Eric

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— Freddy! Freddy! - ouço Anna chamar lá de cima, ela está devidamente equipada com um pedaço de carne encharcado com veneno para baratas, o único que Délia tinha em casa. Eu carrego um pesado taco de basebol e escolto Délia enquanto procuramos no porão, que ficou com a porta aberta quando eu e Anna fomos buscar o cachorro. Délia também tem seu próprio bife envenenado.

Decidimos que o melhor a fazer era matar o cachorro depois de Anna ter insistido que aquele não era o mesmo cão dócil e carinhoso de quem ela cuidara devotadamente desde filhote e Délia ter afirmado que definitivamente aquilo não era mais um cachorro.

— Você estava ciente dos riscos - ela respondeu quando Anna exigiu uma explicação, acusando-a de fazer um feitiço errado de propósito.
— Eu não tenho como saber o que aconteceu. Essa é a noite do Halloween, muitas coisas podem entrar no nosso mundo se alguém abrir um portal.

E agora estamos aqui, procurando o maldito cachorro, depois de tê-lo ressuscitado, com a intenção de matá-lo de volta. O plano é deixar que ele coma a carne envenenada, e quando ele estiver passando mal, quando começar a agonizar ou tiver desmaiado, eu chego e páh! Bato com o taco na cabeça dele, o golpe de misericórdia.

Depois de termos olhado cada canto do porão, sem sinal do cachorro, resolvemos voltar. Délia sobe e eu paro aos pés da escada, giro a cabeça observando pela última vez o porão antes de apertar o interruptor, a lâmpada apaga e começo a subir a escada, iluminada pela luz que vem da cozinha. No segundo degrau sinto um forte puxão na barra da minha calça jeans, caio de joelhos batendo forte contra a madeira, minha perna passa por um vão entre os degraus, ouço um rosnado e olho para baixo, um par de olhos vermelhos me encara, e eu penso: por que não olhamos embaixo da escada? Tento puxar minha perna de volta e acabo por içar o cachorro junto, seus dentes cravaram tão forte na minha calça que é impossível me livrar facilmente dele, seguro firme o taco de basebol e passo ele para baixo, batendo da melhor maneira que posso na cabeça do cachorro, na terceira vez o jeans cede e ele cai com o pedaço de calça na boca.

No desespero para me levantar e sair logo dali deixo o taco cair lá embaixo, o cachorro pula e agarra minha perna de novo, antes que eu possa traze-la de volta, mas dessa vez ele crava fundo os dentes na minha carne. A dor é excruciante, eu grito e puxo minha perna o mais forte que posso, sentindo a carne rasgando igual ao pedaço de jeans.

Délia desce apressada a escada e me ajuda a subir. Os olhos vermelhos desaparecem na escuridão lá embaixo.

Noite de HorrorOnde histórias criam vida. Descubra agora