armário, “estou morrendo” digo para ela, “não me leve agora!” grito. “Hécate, por favor, não estou pronta”, mas ela parece não ouvir, deve ser por que minha boca está expelindo sangue, e qualquer voz dentro de mim já se calou para sempre agora. Ela se aproxima, sorri e estende a mão para mim, ergo minha mão e seguro a dela o mais firme que posso, ficando de pé, piso no sangue enquanto caminhamos para a escuridão.Olho para trás uma ultima vez, meu corpo jaz no chão, dilacerado, ainda sangrando. Um cão preto sobe a escada em direção à luz da cozinha.
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Noite de Horror
رعبAnna está desolada pela morte de seu melhor amigo. E quando ela e Cordélia fazem um feitiço de ressurreição na noite do Halloween, algo de errado acontece e suas vidas são colocadas em perigo. Em uma noite de horror elas terão que correr contra o te...