Eric

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Estaciono silenciosamente no outro lado da rua onde Délia mora e observo a casa. A lua cheia faz a sombra da casa se projetar assustadoramente pelo gramado dos Parker, ao contrário das outras casas da rua, não tem nenhuma decoração de Halloween. Tudo está escuro, a não ser por uma fraca luz que perpassa as cortinas da janela da sala, provavelmente a luz da TV, piscando várias cores embaçadas.

Sei que não deveria estar aqui, Délia me disse que precisava de um tempo só para as meninas essa noite, festa do pijama ou algo do tipo. Mas, fala sério! Festa do pijama em véspera de Halloween? Délia disse que eu podia sair com os caras essa noite, que eu estava livre para fazer o quiser, desde que não a traísse. Tudo que ela quer é “paz na noite antes da grande noite”.

Amanhã ela vai me apresentar aos seus pais, e eu vou pedir a permissão do Sr. Parker para namorar com ela, apesar de já estarmos de rolo há cinco meses, “temos que assumir um relacionamento sério” ela disse “ou você pretende me enrolar a vida toda? Vamos namorar sério ou terminamos tudo aqui”. Eu fiquei sem saída.

Gosto muito da Délia, na verdade eu a amo, decidi suportar tudo por ela. Hoje comprei um anel de compromisso, é simples, banhado a prata, tem um brilhantezinho no meio, o que meu orçamento me permitiu comprar.

O negócio é que não estou a fim de passar a véspera de Halloween reunido com o time no cais. Os caras levam vodca com refrigerante (1/4 de vodca para 2l de Coca-Cola, misturados no pet), e ficam lá, bebendo, sentados no capô dos carros, jogando pedrinhas na água e observando os cargueiros. Isso poderia ser divertido há um tempo, mas eu simplesmente não consigo mais ficar longe da Délia. Acho até que ela jogou um feitiço em mim, é sério! Eu nunca gostei tanto de uma garota como gosto dela. Sei sobre essa história dela ser uma bruxa e tudo mais, mas não me importo, quer saber? Não me importaria se ela tivesse mesmo me enfeitiçado.

Tudo que quero é ter um pouco de diversão a dois, só eu e ela, preciso do seu toque, seus beijos, a maneira como se aninha em meus braços. Tenho certeza de que Anna não vai se importar se tiver que segurar um pouco de vela essa noite.
***

Pego minha máscara de Jason e o facão de plástico que usei no Halloween passado e desço do carro. Me aproximo silenciosamente pela grama, como faço quando os pais de Délia estão em casa, só que ao invés de jogar pedrinhas na janela do seu quarto, dou umas batidas no vidro da janela da sala e me abaixo. Vejo refletida na grama a sombra de alguém entreabrindo a cortina e virando a cabeça para olhar em todas as direções, espero até que tenha fechado a cortina e caminho para a varanda, toco a campainha e vou para a parte de trás da casa. Dou sorte, a porta da cozinha está destrancada como sempre.

Entro e chego à sala no momento em que Anna está lá fora, na varanda.

— Tem alguém aí? – ela pergunta. Aproveito e paro no lado da porta, o facão meneando na minha mão. Permaneço imóvel quando ela volta e dá de cara comigo. Ela grita e leva a mão à boca. A palidez de sua pele combinando com seu vestido preto.

— Buh! – digo tirando a máscara no momento em que Délia desce correndo as escadas.

— Você ficou louco? – Ela segura uma faca pequena de cabo preto, com uma meia lua prateada na base da lamina – Quer acabar a noite castrado?

— Quase me matou de susto – Anna diz recuperando o fôlego enquanto Délia segura seu ombro e acaricia suas costas. As duas estão vestidas como se fossem para uma festa de Halloween Hipster ou para o encontro anual de góticas suicidas, (nada de pijamas). Délia usa um vestido preto levemente justo, que ressalta seus quadris, cabelos amarrados em coque, seus lábios estão sexys em um tom de vermelho escuro, calça um coturno que parece de couro preto, com fivelas prateadas dos lados. Anna está pálida do susto, o que a deixa com um ar cadavérico. Eu só consigo rir da situação.

— Calma gatas! Onde está o espirito de Halloween? É dia das bruxas, dia de se fantasiar e dar sustos – digo, enfiando o facão pelo cós da calça.

— Ainda não é Halloween – Délia diz, aproximando-se de mim — só depois da meia noite. – ela passa seus braços ao redor do meu dorso e me beija forte. Arf! É o som que ela faz quando eu a aperto — E você não deveria estar aqui. Que parte do “hoje é a noite das garotas” você não entendeu?

Ela me encara severamente, ainda segurando a faca. Anna fecha a porta e volta a sentar no sofá.

— Eu estava com saudades.

— E os seus amigos? Hoje é a noite com os caras.

— Não estou afim, prefiro ficar aqui com você.

— Tudo bem, pode ficar, mas tenho coisas importantes para fazer essa noite, então acho melhor você não atrapalhar, senão... – Ela sacode a faca na frente do dedo, e dá um sorriso malicioso.

— Prometo não atrapalhar, quero continuar inteiro, só-para-você.

Damos um longo beijo antes de ela subir para terminar o que estava fazendo.

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